Eustáquio aborda a morte da mãe e o "respeito" de Conceição: "Quando veio falar comigo..."
Declarações de Stephen Eustáquio, médio luso-canadiano do FC Porto, em longa entrevista concedida à Sport TV
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A nível familiar, recebeu uma das piores notícias [falecimento da mãe] no final do jogo com o Santa Clara. Como se lida com tudo isso? "É uma má notícia, quem já passou por isso sabe o que é. Quem não passou, ainda bem. Mas, no caso da minha mãe, nós soubemos que ela estava doente na semana do jogo com o Rio Ave, fora e, na semana a seguir, sou titular com o Gil Vicente e é aí que começo a jogar mais regularmente, é quando acontece tudo. A verdade é que sempre tive esse problema em casa, por isso, mesmo na fase da Champions, no Mundial, ao qual a minha mãe já não conseguiu assistir ao vivo, sempre treinei e joguei. Nunca quis pôr este problema na equipa, não desabafei muito. Desabafei com quem tinha de desabafar, que era com o Dr. Nélson Puga e com o míster. A verdade é que todos nós, e falo da família, já estávamos numa guerra que não conseguíramos ganhar. Quando recebi a notícia, senti que ela estava melhor onde estava do que a sofrer. Foi um alívio, mas tenho muita pena, como é óbvio. Amo a minha mãe mais do que ninguém, mas há momentos em que temos de dizer adeus."
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Quando Sérgio Conceição recebeu a notícia, tirou-o do jogo. Como é olhar para trás e perceber que houve esse sentimento de respeito? "Não sei se foi por isso, também pode ter sido por estratégia, não sabemos... O respeito deu-se no fim, quando ele veio falar comigo. No estádio, se houvesse pessoa pela qual queria saber era pelo míster. Foi assim que aconteceu. Quando cheguei ao balneário, a Constança, minha namorada, estava lá, a Dra. Matilde também, o presidente também... Deram-me a notícia e foi assim que as coisas se desenrolaram. Não mudava nada, há uma imagem no final do jogo, em que fizemos a rodinha e ficou em forma de coração. Depois, à noite, a Constança perguntou-me se o coração foi feito para mim e eu disse-lhe que não, porque ainda não sabíamos. Há coisas que não se explicam. Essa roda, nesse jogo, quando a minha mãe partiu, é mais uma coisa para recordar."
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Houve vários adversários com palavras de conforto para consigo. O Ricardo Esgaio esteve presente na homenagem... Sentiu-se envolvido numa bolha de amor num mundo competitivo? "Sim. Eu valorizo mais isso do que ser um bom jogador. Quando senti esse amor, do Ricardo, meu amigo de infância, lembro-me de ver dois dias depois que a Sport TV tinha partilhado uma publicação comigo e o Ricardo Horta... Vários jogadores e treinadores mandaram mensagem, na I Liga e no estrangeiro... É isso que fica."
Sente que a sua mãe está orgulhosa do percurso do menino que começou no Nazarenos mas já foi campeão e jogou um Mundial? "Sem dúvida. Até hoje a minha mãe está a ver os jogos e os treinos todos, tenho a certeza. Mesmo quando estava cá connosco ia ver os jogos todos. Ela agarrava no carro e ia para o Porto, mesmo quando jogava no Chaves, em que eram quase 3h30 de viagem, ela ia sozinha, porque o meu pai trabalha fora, e nunca falhou. Mesmo quando eu era jovem, ela levava-me a todos os treinos e jogos. Mais do que ninguém, ela é a maior razão para estar onde estou. Senti que nesse jogo com o Santa Clara, em que ela tinha acabado de falecer, depois fomos a Paços de Ferreira, onde joguei e de quem gosto muito, e senti que era o momento ideal para lhe fazer uma homenagem e para agradecer a toda a gente. Sei que ela viu aquele jogo e gostou do gesto."