Famosos no ataque do Penafiel: "O Gabigol tem cabelo que não acaba, o nosso não tem"
Suker é apenas um dos avançados com nome de estrela no clube, numa constelação que envolve Robinho, André Silva, Firmino e Gabriel Barbosa. Equipa do Penafiel conta com naipe invejável de atacantes. Que até fundia gerações, não fossem ser outros, independentes, de história própria, avessos a comparações.
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A competir por uma campanha tranquila na Liga 2, o Penafiel tem estofo de sobra para incomodar qualquer adversário, sinalizar respeito, até por ser o clube decano da competição, com mais participações e mais jogos. Tem também, além das naturais ambições, nomes na frente que fazem tremer...ou deixar a suspirar os mais desinformados, um manancial de opções que coloca Hélder Cristóvão numa viagem pelas memórias de Suker e Robinho e pelos golos ainda atuais de André Silva, Gabriel Barbosa e Firmino. Sim, o Penafiel tem avançados de elite, mesmo que não sejam os que convocam o primeiro clamor do adepto comum. São reais, muito reais, importantes para os durienses, atrevidos e destemidos por carreiras de sucesso. Firmes na sua identidade, nem tinham, até hoje, parado para pensar que formam uma constelação, coabitam no desafio de serem agitadores e goleadores do Penafiel. Frente ao Santa Maria, na Taça, a vitória (3-0) teve a marca de Robinho (2) e Gabriel Barbosa. Contra o FC Porto B, Robinho e Firmino deram vida ao marcador.
Firmino é o mais experiente deste enredo, trocou a Arménia pelo Penafiel, trazendo na bagagem um título de campeão, logrado no Pyunik em 2021/22, passando ainda pelo Ararat. Troca-nos as voltas ao rasto do internacional brasileiro, notável em Liverpool, agora a fazer milhões e alguns golos na Arábia Saudita.
“Temos de criar a nossa identidade, no campo os nomes não jogam. Acho que nem tínhamos reparado na curiosidade. Posso ter amigos que falam e associam-me ao Firmino, mas nunca foi referência. Essa é só uma: Ronaldo Fenómeno”, atira convicto o avançado de 34 anos.
Arranque brusco seguido de passe preciso...a bola entra nos pés de Hélder, dança sobre dois rivais com uma morna na cabeça, e surpreende a plateia, pois na camisola tem Suker, e também na certidão de nascimento, mesmo sendo um filho de Cabo Verde. Aqui ficam realmente complicadas de decifrar as semelhanças com um dos heróis croatas da geração dos noventas, autor de seis golos no Mundial de 1998, onde a Croácia só cai nas meias-finais com a França. Suker, de 24 anos, nasce em 1999...o pai ainda delirava com os movimentos do avançado que trocaria, nessa altura, o Real Madrid pelo Arsenal.
“Foi ideia do meu pai, que adorava esse avançado croata. Fiquei curioso nos meus 15 ou 16 anos, perguntei-lhe, explicou-me e vi uns vídeos. Nessa pesquisa vi que era um grande jogador”, recorda, sorrindo ao lembrar as graçolas dos colegas nas escolas cabo-verdianas. “Era um pouco complicado, porque ninguém conhecia bem ou entendia a razão. Brincavam com o nome, metiam umas piadas, até me chamavam açúcar”, partilha o ex-1º Dezembro, abrindo espaço à gargalhada. O jogo é retomado e Suker manda uma bola longa para o poder aéreo de Gabriel Barbosa, que ainda tem tabelas a fazer com Robinho e André Silva.
Robinho, o mais próximo do modelo original
Abrindo a conversa a todos...surpreendidos por origens dos nomes...um exercício mais descontraído com uma identificação geral daquele que vai, realmente, buscar mais ao famoso homónimo. “É o Robinho pelo estilo e pela posição”, afirma Firmino, numa opinião que acolhe consenso sobre a estrela dos durienses, que vai procurando apurar números na finalização. E pelo meio as provocações. “A realidade é que temos um Suker croata, ele é cabo-verdiano. Não tem como se parecer. O Gabigol tem cabelo que não acaba, o nosso não tem. Eu posso dizer de mim a mesma coisa em relação...”, brinca Firmino.
Gabigol pegou em Curuzu
Brasileiro apanhou alcunha do homónino com golos no Paysandu, ao passo que Robinho foi batismo de Paco González. André Silva é guiado por estrela maior do que o internacional português, a atuar na Real Sociedad, pois é irmão de Jota, craque do Liverpool, conselheiro em cada etapa como futebolista.
Cara nova neste elenco, estreante em Portugal, mas com carreira já espremida em Itália, Coreia do Sul, Grécia e Albânia. E só 24 anos... Procura ser Gabigol no Penafiel. Imponente a ganhar a bola, no ar, do alto de 1,95 metros.
“Realmente, no Brasil é fácil as pessoas colocarem nomes de outros jogadores que são ídolos no país. Ele tem uma história grande no Flamengo, apesar da imagem na Europa estar mais abalada”, situa. “Gabriel foi escolha, Barbosa é de família, tudo normal. Mas, sim, já passei pela fase de Gabigol, quando jogava o estadual pelo Paysandu. Era o Gabigol da Curuzu, onde está o estádio. Ganhei ótima reputação no Pará”, documenta esta joia da formação do Palmeiras, fã em Portugal de Evanilson. “Fomos adversários muitas vezes nos jogos de base entre Palmeiras e Fluminense. É um grande artilheiro”, ressalva sobre o influente avançado portista.
Pedindo jogo, é Robinho quem recebe e rodopia na direção da baliza. Dono de maior moral com a camisola rubro-negra do Penafiel, o atacante faz a quarta época no clube com pinturas, algumas, que fazem lembrar o craque ex-Santos e Real Madrid.
“O nome partiu do meu primeiro treinador no Linda-A-Velha, o ex-jogador do FC Porto Paco González. Tinha 6 ou 7 anos. Era magrinho, cabelo rapado, fazia umas gracinhas que para a idade já eram umas grandes habilidades. Posso entender a alcunha, mas ele nunca foi a referência. Era mesmo o Ronaldinho”, apressa-se a desenhar mais um malabarismo, perpetuando a magia aos olhos dos adversários e colegas. “Acabou por ficar até hoje, poucos sabem que me chamo Ricardo Vieira. Destes aqui só deve saber o Firmino.” E Hugo até brinda o parceiro de potente louvor. “Pode escrever, ele tem requintes de Robinho!”, confessa, lançando em velocidade André Silva...
Aqui, o nome do internacional português mistura-se com uma referência maior para o extremo de 23 anos. André é irmão de Jota, do Liverpool, tendo acabado de dar um salto do CdP para a Liga 2, deixando o Gondomar. “A curiosidade maior com o André é que somos do mesmo concelho e ele é da mesma geração do meu irmão. Tive a oportunidade de o conhecer na formação do FC Porto e sempre o apreciei. Tenho de marcar presença com o meu nome e fazer a minha história. Era o passo a dar, estou num coletivo bom para me fazer sobressair. O meu irmão é importante nos conselhos e nas decisões que tomo”.