Eustáquio: "Comecei a fazer batota e não devia, foi onde surgiu a chamada de atenção do míster..."
Declarações de Stephen Eustáquio, médio luso-canadiano do FC Porto, em longa entrevista concedida à Sport TV
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Nascer num país onde o hóquei no gelo é rei, mas mostrar cedo um jeito inato para o futebol: "Os meus pais emigraram para o Canadá. Já estava lá a família toda da minha mãe e, para o meu pai casar com ela, ele teve de fazer esse esforço. Estiveram lá 10 anos e foi onde eu nasci. O meu pai foi jogador de futebol amador, tenho um irmão quatro anos mais velho do que eu. Sempre jogámos futebol e foi por aí. Nunca ligámos muito ao basquetebol, ao hóquei no gelo... Mesmo em casa falávamos sempre português e não inglês. As nossas raízes estiveram sempre integradas na família.
Nunca experimentou hóquei no gelo? "Experimentei, mas correu mal logo desde o início. Futebol a cem por cento."
Representou Leixões, Chaves e Paços e depois há um salto para o México, que obrigou a dar um passo atrás. Acabou por ser bom não ficar por ali? "Sim, claro. Neste momento estou no maior de Portugal. Não mudava nada no meu passado. Essa transição para o Cruz Azul... Eu estava no Chaves, a nossa época também não estava a correr da melhor forma e estávamos em último ou penúltimo. Sentia na pré-época anterior, com o Luís Castro, que estava pronto para um novo desafio, num clube maior, com mais pressão. Infelizmente, em Portugal não houve essa oportunidade, mas houve no Cruz Azul, um grande clube no México. Decidi arriscar, para experimentar o que é estar num grande, com milhares e milhares de adeptos. Por causa da lesão que tive no joelho não pude aproveitar da melhor forma, mas deu para sentir o ambiente de clube grande, de exigência máxima de ganhar sempre. Acredito que isso facilitou a minha adaptação ao FC Porto, onde a exigência é ainda maior."
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Na primeira meia época no FC Porto não jogou muito, mas foi campeão. Na segunda foi mais vezes opção, mas não campeão. É um misto de sensações? "Um jogador, quando entra numa equipa, não pode ter o ego muito grande e pensar que só ajudou porque jogou os jogos todos. Acredito que tive um papel determinante naqueles seis meses, porque se não treinasse tão bem, talvez o Vitinha ou o Marko não tivessem atingido o nível que atingiram. Por isso, de certa forma fui importante naquele ano e cheguei a entrar em vários jogos. No ano seguinte, com mais minutos e números, ficámos dois passos atrás, mas ganhámos as taças e acredito que me falta carimbar uma boa época, com bons números, sendo campeão."
FC Porto ganhou três troféus. Foi uma boa época, mesmo sem o campeonato? "É um pau de dois bicos. No FC Porto, apesar de termos ganho a final da Taça de Portugal, ficámos com a sensação de que podíamos ter dado um bocadinho mais no campeonato, que seria suficiente para sermos campeões. A exigência é muito grande, só nos contentamos com todos os títulos e, logicamente, o campeonato é o primeiro objetivo. Posso dizer que foi uma época boa, por termos ganho os outros títulos todos, mas não uma época em cheio, como queremos este ano."
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Como se explica a temporada com sete golos e duas assistências, superando a soma dos anos anteriores? "Nas divisões inferiores sempre fui um médio-defensivo, um número seis. Cinquenta ou 60 por cento das vezes não tínhamos bola, estava sempre mais preocupado com o equilíbrio da equipa. Quando assim é, em clubes que não são tão grandes e não têm tanto caudal ofensivo, acabas por criar menos oportunidades. Jogando a 6, mais difícil é. No FC Porto, o míster viu que tinha capacidade física e técnica para jogar mais à frente. Jogando no FC Porto, uma equipa muito ofensiva, estamos mais perto da baliza e ele também me motivava para chegar à área, porque de certeza que tinha visto que tenho qualidade para finalizar. Foi mais por aí, aproveitar as oportunidades. Felizmente enho colegas de equipa que me conseguem pôr nas melhores situações possíveis para fazer golo e assim foi. Até janeiro fiz sete golos e marcar é espetacular."
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Sérgio Conceição chegou a dizer que o Stephen tinha demasiada chegada à área: "Sim, tenho a certeza que muitos avançados dizem que marcar é viciante e eu tive uma sequência, depois de Brugge, em que marcava ou assistia, parecia que tudo era fácil e, entre aspas, comecei a fazer batota e não devia. Comecei a colocar-me em posições mais avançadas quando a equipa precisava de outra coisa e comecei a perder esse equilíbrio que tinha no início, a ajudar a equipa. Aí foi onde surgiu a chamada de atenção do míster, que aceitei de bom grado, claro. Não queria estar a pensar constantemente em estar na área para marcar ou assistir, mas sim em ajudar a equipa. As oportunidades iriam surgir durante o jogo. Foi uma coisa normal que senti."