Frente ao Midtjylland e ao Arouca, o médio superou em passes e remates os médios de 2021/22 e a si próprio no River Plate este ano. Shéu Han falou sobre Enzo Fernández a O JOGO.
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Ao fim de uma pré-época onde entrou atrasado e duas partidas oficiais, contra o Midtjylland e o Arouca, Enzo Fernández já deu mostras de ter agarrado de forma firme o comando das operações do Benfica de Roger Schmidt.
Tanto no embate com os dinamarqueses como com os arouquenses, ambos sob o julgamento do "tribunal" da Luz, o médio argentino recebeu o "volante" da máquina encarnada e começou a explicar porque razão as águias pagarão 18 milhões de euros por 75 por cento do seu passe.
Pilar que tem dado equilíbrio ao "guloso" 4x2x3x1 de Schmidt, Enzo tem-se destacado no passe, com a bola a passar quase sempre pelos seus pés antes de rumar à zona de decisão. Os números até agora, aliás, são indicativos do peso de Enzo no arranque de época do Benfica, com o argentino a superar não só o desempenho médio dos jogadores que, na época passada, andaram pela intermediária das águias mas também... os seus próprios este ano no River Plate.
Ainda que a amostra seja curta, os dois jogos oficiais do Benfica já colocaram Enzo no coração da estratégia encarnada para 2022/23. Na média desses embates, fez 108 passes (com eficácia de 90,9 por cento), deixando bem para trás a média dos centrocampistas mais utilizados pelas águias em 2021/22: Weigl (53,7 passes por cada 90 minutos em campo), João Mário (50,8), Taarabt (49,7), Meité (44,6) e Paulo Bernardo (38,2). Já este ano no River, Enzo estava com 69,3 passes/jogo, bem abaixo da fasquia pelas águias nesta amostra.
Mas aspetos mais reveladores do peso da ação de Enzo no empurrar da equipa para o ataque são os passes de cariz "perfurante". Assim, nos passes longos, o argentino segue com uma média de 10,7 tentativas por partida (no River estava nas 7,1), com o registo mais próximo da época passada a ser de Meité: 4,6. Já em passes para a área contrária, o sul-americano tem uma média de 16,7 tentativas, ele que no clube de Buenos Aires se ficou nos 15,2. Em 2021/22 o mais afoito entre os médios encarnados neste item foi Taarabt, com nove passes para o último terço do campo.
Pode pensar-se, por estes indicadores, que Enzo Fernández só distribui. Mas não é apenas isso que se verifica pois, se olharmos para um outro "alerta", os passes que os colegas lhe endossam, fica evidente que quase tudo passa mesmo pelo camisola 13. Durante um jogo e em média, Enzo recebeu no Benfica 92,8 passes (no River, onde se formou e já estava enraizado na equipa recebeu só 53,2 em 2022). Contra o Arouca, por exemplo, os colegas confiaram-lhe 125 vezes a bola, um máximo na carreira sénior do médio de 21 anos.
Quanto a remates, Enzo faz 3,7 por jogo pelas águias, quando no River fazia 2,4. Na época passada Paulo Bernardo foi o mais rematador dos centrocampistas encarnados: 1,1.
"Técnica, leitura de jogo e inteligência" em campo
A afirmação rápida de Enzo tem animado os benfiquistas e quem está de fora já vê a importância do argentino. Shéu Han, figura do Benfica como jogador e dirigente, não gosta de individualizar mas considera a O JOGO que há ali talento e explica. "A linguagem do futebol é interpretada pela capacidade técnica e de leitura de jogo; se lhe acrescentarmos inteligência, até parece fácil. Enzo está a encaixar-se devido a esta linguagem. Ele ainda é novo, tem um foco incisivo e nota-se que está a ter uma integração muito fácil. Não tem movimentos presos, nem está à espera e compreende tudo. Não sou muito de individualizar pois a linguagem da equipa é o mais importante. Tudo depende de todos interpretarem bem mas, entre eles, pode sempre surgir um que ainda interpreta melhor ou de forma mais vistosa. Ele [Enzo] e Florentino são jogadores diferentes mas que se complementam no meio campo, nota-se a entre ajuda que há ali", analisa o também antigo médio das águias e da Seleção Nacional.
Schmidt a construir "com alicerces fortes"
Após duas goleadas, Shéu Han vê um Benfica de cara lavada em relação ao passado recente. "Foi a confirmação da expectativa que todos tinham sobre a equipa, que este é um Benfica muito pressionante, com muitas soluções ofensivas, com uma boa segurança defensiva. No fundo, uma equipa que se está a construir com alicerces fortes. Havendo uma boa mensagem e passada de forma a que os jogadores a entendam com facilidade, é possível alcançar um patamar alto. Nota-se que há uma absorção muito rápida das pretensões do treinador", frisou o jogador que, pelas águias, alinhou 489 vezes.
Quanto ao coletivo, Shéu Han sente um novo pulsar com Roger Schmidt dar uma alma... à antiga: "Há onze jogadores a pensar como se fossem apenas um. E quando é assim até parece fácil. Há uma nova alma, um novo perfil, o que se vê, por exemplo, quando se pressiona na pequena área, já é uma diferença em relação ao passado. São linguagens diferentes que, aqui e ali, traduzem o que é o futebol atual. É uma linguagem que vem do passado, de um Benfica à Benfica que resolve nos primeiros quinze ou trinta minutos."