Portistas bem conhecidos do grande público e especialistas de futebol, inquiridos por O JOGO, fizeram um apanhado das razões que terão estado na origem de um FC Porto que passou de sete pontos de vantagem para o segundo lugar. São 15 breves opiniões para ler.
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Erros de arbitragem, um plantel curto, uma aposta excessiva na Taça da Liga, reforços de janeiro com pouco peso, as lesões de Aboubakar e Marega e falta de eficácia no ataque são as principais razões que os adeptos encontram para explicar a quebra de um FC Porto que era líder com sete pontos de avanço sobre o Benfica na penúltima jornada da primeira volta e está agora dois pontos atrás do rival, que, por sinal, empatou em casa com o Belenenses. Significa isto que os dragões cederam 11 pontos. Mas porquê?
Entre a última jornada da primeira volta e o a jornada atual, o FC Porto perdeu 11 pontos, contra apenas dois cedidos pelo Benfica, que passou a ser líder.
Os 15 inquiridos ouvidos por O JOGO não têm dúvidas em apontar o dedo às arbitragens, recorrendo ao jogo do Benfica em Braga para se justificarem com "erros que são uma situação comum, que já ocorrem há muitos anos e com as quais o FC Porto tem sempre de contar", como disse, por exemplo, José Guilherme Aguiar.
Opinião partilhada por Nuno Cardoso, antigo autarca da Câmara Municipal do Porto, que aponta "arbitragens que têm levado o Benfica ao colo e que afetam a verdade desportiva, apesar do VAR e da introdução de tecnologias no futebol". Na mesma linha de raciocínio surgem ainda Miguel Guedes, para quem "as condicionantes externas do poder do futebol português não desapareceram", e Rui Reininho, que diz mesmo que as "arbitragens estão viciadas".
Uma parte substancial dos inquiridos também justificou a situação com um plantel curto e "um erro estratégico" na aposta excessiva feita na Taça da Liga pelos responsáveis do FC Porto. Com a equipa envolvida em várias frentes, essa aposta "contribuiu para o desgaste", sublinhou Nuno Cardoso, que destacou ainda a lesão de Marega como aspeto a levar em conta nesta campanha.
Grande parte dos 15 inquiridos apontou "fatores externos" para justificar a perda da liderança, mas também uma aposta excessiva na Taça da Liga, que passou fatura ao plantel.
Rúben Rua, modelo, e o escritor Álvaro Magalhães acrescentaram a questão dos reforços de janeiro, que pouco pesaram para o primeiro e que não beneficiaram a equipa para o segundo. "Pepe só serviu para estragar uma harmonia defensiva perfeita entre Felipe e Militão. O FC Porto passou a sofrer mais golos depois com a dupla formada por Felipe e Pepe", justificou Álvaro Magalhães.
Os livres e a dispensa de Sérgio Oliveira
A maioria dos inquiridos apontou a um plantel curto como fator que terá penalizado o FC Porto, mas Carlos Tê destacou uma dispensa que também pode ter pesado, remetendo até para o último jogo dos azuis e brancos contra o Rio Ave: "Não encontro justificação para a dispensa de Sérgio Oliveira, que foi de uma importância capital no último título. Contra o Rio Ave, há um livre direto e quem o marca é Soares. Não faz sentido. Não se despacha um especialista como ele e depois, quando ele é preciso, não se tem num momento decisivo."
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O próprio Sérgio Conceição se queixou dos excessos da temporada, reclamando até o mesmo tipo de proteção no calendário para a complicada fase final do campeonato, coincidente com o desempenho dos portistas na Liga dos Campeões. Fê-lo publicamente e na sua conta de Twitter, como pode ver acima. Abaixo, tome nota das respostas completas das personalidades ouvidas por O JOGO.
QUAIS AS RAZÕES NA ORIGEM DA QUEBRA DO FC PORTO?
Manuel Serrão (Empresário)
"Falta de concentração"
"O facto de o plantel ser curto e de ter sido afetado por uma onda de lesões que agravou essa situação. Para além disso, houve uma certa falta de concentração no Estádio do Dragão no jogo contra o Benfica, que acabou por entregar o campeonato."
Jorge Amaral (Treinador)
"Champions e concentração"
"Os jogos com Moreirense e Benfica foram antes da Champions e pesaram. Mas também houve alguma incompetência. Contra o V. Guimarães, houve infelicidade. As lesões, com Aboubakar desde o início e Marega depois, idem. Os níveis de concentração na Champions são mais altos e isso sente-se no regresso à Liga."
