Ex-Feyenoord André Bahia procura sucesso em Caminha: "Estamos a estruturar todos os departamentos"
Atlético de Caminha regressou ao futebol sénior e comemorou subida, com direção desportiva de antigo craque do Feyenoord. Durante 13 anos, o futebol sénior andou arredado num concelho mais pródigo em lançar campeões de canoagem. Regresso cheio de estilo com investimento nipo-brasileiro.
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Um projeto ambicioso fez regressar o futebol sénior a Caminha, um dos municípios nortenhos que encanta inúmeros visitantes pelo seu esplendor à beira Minho. Sem grande fama futebolística, mas com um recinto muito bem equipado, o Morber, o Atlético Clube de Caminha deliciou os seus adeptos, alcançando uma subida da segunda à primeira Divisão da AF Viana do Castelo no primeiro ano de atividade. O presidente Otávio Costa viu a chance de reabrir portas ao futebol sénior, agarrando um investidor nipo-brasileiro do ramo da mineralogia, ficando o paulista Alberto Maeda como rosto da SDQ (Sociedade por quotas). Contratação calejada e de gabarito para a direção-desportiva foi a de André Bahia, antigo central, internacional jovem pelo Brasil, que passou várias épocas na Europa, ao serviço do Feyenoord, após ter começado no Flamengo.
"Depois de encerrar a carreira em 2018, no Japão, voltei ao Rio, fiquei três anos, mas a minha readaptação familiar não foi boa. Voltei à Europa e decidi que tentaria a Holanda ou Portugal. A minha esposa tinha familiares na ilha da Madeira e esse lado pesou, bem como a língua, a culinária, o clima, pensando nos nossos três filhos", justifica André. "Viemos para sentir o país, só tinha estado cá para defrontar o Benfica e o Sporting. Mas tinha experiências boas de amigos. Era um ano para avaliar e já lá vão três muito bons. Estamos muito contentes em Braga, sem pensar no retorno", vinca.
"O Atlético de Caminha surge na minha vida por conta de um amigo de Braga que me apresentou o Alberto Maeda. Ele já tinha criado um clube em Braga, depois tentou em Ponte de Lima e veio para Caminha para impor um projeto mais profissional. É uma gestão dos séniores, pensando em chegar ao Campeonato de Portugal. Estou como diretor-desportivo, tenho aprendido a cada dia, muito feliz pela confiança de cima. Fomos campeões, conseguimos a subida e queremos chegar ao CdP e potencializar jovens com talento", desvenda André Bahia, sorvendo os tesouros de Caminha e fazendo fé numa mobilização do concelho, mais dado a desportos náuticos, em prol do futebol. "O futebol não é o ponto forte da cidade, mas estamos a trabalhar para os adeptos e para a comunidade. Estamos a tentar lançar as bases deste sonho de crescermos juntos", conta. "Temos quatro treinos por semana, sempre de manhã, há um diferencial para outros clubes, até porque temos pequenos-almoços no clube. Estamos a estruturar todos os departamentos", atira, validando a qualificação dos recursos e a visão empreendida. "Temos grandes profissionais envolvidos e muita ambição, partilhada pelo nosso treinador, o David Cruz. Há muita juventude promissora, vários jogadores que podem chegar a outro nível de competição. Eu sinto-me a crescer, estou a fazer todos os cursos necessários", argumenta André, que vê a equipa em bom plano, já com duas vitórias no arranque do campeonato.
O potencial brasileiro vai chegando a Caminha. "É uma sensação muito boa estar aqui. Falo por mim e pelos atletas. Para os brasileiros é uma adaptação fácil, não há dificuldade, é um povo muito acolhedor. Chegam e valorizam-se, sentem que podem criar história e pensar em voos mais altos. É uma grande janela para trilharem um bom percurso."
Outra sintonia em Caminha vem do Japão. "Eu sou muito dado à cultura japonesa, foi uma felicidade jogar lá quatro anos, onde encerrei a carreira. Dentro deste projeto há muito esse lado, o nosso presidente é descendente nipónico e trabalhou mais de 20 anos no Kawasaki Frontale, e a nossa vice-presidente é japonesa."
Rasto de amigos em Portugal
O diretor-desportivo do Atlético de Caminha recorda muitos compatriotas e amigos que brilharam no futebol português. "O Júlio Cesar, o melhor guarda-redes com quem joguei. Era incrível. O Liedson, outra grande figura que defrontei quando estava no Sporting. O levezinho era muito difícil de marcar. Comecei a jogar com o Ibson no Flamengo, tínhamos 11 anos, fez carreira belíssima, chegando ao FC Porto. Também joguei com o Carlos Alberto nas seleções de base do Brasil. Um jovem de qualidade brutal, que conciliava força com técnica e velocidade. E ainda encontrei o Diego, o Luisão e o Gilberto."
"Literalmente vem jogar a minha casa"
André Bahia bafejado pela visita do clube que lhe marcou a carreira na Europa
Com 205 jogos pelo Feyenoord, André Bahia granjeia fortíssima reputação em Roterdão. O antigo central atuou no mítico De Kuip de 2004 a 2011, mas conquistando apenas uma Taça, cotando-se como indiscutível. Bahia saboreia este feliz cruzamento dos neerlandeses com o Braga. "É curioso, eu moro muito perto do estádio do Feyenoord. Literalmente vem jogar a minha casa. Fiquei feliz que tenha saído esse confronto. Já tinha ido a Lisboa ver o Benfica-Feyenoord na última época. Agora vou estar novamente presente, não podia ser de outro modo. Tenho portas abertas cada vez que vou lá, vai ser saboroso rever o Feyenoord", evidencia, identificando o estado do clube. "Entrou nesta época com excelentes contratações, 12 ou 13 chegaram, porque muitos saíram, fizeram-se vendas importantes, como o David Hancko para o Atlético de Madrid e o Igor Paixão para o Marselha. Mas segue o treinador, o Van Persie, que conhece muito bem o clube. Estamos a ver um excelente início de temporada e acredito que vamos ter um grande jogo", relata André Bahia.
"O Braga tem um novo treinador, uma ideia de jogo em construção que agrada bastante. Há também uma certa reconstrução, porque entraram jogadores. Mas vejo um treinador capacitado e uma equipa que ainda vai lutar pelos lugares de cima na liga. Também me parece que perderam algo com a saída do Roger, um talento incrível", frisa Bahia. E ainda ressalta, com visão de central, a contratação falhada de Niakaté no início da época. "Andou na mira, porque procuravam alguém para colmatar a perda do Hancko. O Feyenoord queria um central esquerdino e olhou bem para o Niakaté, que carrega épocas sólidas. Seria uma boa opção."
Dupla inesquecível
Seedorf e Adriano foram os jogadores mais especiais que encontrou, ambos no Brasil
Bahia realizou o sonho, chegando aos 11 anos ao Flamengo, o seu clube "de criança". "Permaneci dez anos, estreei-me como sénior com 17 e pisei o Maracanã. Não podia ter desejado mais", conta sobre o início de carreira, seguindo-se uma vida próspera no Feyenoord, onde acabou como capitão. "Cresci imenso, construiu a minha carreira. Somaram-se histórias em sete anos. Estou marcado pelo país, pelas pessoas e pelo clube", constata, elegendo os companheiros que o deslumbraram. "Começo pelo Seedorf, no meu regresso ao Brasil, pelo Botafogo, muito diferenciado, de alto nível, mentalidade vencedora, queria participar em tudo. Cresci com o Adriano, vi-o jogar em todas as posições."