ENTREVISTA - Em conversa telefónica com O JOGO, Filipe Soares Franco, presidente do Sporting entre 2006 e 2009, congratula-se pela entrada de uma importante fonte de receitas no Sporting, resultante do apuramento para os oitavos de final da Champions. Rúben Amorim merece fortes aplausos da sua parte, assim como Frederico Varandas, responsável pela arrojada contratação.
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De forma geral, que importância atribui a este apuramento do Sporting?
-Em variadas vertentes, mas em primeiro lugar na vertente na desportiva, porque catapulta o Sporting para outra fase. Se já era importante estar na fase de grupos, ainda mais importante é ter passado. Na vertente desportiva é muito importante, significa que o Sporting vai estar de novo entre os melhores da Europa. Em segundo lugar, é importante na vertente financeira, porque o Sporting já garantiu 45 milhões na Champions, o que não acontecia há muito tempo.
Mais 10 ou 12 milhões se passar...
-Importante é ver o que já tem, e não tinha nem há um, nem há dois, nem há três anos. Há muitos anos que o Sporting não tinha um encaixe desta dimensão. Uma receita extraordinária, e digo extraordinária porque é fora das ordinárias, tendo em conta todo este tempo em que não a tinha. Há ainda a importância da demonstração do bom trabalho deste conselho diretivo, do que a administração da SAD tem feito, nomeadamente das opções que tem tomado nos últimos tempos, o que dá garantia aos sócios de alguma estabilidade. O clube precisa dessa estabilidade e está provado que estes dirigentes, o trabalho que têm feito minuciosamente nestes últimos três anos, têm conseguido recuperar o Sporting, dar-lhe outra imagem em termos de entidade desportiva, com mais credibilidade e com maior dimensão, há esse mérito que tem que ser ressalvado.
Aplaude Varandas ou há algum reparo que lhe possa fazer?
-Não tenho mesmo nenhum reparo a fazer. Quando estamos na linha da frente e temos que tomar decisões, umas vezes tomamos boas decisões e noutras não acertamos tanto, mas isso não invalida que o trabalho global não seja totalmente positivo. E como não conheço ao pormenor a gestão quotidiana do Sporting, nem essa crítica lhe posso fazer. Não discordo de nada, até agora de absolutamente nada.
Aposta no treinador está totalmente ganha?
-Não só está ganha, como está totalmente paga. Aplaudo essa decisão, que foi arriscada, na altura em que foi, com os recursos que o Sporting tinha e com o crédito que o Rúben Amorim tinha, foi uma decisão arriscada, mas que valeu a pena.
Se o Amorim sair de um momento para o outro há risco do projeto desmoronar como um castelo de cartas...
-Não acredito que se vá embora do pé para a mão. Ele também tem um projeto no Sporting , ele gosta do projeto que está a fazer, esse projeto que lhe dá credibilidade, credibilidade profissional em termos nacionais e internacionais, acho que tem todas as vantagens em consolidar este projeto, para provar que é capaz de o realizar até ao fim. Ele só tem sucesso há um ano e pouco, isso de se embandeirar em arco com sucesso há pouco tempo, para a carreira internacional de um treinador, é curto, ele tem consciência disso e portanto ele quer provar a todos, interna e externamente, de que é capaz de conceber, idealizar e desenvolver um projeto sólido. E nesse sentido creio que vai implicar mais algum tempo até que ele possa sair.
Ainda é cedo para dar o passo de risco?
-Quem tem que saber é ele, mas essa é a consideração que faço. É importante para o Sporting que o Rúben Amorim fique e para o Rúben Amorim também é importante que ele consolide e se envolva e ganhe este projeto que o Sporting fez ao acreditar nele e ao contratá-lo.
Finanças, temos 45 milhões, mais o market pool, imaginemos 50 ou 60 se passar. Que reflexos imediatos? Que problemas financeiros podem ficar resolvidos?
-Não sei responder, porque não estou a par da atual situação económico-financeira do Sporting. Sei que, obviamente, ter 45 milhões de receita é com certeza um bom colchão para enfrentar os problemas que o Sporting possa ter pela frente.
Que problemas?
-Qualquer clube português tem que se capitalizar. Os clubes portugueses não estão capitalizados e obviamente estas receitas que se conseguem na Europa de 45, 50 ou 60 M são muito importantes e significativas no sentido das SAD em Portugal consolidarem os seus balanços e criarem mais capitais próprios. Isso é fundamental.
Este dinheiro vai dar para o Sporting respirar tranquilamente durante quanto tempo?
-Não sei porque não estou por dentro da situação económico-financeira do Sporting. Nem do balanço. Mas obviamente que é uma ajuda, isso é de certeza absoluta. Agora, a dimensão da ajuda não lhe sei responder.
E em termos de patrocínios e outros acordos, que dinheiro pode esta verba alavancar?
-Depende dos contratos que o Sporting tem celebrados com os seus patrocinadores. Se tiver por objetivos, cada etapa que o Sporting passa na Champions valoriza a marca e valoriza o patrocínio, eventualmente pode implicar que o Sporting receba ainda mais dinheiro.
A verba pode implicar um investimento no plantel já em janeiro?
-Pelo que sei, o que o Rúben Amorim pediu foi no sentido de ficar com este plantel até ao fim da época. E este reforço de capital, eventualmente, já vai permitir que o Sporting segure os jogadores até ao fim da época. Foi isso que ele pediu, ele não pediu mais jogadores.
Não lhe parece curto para a Champions e provas internas?
-Nós só podemos gastar aquilo que temos, não podemos gastar aquilo que não temos. Lá porque o Sporting está nos oitavos da Champions, isso não significa que venha a estar lá todos os anos. Portanto, tem que criar a sua estrutura de custos de acordo com a sua viabilidade.
Há o risco de agora os jogadores começarem a pensar demasiado na Champions e facilitarem nas outras provas. No seu tempo, em que o Sporting também chegou aos oitavos da Champions, isso aconteceu ou não?
-No meu tempo estivemos sempre na Champions e ficámos sempre em segundo lugar no campeonato. Não houve nenhum desperdício de foco da equipa técnica e dos jogadores em relação ao que eram os nossos objetivos. E ganhámos duas taças de Portugal e duas supertaças. Desde que tudo isto seja feito com equilíbrio, e seguramente que o vai ser, não vai haver nenhum desfoque dos objetivos para a época.