O JOGO conta-lhe como o FC Porto recuperou o avançado ao Benfica. José Tavares foi decisivo e Fábio recusou vários contratos oferecidos pelo rival com o sonho de jogar no Dragão.
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Se um dia Fábio Silva render ao FC Porto os milhões que João Félix rendeu ao Benfica, dir-se-á que as contas entre os rivais estarão saldadas.
Pinto da Costa já fez, a seu tempo, a devida comparação: é verdade que o FC Porto deixou escapar Félix, mas resgatou Fábio. No dia em que fez 17 anos, o avançado estreou-se como titular pelo FC Porto, dois dias depois marcou e garantiu a conquista da Taça Ibérica. Sobre o seu portismo já muito foi dito, até pelo próprio. Mas, e sobre o resgate? O JOGO conta-lhe como se desenrolou o processo, consumado a 3 de agosto de 2017, mas iniciado bem antes...
Importa começar pelo momento da saída. Que também tem que ver com Félix. Em 2015, o Benfica aproveitou um certo descontentamento de João Félix e do irmão de Fábio, Jorge Silva, para levar também para a Luz os irmãos de ambos, Hugo e Fábio. Os dragões, então pela voz de Pablo Sanz Iniesta e Paulo Noga, responsáveis máximos da formação, explicaram a Jorge Silva que, apesar de admirarem as suas qualidades, Diogo Leite e Diogo Queirós (são da mesma geração, 1999) é que seriam as apostas para a posição de defesa-central, pelo que não teria grande futuro de azul e branco vestido. O Benfica apareceu nessa altura e Jorge aceitou de imediato. Fábio era, e ainda é, muito ligado ao irmão e, apesar de inicialmente não querer sair do FC Porto, decidiu segui-lo, até porque também tinha o desejo de sair de casa do pais e morar no Seixal com o irmão. Nuno Gomes, tio por afinidade dos dois, foi decisivo neste processo. O antigo avançado tinha assumido o cargo de Armando Carneiro como diretor de formação do Benfica e "roubar" quatro jogadores ao rival era, desde logo, um excelente cartão de visita. Paulo Noga e Pablo Sanz não se mostraram preocupados com a perda. E Fábio seguiu...
A adaptação ao Seixal não foi, porém, tão boa como a de Jorge Silva. Fábio tinha apenas 13 anos e a família cedo notou que o jogador não estava completamente feliz e que se tinha arrependido da decisão. A saída foi sendo maturada, até porque nessa data o jogador só estava vinculado por uma ficha de inscrição modelo, cujos direitos expiravam a 30 de junho de 2017. A tristeza do jogador chegou aos ouvidos do novo coordenador da formação portista, José Ferreirinha Tavares. Foi este o primeiro a oficializar o desejo de um regresso. E foi ainda ele a assumir a pasta, com reuniões frequentes e a elaboração de um projeto desportivo individual para o jogador, processo no qual a SAD também interveio. Essa era uma condição importante para a família e para quem gere a carreira do jogador. Para os dragões esse nunca foi um problema. A reformulação da formação estava em marcha, elaborada sobretudo por José Tavares, e Fábio seria a bandeira da mesma. O projeto incluía o contrato de formação normal, o contrato profissional logo a seguir e a integração em equipas superiores que estimulassem o desenvolvimento e a evolução do jogador, tal e qual como está a acontecer.
O jogador ficou muito entusiasmado e nunca mais quis ouvir qualquer proposta do Benfica. Voltar ao FC Porto era tudo o que queria, até porque o sonho de sempre fora o de jogar no Dragão, onde tantas vezes assistiu a jogos no meio dos SuperDragões. O avançado duvidou que os portistas avançassem nesse sentido, depois deste ter trocado o Olival pelo Seixal, dois anos antes. Mas José Tavares e a restante estrutura esforçaram-se para o fazer perceber que isso não seria uma condicionante. Entre janeiro e junho de 2017, os encarnados apresentaram inúmeras propostas ao avançado. Várias, todas crescentes, e com excelentes condições financeiras. Aos 15 anos, a perceção de que Fábio poderia ser uma estrela já era grande e motivou um duelo entre os rivais que pendeu sempre para o FC Porto, porque a decisão do avançado estava tomada. A 3 de agosto de 2017, o regresso foi oficializado e o resto da história é a que se conhece. Resta dizer que o FC Porto nada pagou pelo resgaste ao Benfica, a não ser a compensação obrigatória, de alguns milhares de euros, por altura da assinatura do primeiro contrato profissional do jogador.
