Foi melhor marcador da I Liga pelo Beira-Mar e tem uma ligação familiar ao Boavista, onde acabou a carreira e é diretor desde 2015. O amor ao clube é tal que recusou um convite tentador dos países árabes
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Chegou a Portugal em 1996 para jogar no União de Montemor, foi Bota de Ouro pelo Beira-Mar, recusou uma grande proposta do Benfica por amor ao Boavista, onde jogou nove épocas e acabou a carreira. Diretor desportivo do clube desde 2015, Fary diz que é "muito amado no Boavista e em Portugal".
"Todos me reconhecem como um filho desta casa, uma pessoa séria, que dá tudo pelo Boavista"
Num post do Facebook do clube, um sócio sugeriu que deveria estar na galeria dos heróis do Boavista. Considera-se um herói?
-Não há nenhum boavisteiro que não goste de mim. E não é só aqui. Recebo cartas de todos os sítios e digo, com sinceridade, Deus quis que fosse assim. Podia ter ido para outros clubes, mas preferi o Boavista. Todos me reconhecem como um filho desta casa, uma pessoa séria, que dá tudo pelo Boavista. E garanto: faço tudo o que a lei permitir para que o Boavista tenha uma vitória. Nunca farei uma coisa errada fora do futebol, respeito sempre os adversários. Quando os otros clubes me batem palmas, estão a aplaudir o Boavista.
Se fosse convidado por Benfica, FC Porto, Sporting ou por um clube europeu de topo, ponderava sair?
-No ano passado, um presidente disse-me que lhe tinham dito maravilhas de mim; respondi que ficava muito feliz, mas não ia. Mesmo que me desse muito dinheiro, não trocava o Boavista por esse clube da I Liga.
Recebeu outras propostas?
-Tive um convite dos países árabes no ano passado, com valores que não têm comparação com os que se pagam aqui em Portugal, conversei para saber o que era, mas nem fui lá. O dia de amanhã só Deus sabe, mas o meu sonho, como diretor desportivo, é ajudar esta Direção, este clube e esta equipa a levantar o Boavista, passo a passo, para voltar a ser o que era.
Voltar a ser o Boavistão do início do século...
-É o meu sonho pessoal. Sei que não vai ser de um dia para o outro ou daqui a um ano. Para tudo na vida é preciso tempo. O Boavista tem coisas para resolver, do passado, e quando as resolver tem todas as condições para estar onde esteve no passado.
"O meu sonho é ajudar esta Direção e esta equipa a levantar o Boavista para voltar a ser o que era"
Tem um papel importante no renascimento desse Boavistão?
-Não só eu. Há muita gente a trabalhar nesse sentido. Quando voltei, o clube estava na II Divisão B, acabei a carreira na I Liga e isso foi uma coisa que o antigo presidente me deu o prazer de concretizar. Todos os boavisteiros queriam que eu acabasse na I Liga. O antigo presidente e o atual, Vítor Murta, que já estava na Direção, disseram-me que ficaria no lugar que quisesse. Não há maior honra do que isso: todos quererem que fique no clube.
É fácil lidar com Vítor Murta?
-Sempre lidei bem com todos os presidentes. Vítor Murta pegou no clube numa altura muito complicada, está a pôr as contas todas em dia, a pagar algumas dívidas e a fazer tudo para que o Boavista volte a ser o Boavistão. Isso é de louvar e ele merece a ajuda de todos os boavisteiros. Temos de dar tudo o que podemos.
Qual é o seu sonho? Voltar às competições europeias?
-O meu sonho é jogar a Champions com o Boavista. Ficaria realizado se isso acontecesse. Quando dizia que o Boavista iria voltar à I Liga, ninguém acreditava e se isso voltasse a acontecer - Champions ou Liga Europa - seria um sonho para essa gente toda que ama este clube.
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"Indisciplina? Resolvo sem ninguém saber"
Fary dá "sempre" o exemplo de Cristiano Ronaldo aos jogadores para provar que não há sucesso sem trabalho e disciplina. "Aquele rapaz chegou onde chegou porque é bom, mas também pelo trabalho e pela seriedade. É isso que transmito aos jogadores que lidam comigo: profissionalismo, rigor e respeito pelo que fazem.
Se queremos ser profissionais da bola não podemos ter saídas à noite, só nas férias", defende, contando como lida quando surgem casos de indisciplina. "Resolvo as coisas sem ninguém saber. Em dez meses, há coisas que acontecem que não gostamos, mas temos de resolver com bom senso, firmeza e inteligência. Já apanhei alguns, porque no Boavista não dormimos. Conversei com eles a sós e nunca mais o fizeram. E, às vezes, a Direção faz de conta que não sabe", revela.