"Era um projeto quase irrecusável poder trabalhar num clube tão grande como a Académica"
Tiago Moutinho conseguiu cinco vitórias em outros tantos jogos e está a um passo de manter a equipa na Liga 3. O treinador teve na Sanjoanense a primeira grande experiência a nível profissional, com a equipa sempre próxima dos quatro primeiros. Vive agora a melhor fase, mas deixa o futuro em aberto.
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Aos 42 anos, Tiago Moutinho está a viver um dos momentos mais especiais da ainda curta carreira. O treinador que foi adjunto de Ricardo Sá Pinto no Sporting, entre outros emblemas, e se deu a conhecer na Sanjoanense durante duas épocas na Liga 3, aceitou há cerca de um mês "um convite irrecusável" da Académica, onde se pode dizer que foi chegar, ver e vencer...
Desde que chegou, a Académica venceu sempre e quase garantiu a permanência a meio da fase de manutenção. Imaginava este cenário?
-Ainda não garantimos a permanência, porque o jogo entre o Caldas e o Fontinhas foi adiado. Creio que faltará um ponto. Quando cheguei à Académica, vim com a ambição de ajudar, de melhorar a equipa e criar uma mentalidade vencedora. Penso que esse tem sido o segredo, a união e o compromisso que existe entre todos, bem como o facto de todos quererem vencer e mudar o rumo dos acontecimentos. Imaginei sempre vencer o jogo seguinte e continuamos a querer isso. Só assim faz sentido.
Mas, como se explica este sucesso imediato?
-O sucesso passa por identificar e potenciar os pontos fortes da equipa e um desenvolvimento das competências sociais de grupo. Criar uma empatia grande entre todos, sempre com o objetivo de vencer.
Quando assumiu o comando, o clube estava numa série de quatro jogos sem vencer. Que tipo de alterações fez?
-Houve uma mudança na estrutura tática da equipa. Alternámos entre o 4x4x2 e o 4x3x3, mediante a avaliação que foi feita das características individuais dos jogadores. Quero valorizar a grande alma, qualidade e empatia que o grupo tem: é muito unido e forte.
Nas últimas três jornadas poderá rodar o onze, visto que o objetivo está prestes a ser alcançado...
-Nas últimas três jornadas iremos manter o mesmo profissionalismo, exigência e vontade de vencer. Rotação ou não, os jogadores que entrarem em campo serão sempre os que estarão mais preparados para vencer o jogo.
Foi o terceiro treinador a passar pela Briosa esta época. Sentiu um balneário pesado pelas trocas?
-Senti um balneário que queria muito mudar o rumo dos acontecimentos e revoltado com alguma infelicidade que tiveram anteriormente. Não deixei de aproveitar os aspetos positivos que os anteriores dois treinadores [Miguel Valença e Zé Nando] incutiram na equipa.
O que o levou a aceitar este projeto?
-É um clube grande, um histórico, com uma dimensão enorme, uma massa associativa gigante, e era um projeto quase irrecusável poder trabalhar num clube tão grande como é a Académica. Na análise feita à qualidade dos jogadores, também deu para perceber que havia margem para melhorar e aceitei o desafio pela minha forma de estar no futebol, de trabalhar sempre em projetos que sejam para lutar pelos três pontos em todos os jogos.
A vontade é continuar?
-Neste momento, o pensamento é garantir a permanência. Tenho contrato até ao final da época e depois haverá tempo para se falar sobre o futuro.
Se ficar, acha que, depois deste ano zero, o clube pode ambicionar voltar às provas profissionais?
-O clube tem todas as condições de lutar pela fase de subida e pela subida. É um clube com muito potencial, que trabalha bem e tem adeptos fervorosos.
Na Sanjoanense estreou-se como treinador principal. Que balanço faz dessa experiência?
-Fui muito feliz ao ter representado a Sanjoanense. Foi uma experiência bastante positiva, onde iniciei a minha carreira como treinador principal. Saí a bem do clube, tendo feito sempre tudo para corresponder aos objetivos propostos, mas optaram por não continuar comigo. Agora, sinto-me orgulhoso por este arranque na Académica e o resto faz parte de uma aprendizagem, sempre dentro dos meus princípios e ideias, que passam por construir equipas dominantes e vencedoras.
Que referências tem como treinador?
-Tento ler, manter-me informado e roubar sempre as boas ideias de cada treinador, pois é a nossa função. Se tivesse de dizer modelos, adoro o Klopp. Em janeiro tive a oportunidade de fazer um estágio com ele.
Do começo com Ricardo Sá Pinto ao triunfo na Champions Asiática
Natural do Porto, Tiago Moutinho começou o percurso como adjunto de Ricardo Sá Pinto, no Sporting, em 2011/12, acompanhando-o no Estrela Vermelha (Sérvia), nos gregos do OFI e Atromitos e também no Belenenses. Na China (Shandong Luneng), teve o seu primeiro grande desafio, antes de chegar à Sanjoanense e agora à Académica. "Na China, fui campeão nacional nos sub-16. No ano seguinte, essa equipa foi treinar para o Brasil, tendo sido substituída pela equipa B, que jogava na II Liga. O objetivo era manter a equipa na I liga. Conseguimos o impensável. Fomos campeões nacionais e ainda ganhámos a Champions Asiática! Teve um impacto incrível. No mês seguinte, fui convidado para treinar a seleção sub-17 da China, mas recusei, por razões pessoais", lembrou.