Exigência de Conceição agrada
Fábio Silva foi chamado pela primeira vez a um treino da equipa principal a 17 de novembro de 2018. O avançado regressou a casa encantado com a exigência encontrada e percebeu que seria nessa intensidade que poderia crescer. Agora, a tempo inteiro, nada mudou e o miúdo acha que Sérgio Conceição só o pode ajudar a crescer. Nesse capítulo, o treinador tem sido fundamental pelos conselhos, pelas reprimendas e até pelas brincadeiras. Anteontem, foi dos que mais brincaram com ele a propósito do momento de glória e até dos prémios recebidos.
Barcelona e City foram recusados
Gigantes queriam pagar a cláusula de 10 milhões, mas não o convenceram
Desde o dia em que assinou pelo FC Porto que Fábio Silva definiu que cumpriria no Olival toda a formação e se estrearia pela equipa principal no Dragão. Entrar no estádio de que mais gosta e ser aplaudido por 50 mil adeptos é o sonho desde que se conhece e até está em vias de se concretizar no próximo sábado, dia de apresentação dos dragões aos sócios em jogo contra o Mónaco. Marcar, ser importante e conquistar títulos são os passos que se seguem e o avançado não pretende deixar o FC Porto sem o conseguir. Foi por isso que, em conjunto com o pai [o campeão pelo Boavista Jorge Silva] e a empresa que gere a sua carreira, recusou mudar-se para Barcelona e Manchester City, clubes que há um ano se mostraram na disponibilidade de pagar os 10 milhões de euros da cláusula de rescisão. A primeira questão foi outra vez o coração e o objetivo principal que traçou para a carreira: ganhar pelo FC Porto e ser uma referência. A segunda a levantar-se foi acerca do projeto desportivo. Nos dragões estava programado que o avançado queimasse algumas etapas e competisse num escalão acima. Barcelona e City não lhe garantiam mais do que os Sub-17, escalão ao qual ainda pertencia. A renovação de contrato com o FC Porto até 2022 e a subida da cláusula de rescisão para um pouco acima de 25 milhões de euros deixa-o mais seguro no clube, mas aparentemente os azuis e brancos não têm que se preocupar para já.
Dedicatória a Soares tem explicação
Avançados criaram uma ligação forte e Tiquinho é um dos que mais dicas lhe dá. Até no futevólei fazem dupla
Soares foi, entre os jogadores da equipa principal, aquele que maior empatia criou no imediato com Fábio Silva. Os brasileiros Alex Telles e Otávio, ou o mexicano Corona, também se esforçaram bastante para acelerar a integração do benjamim do grupo, mas a química com Tiquinho foi imediata. O avançado é um dos que mais conselhos lhe dá e os dois têm feito vários exercícios de finalização juntos. As dicas têm sido absorvidas pelo jovem e este fez questão de lhe dedicar o prémio de melhor jogador da final da Copa Ibérica, disputada contra o Geatfe. "Muito obrigado por tudo. Este prémio também é teu, irmão", escreveu no Instagram, a acompanhar uma foto da dupla com um largo sorriso. A propósito, a ligação ficou tão forte, que quando Sérgio Conceição promove jogos de futevólei, os dois já ficam sempre juntos.
Almoço com a família para ouvir
O FC Porto concedeu folga durante a tarde de ontem ao plantel, pelo que muitos jogadores estiveram com familiares e amigos que se encontram no Algarve a gozar férias. Fábio Silva foi um dos que aproveitou esse tempo para ir almoçar com a família e passar a tarde com o pai, a mãe e a irmã, que estão de férias em Vilamoura, que se situa a sensivelmente uma hora de carro de Lagos, onde os azuis e brancos se encontram está instalados. A conversa terá sido aproveitada para os pais puxarem o avançado à terra, depois de um dia verdadeiramente inesquecível para o petiz.
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