Nuno Cardoso (Ex-autarca da CM Porto)
"Arbitragens, apesar do VAR"
"Na Taça da Liga pode ter estado o erro estratégico, porque causou desgaste. Depois houve a lesão do Marega. Mas as arbitragens também têm levado o Benfica ao colo e deixa de haver verdade desportiva, apesar do VAR e da introdução de tecnologias. Qualquer dia as pessoas cansam-se."
Rui Reininho (Músico)
"Arbitragens viciadas"
"Linha de ataque é pouco produtiva e há falta de bons decisores na frente. Faltou ainda Aboubakar e depois houve arbitragens completamente viciadas, que também contribuíram. Além disso, houve falta de capacidade para deixar os adversários recuperarem, como se tinha visto contra o V. Guimarães antes."
Guilherme Aguiar (Advogado)
"Erros de arbitragem"
"A perda de liderança teve muito que ver com dois resultados que marcaram, com o Benfica, no Dragão, e o último com o Rio Ave. Justificar o resto com eventuais e habituais erros de arbitragem em jogos do Benfica é uma situação comum, que já ocorre há muitos anos e com as quais o FC Porto tem sempre de contar."
A ausência de Aboubakar e a baixa de Marega tiveram um peso significativo para alguns dos inquiridos.
António Sousa (Antigo jogador do FC Porto)
"Relaxamento mental"
"Acredito em algum relaxamento mental, olhando à vantagem que tiveram em determinada altura. O fator competitivo provocou um grande desgaste, que afetou. Empenho e atitude sempre tiveram. Algumas lesões também contribuíram e afetaram um plantel envolvido em várias frentes."
Álvaro Magalhães (Escritor)
"Pesaram o fator Lage e Pepe"
"Houve dois fatores: primeiro o fator Lage, depois os reforços do FC Porto. Pepe só serviu para estragar uma harmonia defensiva perfeita entre Felipe e Militão; o FC Porto passou a sofrer mais golos depois com Felipe e Pepe. O Benfica foi buscar Lage, que já tinha, e um jogador fundamental, João Félix."
Cândido Costa (Antigo jogador)
"Clássicos e fatores externos"
"Alguma culpa própria, alguns fatores externos e, desde a entrada de Bruno Lage, algumas coisas que escaparam. Há ainda os dois clássicos perdidos. Algumas razões de queixa em relação ao que se viu ainda na última jornada, mas também devemos responsabilizar cada um em relação ao que teve na mão".
Rúben Rua (Modelo)
"Plantel curto e Taça da Liga"
"O FC Porto tem um plantel curto, teve reforços de janeiro que não vieram acrescentar grande coisa e uma Taça da Liga que acabou por custar caro pelo envolvimento excessivo a que obrigou na fase decisiva, quando ainda se tinha a Champions pela frente."
Miguel Guedes (Músico)
"Condicionantes externas"
"Houve algum relaxamento e condicionantes externas do poder no futebol português que não desapareceram. A derrota em casa com o Benfica, somada ao momento em que o rival passa para a frente, fez com que esse poder ressurgisse, como que estando autorizado a levar ao andor."
Desgaste: a aposta na Taça da Liga foi apontada como um erro estratégico.
Luís Jardim (Empresário)
"Falta de eficácia foi um problema "
"A finalização dos jogadores do FC Porto tem sido um problema, porque eles não acertam na baliza. A falta de eficácia é que tem sido o calcanhar de Aquiles. Depois, Casillas tanto faz grandes defesas como algumas asneiras."
Carlos Tê (Compositor)
"Plantel curto em muitas frentes"
"O plantel foi curto para tantas frentes e não encontro uma justificação para a dispensa para um jogador como Sérgio Oliveira, que foi de uma importância capital no último título. Contra o Rio Ave, há um livre direto e quem o marca é Soares - não faz sentido. Sérgio Oliveira devia ter continuado."
Bernardino Pedroto (Treinador)
"Lesões prejudicaram"
"A ausência de Aboubakar pode não explicar tudo, mas algumas lesões prejudicaram o ritmo da equipa. As notícias dos jogadores em final de contrato terão provocado algum desequilíbrio emocional. Algumas baixas de forma de jogadores importantes também contribuíram."
Rui Quinta (Treinador)
"Falta de concentração"
"Houve momentos de alguma falta de competitividade e falta de concentração que permitiram que os pontos de avanço se fossem desvanecendo. Tem muito a ver com os desempenhos, há sempre coisas que não dominamos, coisas internas, que não conhecemos."
Carlos Azenha (Treinador)
"Difícil manter o foco"
"Sete pontos de avanço não são sinónimo de campeonato ganho, o futebol é muito mais competitivo. Difícil é manter o foco dos jogadores com os adversários mais fracos; e pior é, como aconteceu com o FC Porto, a ganhar 2-0 aos 85". Não há treinador que resista, porque os jogadores baixam a guarda."