"Esta redução de 230 a 250 milhões nunca poderia ser só explicada pelo efeito João Félix"
Domingos Soares Oliveira, CEO do Benfica, foi entrevistado esta quinta-feira na BTV
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Domingos Soares Oliveira, CEO do Benfica, explicou esta quinta-feira a decisão da SAD encarnada de fazer o reembolso sem necessidade de lançar novos empréstimos obrigacionistas
Como foi possível efectuar este reembolso sem condições para efetuar nova emissão como já aconteceu com outras SADs e com o Benfica anteriormente?
Durante muito tempo o método normal de lançar novos empréstimos obrigacionistas era fazer o reembolso anterior com uma operação que era de alguma forma apoiada por uma entidade financeira, lançar algum financiamento e em função da adesão conseguir o reembolso à entidade financeiras. Agora há condições de mercado que são completamente diferentes, mas de uma maneira positiva o Benfica tinha capacidade de tesouraria suficiente, não apenas para fazer este reembolso de quase 50 milhões de euros, mas também para ter feito o de janeiro antecipado de obrigações que se vencem em 2021. Juntando as duas operações, estamos a falar de um total de reembolsos feitos com meios próprios e sem recurso a financiamento extraordinário de cerca de 75 milhões de euros.
O Benfica poderia ou deveria ter suspendido este reembolso dado o actual contexto?
Seria possível fazer uma suspensão deste reembolso, bastaria convocar uma assembleia geral de obrigacionistas, que se faz com pouco mais de um mês de antecedência, um pouco à imagem daquilo que o Sporting fez. No nosso caso, uma das questões críticas de garantir é que em nenhum momento falhamos com os nossos financiadores, seja bancos, obrigacionistas ou outras entidades financeiras. Entendemos que, apesar de ser tecnicamente possível esse adiamento, não o deveríamos fazer e dadas as disponibilidades que tínhamos decidimos fazer o reembolso na data prevista"
Tinha dito que o Benfica tinha como prioridade diminuir a exposição a emissões obrigacionistas. Está excluído o lançamento de novos empréstimos obrigacionistas?
Não está e sobretudo numa conjuntura que é completamente diferente daquilo que antecipávamos há cerca de um ano. Foi positivo termos tido a capacidade financeira para fazer estes dois reembolsos nas datas que estava previstas. Se nada tivesse mudado, se não houvesse uma conjuntura absolutamente anormal não estaríamos a falar de novas emissões, mas em função da realidade, é natural que até que o mercado se reanime venhamos a fazer alguma emissão obrigacionista"
Como fica o endividamento da SAD tanto a nível de empréstimos obrigacionistas e ao sistema financeiro?
Depois desta operação, temos a correr um total de empréstimos obrigacionistas de cerca de 60 milhões de euros e mais uma operação de financiamento junto de uma entidade financeira de cerca de dez milhões de euros. No total, a nossa dívida, do grupo Benfica, sujeita a encargos financeiros é de cerca de 70 milhões de euros, um valor extremamente baixo. Até diria, numa perspectiva histórica, só no início do século, quando ainda não tínhamos novo estádio, o Benfica Campus, tivemos uma dívida tão baixa.
"O contrato de direitos televisivos que assinámos com a NOS também nos permitiu fazer uma redução mais acentuada, mas o efeito Félix nunca pode ser entendida como a única explicação"
Muitos analistas têm dito que esta recuperação só foi possível devido à transferência de João Félix para o Atlético de Madrid. É verdade?
Em parte é verdade, mas é uma análise que esquece aquilo que tem sido a nossa evolução na última década e nos últimos sete anos. Os resultados que vamos apresentar no final do ano, independentemente do impacto da pandemia, serão sempre positivos porque o ano correu bem e a venda de João Félix teve impacto em 2019/20. Serão sete anos de resultados positivos e o que fizemos nesses anos foi de uma forma paulatina construir o modelo de redução do nosso endividamento. Naturalmente, o contrato de direitos televisivos que assinámos com a NOS também nos permitiu fazer uma redução mais acentuada, mas o efeito Félix nunca pode ser entendida como a única explicação para termos um montante de endividamento tão baixo. Temos devido à estratégia seguida e diria que é também importante destacar as capacidade de tesouraria alta, mesmo depois deste reembolso.
É redutor falar apenas no efeito João Félix?
Tivemos o nosso pico máximo de endividamento em 2013/14 com um valor acima dos 300 milhões de euros. Atualmente estamos com um montante de 70 milhões de euros. Esta redução de 230 a 250 milhões nunca poderia ser só explicada pelo efeito João Félix.
Será que isto não vai ter consequências desportivas na próxima temporada? A folga financeira do Benfica pode ficar mais curta?
Há duas questões importantes, uma de tesouraria e outra de resultados financeiros. Já antecipámos aquilo que pode ser o impacto na nossas contas este ano, temos uma clara noção de que termos jogos à porta fechada terá um impacto, conseguir concluir ou não os dez jogos que nos faltam terá também impacto nos direito televisivos. Do ponto de vista financeiro conseguimos determinar aquilo que vai ser o resultado no final do exercício. Os resultados serão sempre positivos. Quanto à tesouraria, tínhamos em caixa mais de 100 milhões e o facto de fazermos agora este reembolso de quase 50 milhões de euros ainda nos deixa com uma posição de caixa extremamente favorável e positiva. Como é evidente, não nos permite continuar sem ter competições durante mais uma época desportiva inteira, não teremos capacidade para isso como mas ninguém terá. O que se passará na próxima época desportiva é que é a grande incógnita porque se conseguirmos ter jogos mesmo que à porta fechada, teremos um impacto de receita de bilhética. E teremos outra coisa, a nível do mercado de transferências. Este será diferente, estará aberto provavelmente mais tempo e terá menos negócios e até desvalorização de alguns ativos. Estes dois efeitos terão repercussões no próximo ano e até a nível do fair-play financeiro que, por causa do efeito covid-19, será anulado para análise da boa ou má gestão dos clubes, mas terá consequências também das disponibilidades de caixa que os clubes tenham. O grande desafio que os clubes terão é se vão ter condições de caixa para fazer face a um exercício, que a nível das variáveis bilhética e transferências, vai ter um impacto negativo."