Pinto da Costa, em entrevista ao Porto Canal, recordou algumas das muitas estratégias que desenvolveu para resolver a crise financeira do FC Porto, quando se tornou presidente do clube.
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Primeiro dia como presidente do FC Porto: "Diria que desse dia recordo tudo. Foi um dia de grande emoção, trabalhámos para ver a situação do clube com o secretário-geral. Tomámos posse no pavilhão onde estiveram grandes figuras e presidentes, como Fernando Martins, presidente do Benfica, que viria a ser um grande amigo de muitas ocasiões, esteve o Sporting representado pelo senhor Agostinho Marques. Estiveram os clubes na sua maioria, era um tempo totalmente diferente. Uma posse muito concorrida e emocionante. Recordo-me que tratei o Américo de Sá por meu colega, presidente, tinha acabado de assumir, mas ele era presidente honorário. Ele, para mim, continuava a ser presidente do FC Porto. Depois fomos para um restaurante que já não existe, na rua Gonçalo Cristóvão, estivemos a confraternizar até às quatro da manhã. Quando tomei posse havia grandes problemas, falta de liquidez, tínhamos as contas todas a zero, chamei alguns colegas, entre os quais o doutor Pôncio Monteiro e disse-lhe que para o primeiro mês estávamos com o problema resolvido. 'Acabei de assinar um contrato para ir à Venezuela jogar um torneio, e pagam já o cachet, dá para os ordenados do primeiro mês', disse-lhe."
Resolver problemas do clube: "Eram promessas ambiciosas, mas quando nos metemos nesta aventura, como chamavam, foi com grande determinação para resolver os problemas. Muita gente ajudou-nos, alguns de forma surpreendente. Concretizámos várias ideias para ultrapassar essa crise financeira. O massagista telefonou-me um dia e disse que não havia ligaduras. 'A farmácia não fornece mais', disse. Na altura ligava-se tanto os pés do jogadores que pareciam múmias. A farmácia Garantia era de um amigo meu, era do senhor Fernando Barbot. Ele foi buscar faturas, há mais de meio ano que o FC Porto não pagava uma fatura. Ele disse-me 'abra uma conta com o seu nome e eu forneço a si, é você que fica dever'. Começámos a pagar, mas era tanta ligadura em meu nome que iam achar que andava a fabricar múmias. Passado meio ano voltaram a dar crédito ao FC Porto. Foi necessária muita imaginação e disponibilidade da direção."
Doação "perder tempo" a uma doação surpreendente: "Um dia o Neca Couto disse-me para irmos jantar ao Casino de Espinho com o senhor Comendador Manuel de Oliveira Violas. Disse-lhe que íamos perder tempo porque ele era benfiquista. Mas o Neca Couto disse-me que ele tinha grande admiração por mim e pela minha coragem. Ele disse que não alinhava no empréstimo, mas que dava. E não dava 200, era 400. Saímos com um cheque de 400 contos, nem queríamos acreditar. Ironia do destino, fizemos do hotel Solverde o nosso quartel-general. É uma homenagem ao comendador."