"Dói na alma ter feito tantas coisas pelo Benfica e vê-lo numa situação destas"
Isaías diz que prefere nem ver os jogos da equipa para poupar mágoas e realça que "é altura de deixar a pele em campo" para voltar a vencer e acabar com a crise.
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A crise do Benfica, que tem visto o comboio do título de campeão fugir cada vez mais, além de já ter falhado a conquista da Taça de Portugal e da Taça da Liga, tem marcado os benfiquistas, sejam adeptos sejam antigos jogadores.
Com passagem pelo clube no início dos anos 90, pelo qual venceu dois campeonatos, Isaías não fica indiferente e sofre com o momento. Destacando a "dimensão e o historial do Benfica", a O JOGO o antigo avançado realça: "Nos últimos anos só encontramos a situação inversa."
Com a equipa longe dos triunfos e sem conseguir realizar exibições de topo, Isaías confessa: "Não perco o meu tempo a ver os jogos do Benfica, prefiro ver de outros clubes europeus. Ver jogos do Benfica é só tristeza. Dói na alma ter feito tantas coisas pelo clube e vê-lo agora numa situação destas. Para ficar triste prefiro nem ver."
"A águia a voar pelo estádio é uma demonstração de força e de poder, mas nas quatro linhas o Benfica não está assim. É triste", sublinha, indicado a "solução" para a crise: "Resultados. Tudo na vida são resultados. Qualquer empresa também funciona assim. O Benfica tem um potencial muito grande, só que as pessoas têm de juntar-se e colocar as engrenagens a funcionar como deve ser. A atual Direção herdou uma herança muito complicada, de alguém que usou e aproveitou-se do clube. Agora é preciso encontrar forças e argumentos para conquistar resultados, sem eles a crise vai continuar."
Sobre os responsáveis pela crise, Isaías, que aponta "falta de mística" na Luz, não tem dúvidas: é para ser distribuída de uma ponta à outra no seio do clube. "Todos os que fazem parte do Benfica são responsáveis, menos os sócios, esses sustentam o clube. Agora, a Direção, a equipa técnica, o grupo, todos têm a sua parte de responsabilidade", refere, realçando que nem tudo poderá passar por Rui Costa. "Tem de encontrar soluções, mas não joga. E não adianta se os jogadores não colaborarem e não resolverem lá dentro. Têm de funcionar como uma família. No meu tempo, os principais jogadores se tivessem de dar um "tapão" na orelha davam, era uma chamada de atenção para defender uma entidade. Todos têm de agarrar o leme, ninguém pode saltar do barco, agora é altura de remar contra a maré", considera, referindo que "os jogos não se ganham só no campo". "Um jogo ao domingo começa a ser ganho à segunda-feira. Não adianta chegar ao balneário e dar um chutão. O trabalho tem de ser feito na semana", frisa.
Com 71 golos e 178 jogos em cinco anos de águia ao peito, Isaías comenta que "se a bola queima os jogadores é porque está zangada com quem a trata". "É preciso trabalhar e não fugir das responsabilidades, e isto funciona para todos. Não adianta dar socos e falar grosso, é preciso deixar a pele lá dentro", atira, pegando num aspeto pelo qual era conhecido - os muitos remates tentados - para dar um conselho aos atuais futebolistas encarnados: "Eu chutava dez vezes mas uma entrava. Aqui se for preciso chutem 50! É com entrega e trabalho que podem resolver as coisas. Eu deixava a pele lá dentro, muitas vezes não conseguia e era criticado e assobiado, mas no fim dava a volta e era gratificante."