Esgaio está em seis lances capitais este ano: "Tem de ser ele a perceber se pode dar a volta"
Delfim e Nélson dizem a O JOGO que a capacidade de dar a volta ao texto terá de vir do jogador. Os entrevistados falam em erros técnicos, ilibam Amorim, mas dizem que expulsões indiciam pressão no líder.
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O ano de 2022/23 está a ser para esquecer para Ricardo Esgaio. O Sporting tem 18 golos sofridos em 13 encontros e o lateral, que realizou 12 partidas, seis delas a titular, acumula seis erros capitais.
O JOGO analisou os tentos concedidos na temporada e Esgaio tem responsabilidade direta nos encontros contra o Marselha, mas também em quatro jogos da Liga. Na Champions, na quarta-feira, cometendo um penálti e sendo expulso; em França a ser batido em velocidade, "forçando" Adán a sair da baliza antes de ser expulso. Já na Liga foi ultrapassado em velocidade contra o Braga e depois da igualdade foi arrasado pelos adeptos, com insultos condenáveis. Por falha de posicionamento, foi um dos responsáveis - porque obviamente o futebol é um desporto coletivo - pelos golos do Gil Vicente e do Chaves e é réu maior na derrota no Bessa, onde cometeu um penálti que ditou a derrota leonina.
O período é mau para o atleta, que o ano passado somou oito assistências, sendo suplente competente de Porro. A pressão dos fãs adensou-se quando Amorim o utilizou como central e há um jogo charneira nesta relação difícil com a bancada: a derrota nos Açores, diante do Santa Clara, em 2021/22, que arredou o Sporting da frente do campeonato, resultou de dois golos muito permitidos pelo lateral agora centenário.
Cabisbaixo, saiu de Alvalade e, apesar de parco em palavras, terá pedido desculpa e recebido o cumprimento solidário dos colegas, segundo foi possível apurar. A dúvida, até levantada pelo treinador, é se há forma de recuperar deste mau momento?
"Foi um conjunto de circunstâncias. Está prejudicado individualmente pelo que tem feito, mas reconheço-lhe valor. Mais do que ser o treinador a protegê-lo, tem de ser ele a perceber se pode dar a volta. Eu quereria jogar. Pedia logo a bola. Do Paulinho também esperavam 40 golos por ano e não tem essas características. Os jogadores são adultos e sabem da pressão", afirma a O JOGO o ex-médio Delfim, dizendo que uma possível saída do clube só deve suceder se Esgaio estiver "mesmo desgastado" e se "for boa para ambas as partes."
Nélson, ex-lateral de Sporting e FC Porto, sabe o que é ter cabeça fria na área. "Seguramente que o Esgaio não se deu conta de que tinha um amarelo e não teve o cuidado necessário. Tem de se ser sempre mais precavido na área, ainda mais com amarelo. Todos temos dias para esquecer. O Amorim esteve bem a proteger o jogador, mas compete ao Esgaio recuperar a sua capacidade e vontade no Sporting. Se a pressão dos adeptos for mais acentuada, ele pode piorar. Interessa é saber se ele quer continuar e recuperar a alegria no Sporting. Porque, por momentos difíceis passamos todos e às vezes pensamos que faríamos bem em sair. Só ele o pode dizer."
A esposa do jogador, Mara Alexandra, vincou o orgulho familiar e que "fases menos boas todos têm", apoiando-o em final de noite difícil. Entre "Twitter" e "Instagram" foi citado por 20 mil adeptos do Sporting, sendo insultado e responsabilizado pela derrota com o Marselha.
Postura de Amorim mudou com vermelhos
As derrotas com o Marselha não são, segundo o painel, de responsabilidade do treinador. "Foi o lance do Esgaio que condicionou tudo. À semelhança do que aconteceu em Marselha com o Adán. Jogar sem um jogador é mortal na Champions", comenta Nélson. "Houve desnorte. As expulsões matam qualquer estratégia. É por culpa própria também que o Sporting está a nove pontos da frente", explica Delfim.
Os quatro cartões vermelhos dão o alerta para a postura do treinador no banco. "É tudo tão novo para o Rúben. Este momento não lhe acontecera na carreira", atalha Delfim. "Há momentos difíceis de controlar porque os atletas mais atinados também podem ter a tampa a saltar. Tem de dizer à equipa que a precipitação prejudica os resultados. É o ano mais difícil no Sporting e nota-se no semblante. O Rúben está mais enfadado nos jogos", completa Nélson.
Com os dois vermelhos de quarta-feira, Amorim igualou Boloni (18) nos vermelhos, ultrapassou Jorge Jesus (16), esse com três anos nos leões tal como o atual técnico, e está apenas a um jogador expulso dos 19 dos quatro anos de Paulo Bento, recorde no século XXI. Existiram épocas maiores na indisciplina - 14 vermelhos em 2014/15 face à turbulência entre Marco Silva e Bruno de Carvalho, por exemplo -, mas foram raros os treinadores que continuaram.