Paulo Cunha, presidente da Câmara Municipal, assume-se, sem rodeios, um ferrenho adepto e entusiasta do clube. Gritos de alegria que se ouviram na cidade, no jogo com o Sporting, marcaram-no
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Remodelação do Estádio Municipal deverá arrancar em janeiro. Desempenho desportivo coloca uma pressão positiva na autarquia, que iria executar a intervenção nem que o "Fama" estivesse na II Liga. O autarca, a cumprir o segundo mandato no executivo, vibra muito com o líder.
O concelho de Famalicão tem sido falado como nunca o foi, graças à liderança do FC Famalicão?
- Estou seguro disso. As vitórias desportivas do Famalicão têm dado protagonismo e projeção ao concelho. Somos um concelho conhecido pela nossa dinâmica empresarial, exportadora, capacidade de fazer e produzir e vimos nesta liderança do Famalicão uma oportunidade para que o país e o mundo - porque esta notoriedade já ultrapassa fronteiras - conhecessem um pouco melhor as características do concelho.
Que retorno direto é que esta liderança pode gerar?
- A visibilidade só por si é um elemento forte para que o território seja mais atrativo no lado turístico, mas também ao nível da magnitude que o nome Famalicão pode ter no contexto internacional. Nós podemos, pelo veículo futebol, chegar a muitas outras latitudes que vão muito além da nossa capacidade de alcance. Além do mais, outros agentes como empresas ou escolas poderão usufruir desta boa imagem.
"Recordo-me de ir ao futebol com um tio, fugir à polícia e de saltar o muro, pois não tinha condições para comprar o bilhete"
Este desempenho do Famalicão serve, também, para fomentar o orgulho de ser famalicense entre a população?
- O Famalicão é, hoje, inegavelmente uma dimensão que une todos os famalicenses e que vai muito além do território. Há muitas pessoas que apoiam o clube e que não vivem no concelho.
Apesar do momento atual, este é um clube que há cerca de dez anos passou por uma fase muito complicada...
- É verdade. Há muito pouco tempo, os distritais fizeram parte da realidade do clube e isso dá ainda mais força a estes resultados. Importa, por isso, salientar o trabalho de todos os dirigentes que fizeram com que o Famalicão se tornasse num clube estável, credível, fidedigno e inspirador de confiança para que investidores, jogadores e equipas técnicas vissem no Famalicão um projeto de futuro, como hoje felizmente acontece.
Já imaginou ter um grande clube europeu a estagiar e a jogar em Famalicão, no caso de uma qualificação para as competições europeias?
- Já imaginei, como é óbvio. Se isso acontecer, teremos condições para os receber. Estaremos à altura de tudo o que aconteça de bom ao clube.
"[Estádio Municipal] Teremos um rácio de custo por cadeira que será o menor de sempre em Portugal"
Há muito entusiasmo nas ruas?
- Claramente. As pessoas estão engalanadas. São feitos em cima de feitos que ninguém tem contestado. O Famalicão tem ganho os jogos com justiça e é normal que as pessoas estejam eufóricas.
O desempenho atual do Famalicão coloca pressão na questão da remodelação do Estádio Municipal?
- O processo está em curso e acreditamos que podemos começar a obra em janeiro. Queremos que as famílias de Famalicão possam ir ao futebol como se vai ao teatro ou ao cinema, usufruindo de ótimas condições de conforto. Essa é uma pressão ótima, mas a intervenção é indiferente ao percurso desportivo. Já projetámos esta intervenção há mais de dois anos e isso estaria a acontecer caso o Famalicão estivesse em primeiro, em último ou estivesse na II Liga.
Esta obra não será um fardo pesado para a autarquia?
- De maneira nenhuma. Temos um rácio de custo por cadeira que será o menor de sempre em Portugal. Será uma obra custeada na totalidade por fundos camarários e que é perfeitamente compaginável com as receitas municipais.
"Nós podemos, pelo veículo futebol, chegar a muitas outras latitudes que vão muito além da nossa capacidade de alcançar"
O Famalicão é um amor de perdição que também o contagiou?
- É um amor de perdição. Fui dirigente do Gavião, de onde sou natural, mas também fui dirigente do Famalicão. Tenho dificuldades em não festejar um golo quando estou no estádio. Não me consigo conter, porque sou, acima de tudo, adepto. Recordo-me de ir ao futebol com um tio, de fugir à polícia e de saltar o muro do estádio pois não tinha condições para comprar o bilhete.
É homem para se misturar no meio de festas dos adeptos do Famalicão?
- Sou e não escondo que gostava de estar noutra bancada de cachecol, a festejar os sucessos do Famalicão.
É pai de duas filhas, já lhes passou esse amor de perdição?
- É muito fácil. Uma delas joga futebol feminino, embora não no Famalicão, adora futebol e costuma ir comigo ao estádio. A mais nova também gosta de ver e até a minha esposa tem assistido aos jogos na televisão, por causa desta nova onda que se está a criar e que é muito positiva. Se um dia o Famalicão deixar de ser líder, a euforia vai continuar. Pode diminuir, mas vai continuar. Infelizmente são poucos os jogos fora que consigo ver na televisão, mas estou amarrado ao telefone a acompanhar o resultado. No jogo com o Sporting estava a percorrer as ruas da cidade e ouvi gritos no segundo golo, algo que só ouvia quando se tratava de algum dos grandes a festejar um título nacional.
As obras no Estádio Municipal deverão arrancar em janeiro e a nova cara do recinto terá 7000 lugares
Leicester é comparação "simpática"
A comparação entre o Famalicão e o Leicester não incomoda, de todo, Paulo Cunha. Aliás, o presidente da Câmara Municipal garante que o concelho está pronto a agarrar qualquer oportunidade que surja.
"Acho a comparação simpática. É um fenómeno que ninguém enjeitaria, mas o mais importante é assegurar a permanência. Porém, este concelho nunca ficou em casa com medo de algum desafio. Hoje, somos uma das zonas mais pujantes do país e a fibra destas gentes é o ingrediente mais importante do sucesso. Se tivermos uma oportunidade, vamos aproveitá-la".
Autarquia só apoia a formação
Protagonismo do Famalicão não significa "de forma alguma mais dinheiro". Aliás, na SAD não entra um euro camarário
Desengane-se quem acha que a liderança do Famalicão pode trazer mais fundos camarários para o clube. A Câmara Municipal só apoia o desporto de formação e que não se cinge ao futebol. "Apoiamos todo o desporto, muito além do futebol. Dentro do futebol, o apoio é decidido em função do número de equipas, da quantidade de atletas e do número de divisões, sempre ao nível da formação", assegura Paulo Cunha.
"Este protagonismo do clube não significa, de forma alguma, mais dinheiro público", explica. Contudo, o autarca não tem problema nenhum em admitir que o executivo pode servir de ponte para o "Fama" chegar, por exemplo, às empresas ou à criação de parcerias com diversas entidades. "Somos um agente do território e estamos ao completamente ao serviço de todas as entidades do concelho", completa.