Hélder Castro iniciou a carreira de treinador e devolveu Florgrade aos nacionais com 30 vitórias em 34 jogos. Desempenhos irrepreensíveis, que secaram a ambição de dois pesos-pesados
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Aos 39 anos, Hélder Castro deu um passo perfeito para treinador. Depois de longa carreira como jogador, o antigo criativo aceitou o convite do Florgrade para mudar o seu papel na estrutura e os resultados foram retumbantes. Subida ao Campeonato de Portugal, 30 vitórias em 34 jogos, superando na distrital de Aveiro os históricos Espinho e Ovarense. A equipa fundada como extensão de uma fábrica de cortiça, assente no lema 'We Play Cork', concretizou o regresso a uma realidade recente, mantendo, assim, uma chama positiva desde uma recente criação.
Hélder Castro descreveu a temporada de sucesso, já ciente que transita para treinar a equipa no mesmo escalão e com a mesma camisola com que encerrou o seu trajeto de futebolista. "Quando me foi proposto passar para treinador, o CP tinha terminado e não prevíamos o que ia acontecer. A ideia era manter grande parte do plantel, sem cometer loucuras nem fugir da realidade do campeonato, mesmo sabendo de outro tipo de investimentos", relata. "Escapou-nos o guarda-redes, que aceitou outros valores mas sentimo-nos capazes de lutar pelas vitórias", dissecou Hélder Castro, que além da exigência do desafio, teve de superar o baque da descida. "Foi um duro golpe mas crescemos com isso. A época foi quase perfeita, um desempenho muito competente com qualidade de jogo elevada, que era um objetivo meu: o de ganhar a jogar bem", sublinhou.
Hélder Castro, que alcançou carreira longa, passando pelo futebol romeno e cipriota, também esteve em 29 jogos da Liga, vestindo as cores do Feirense Portimonense, foi apanhado de surpresa pela sua própria decisão de virar homem do banco. "Há uns anos via-me mais como treinador do que neste momento. Como jogador assisti a situações para com os treinadores que me faziam confusão e isso deixava-me de pé atrás. Via aqueles que se metiam no trabalho do técnico, que tentavam sugerir como se devia jogar. Tudo o que era para mim impensável", destacou, expondo as razões que o levaram a mudar de perceção.
"Pedi uns dias para pensar, depois do mister André Ribeiro sair. Mas senti-me logo entusiasmado pela ideia, por ser um clube bem estruturado e por ter uma forma de estar no futebol com que me revejo. É certo que deixei de fazer o que mais gostava mas a decisão permitiu-me continuar a alimentar a paixão pelo jogo de outra maneira", comparou, taxativo a apreciar a aposta. "O balanço é que foi o passo certo no momento certo. E com as 30 vitórias batemos o recorde da competição", atira o antigo médio, fazendo história no seu primeiro ano como treinador.
"A verdade é que não poderia começar da melhor forma. Foi um campeonato extremamente exigente, com adversários que exigiram o melhor de nós e em que tivemos dois grandes opositores como Espinho e Ovarense. Obrigaram-nos a nunca baixar a guarda e eles também fazem parte desta época histórica na Liga Sabseg, porque noutras edições teriam sido campeões tranquilamente", confidenciou, prestando tributo aos esforços dos dois conjuntos vareiros, puxando galões circunstanciais para o seu crescimento.
"Este contexto fez-me ganhar grande bagagem para o que aí vem, cresci como treinador. Quero chegar o mais acima possível e acaba por ser um grande impulso, mas só porque me dá mais força para continuar a trabalhar. Tenho consciência que o caminho é longo e tenho muito a aprender", realçou, medindo um pouco mais do que foi lutar contra as oposições graúdas com peso de uma história profissional, do Espinho e Ovarense. "Obrigaram-nos a andar ao máximo e, assim sendo, a evolução é natural. Conseguimos chegar aos nacionais preparados para as dificuldades, conscientes que não ganharemos tantas vezes mas vamos estar prontos a competir contra qualquer rival", avaliou.
É para continuar e evoluir
Hélder Castro valoriza o grupo de jogadores que teve ao dispor, onde até Cícero, ponta-de-lança feito no Braga, que passou pelo Dínamo Moscovo, da Rússia. "A diferença está sempre nos jogadores, nós tivemos a sorte de ter os melhores do nosso lado. Acredito que tenha sido a diferença maior para esses dois históricos, apesar de, mais uma vez, eles também terem feito uma época espetacular!", admitiu o técnico, abrindo o jogo sobre o futuro.
"A próxima época começou mal terminou esta. Antes não desviei o foco. Sabemos que a grande maioria das equipas no CP já terminaram há algum tempo a competição e levam essa vantagem. O meu futuro passa certamente pelo Florgrade, que me permitirá continuar a crescer. Preciso disso, de evoluir e ganhar experiência", frisou, destacando a estrutura que o rodeia, onde é voz central José Carlos, jogador e dirigente, voz do projeto. "O apoio é total, dentro das possibilidades do clube, dão o máximo de conforto aos jogadores, trabalham de forma muito profissional e com os valores certos. A organização não fica nada a dever aos profissionais e há uma paixão ali instalada que contagia quem entra."
"A bola dá-nos tudo!"
Sobre a carreira encetada num clube que joga em Cortegaça, concelho de Ovar, Hélder Castro não passa ao lado de questões mais sensíveis de passar a líder do dia para a noite. "De início foi difícil, principalmente na hora das decisões, de quem joga ou não joga. Ver ali pessoas de quem eu gosto, tristes por não jogarem e eu ser o causador dessa tristeza, mexia comigo. Mas mantive a coerência no momento das escolhas e eles acabaram por perceber que só estava a fazer aquilo que achava que era o melhor para a equipa", afirmou, contente por essas situações se terem eclipsado no decurso da época.
"Na minha personalidade e liderança, não senti necessidade de me ajustar, fui igual a mim próprio, respeitar e ser respeitado", disse o antigo médio, partilhando a sua matriz e pensamento com que pretende vingar de escalão para escalão. "Apanhei vários treinadores competentes e bebi de todos. Mas sinto que tenho a minha ideia sobre o jogo, essa passa pela valorização do principal instrumento que temos no futebol: a bola. A bola dá-nos tudo, é responsável pelo nosso prazer no que estamos a fazer, é meio caminho para o jogador ter rendimento. Temos de estar organizados quando a perdemos, mas tê-la o mais que der para cansar o rival. Correr atrás da bola cansa muito mais do que a ter em nosso poder", revelou.
Alegria pelo Lourosa
Por fim, Hélder Castro deixou o seu apreço pela época do Lourosa, um clube especial que lhe marcou uma bonita fase da carreira, mais ainda sendo natural desta freguesia de Santa Maria da Feira. "Fiquei muito feliz pelas pessoas que lá estão, pela persistência que tiverem, pelo número de pessoas que metem nos estádios e pelas condições que dão aos jogadores. Merecem subir! Ao longo destes anos, levaram tanto murro no estômago e mesmo assim nunca desistiram. Mereceram muito!"