Rosário Teixeira coloca Pinto da Costa no olho do furacão e sustenta que o dinheiro resultante deste alegado esquema serviria também para claques e influência de terceiros na "sorte dos resultados"
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O Ministério Público (MP) está a passar a pente fino 17 transferências de jogadores efetuadas nos últimos nove anos pelo FC Porto, por suspeitas de que Pinto da Costa tenha desenvolvido com os agentes Alexandre Pinto da Costa e Pedro Pinho um "esquema de fraude" com o objetivo de "gerar proveitos indevidos" para a esfera dos três.
A tese consta do despacho do procurador Rosário Teixeira, publicado na terça-feira no Twitter pelo pirata informático Rui Pinto, no qual o coordenador da Operação "Cartão Azul" coloca o presidente dos dragões no centro deste alegado sistema.
Como se pode ler no documento, existirão indícios de que os montantes pagos pela sociedade portista seriam "ficticiamente incrementados" e que os empresários aceitariam "devolver aos dirigentes" azuis e brancos, "designadamente a Pinto da Costa, parte dos montantes cobrados em comissões pela sua intervenção como intermediários nesses negócios".
"Em consequência dessa atribuição indevida, esses beneficiários, geralmente agentes desportivos, devolvem, a favor de dirigentes do FC Porto e da sua SAD, parte dos montantes recebidos, seja sob a forma de atribuições patrimoniais diretas para a esfera pessoal desses dirigentes, seja pelo pagamento de despesas que o próprio clube ou a sua SAD não poderiam documentar, caso de formas de suporte a dirigentes de "claques" desportivas e de entregas a favor de pessoas com alegada capacidade para influenciar a sorte dos resultados desportivos", escreveu o magistrado.
Negócios escrutinados vão de Casemiro a Sambú
Os negócios relatados por Rosário Teixeira reportam-se ao período (2013-2016) em que Pedro Pinho e Alexandre Pinto da Costa eram sócios na Energy Soccer e prosseguem até 2020. De acordo com o documento redigido pelo magistrado, "a maior parte da faturação" da empresa que detinham "foi referente a jogadores relacionados com o FC Porto", casos de Casemiro, Brahimi, Quaresma e Aboubakar.
A partir de 2017, os dois agentes rompem a ligação, mas terão continuado as práticas agora sob investigação. Pinho terá estado envolvido nas operações de Ricardo Pereira, Uribe, Militão, Felipe, Zé Luís, Óliver Torres, Fábio Silva e Danilo Pereira, enquanto que Alexandre Pinto da Costa, segundo o despacho, terá feito "parcerias com outros intermediários e agentes desportivos, como é o caso de Carlos Padrão", com o objetivo de "ocultar o seu nome na intermediação" dos negócios de Saravia, Marchesín e Marcano.
Por fim, Teixeira escreve também que José Fouto é suspeito de ter participado neste esquema devido às transferências de Zé Luís e Idrisa Sambú.
Pinto da Costa quer "provar orquestração"
O despacho de Rosário Teixeira veio a público um dia depois de Pinto da Costa ter manifestado a intenção de "provar no sítio certo" o que apelidou de "orquestração de certa comunicação social, de calúnia e mentira", apenas com o objetivo de o afrontar, ao FC Porto e aos amigos.
"Estou certo de que ainda vou ter tempo de demonstrar aquilo que sempre fui e que os meus pais me ensinaram a ser: uma pessoa séria e honrada, sem ter nada que se lhe diga", referiu, durante o discurso na cerimónia de entrega dos Dragões de Ouro.
Os negócios em causa
Quaresma
"Evidência do pagamento de uma comissão de 500 m€ a favor da DNN SPORT, repartida com a Energy Soccer, que faturou à DNN 250 m€. O mesmo jogador veio a ser vendido [...] tendo a Energy Soccer faturado ao FC Porto 156 m€".
Brahimi
"Relativamente à opção de compra [...] indicia-se que a Energy Soccer faturou à Vela Management 600 m€ em comissões, tendo esta efetuado pagamentos àquela de 500 m€, suscitando-se a suspeita de que (...) represente um retorno parcial de fundos [...], não tendo a Energy Soccrer participado no negócio [...]. De forma a ocultar o retorno das verbas [...] a Vela Management faturou ao FC Porto 300 m€ referente a serviços de observação [...]. Pelo mesmo serviço [...] a Vela Management emitiu à Energy Soccer duas faturas de 280 m€. Verifica-se que a Energy Soccer faturou ao FC Porto, por intermédio da Vela Management, pelo menos 1,58 M€."
Casemiro
"O FC Porto teve um proveito de 7,5 M€ [...] tal negócio foi intermediado pela Vela Management, indiciando-se que esta recebeu do FC Porto [...] uma comissão de 1,26 M€ [...] montante que repartiu com a Energy Soccer, através de um pagamento de 700 m€, e qual não tem qualquer aderência à realidade, suscitando-se a suspeita de que (...) este pagamento representa um retorno parcial dos fundos pagos pelo FC Porto."
Aboubakar
"(...) indicia-se que (...) a Energy Soccer faturou diretamente [...] a comissão, no valor de 244,375 mil euros, pela intermediação da cedência temporária dos direitos desportivos [...] efetuada pelo valor de 2,5 M€."
Uribe
" Foi declarada a intermediação por parte de Raul Pais Costa, ligado à sociedade Nomiblue Sports e por parte da Gopro Sport [...] controlada por Normal Capuozzo. Indicia-se que a Nomiblue faturou ao FC Porto a comissão [...] de 475 m€. Porém, a Gopro Sport acordou o pagamento pelo FC Porto de uma comissão de 1,4 M€ [...] sendo que a N1 veio a faturar à Gopro [...] 466 m€. Indicia-se um incremento fictício do valor global [...] a pagar pelo FC Porto [...] o qual ascende a 1,875 M€, e que representa cerca de 20% do valor do negócio."
Éder Militão
"FC Porto SAD adquiriu ao São Paulo 90% dos direitos económicos, em agosto de 2018, pelo valor de 7 M€, com encargos adicionais de 1,548 M€, sendo que desse valor de 7 M€ [...] 3 M€ foram cedidos a um intermediário, suscitando a suspeita de que os beneficiários finais deste montante, para além do agente, seriam os administradores do FC Porto, nomeadamente Pinto da Costa. [...] No ano seguinte, os direitos económicos foram vendidos ao Real Madrid por 50 M€, tendo sido pago pelo FC Porto SAD 7,4 M€, a título de comissão de intermediação. A PP Sports veio a faturar 500 mil euros, embora não tenha desempenhado qualquer papel de intermediação junto do São Paulo, e, na venda ao Real Madrid, faturou 1,25 M€, embora não tenha tido qualquer intervenção [...] suspeitando-se que tais valores tenham beneficiado Pinto da Costa."
João Pedro
"Foi pago pelo FC Porto 400 mil euros a título de serviços de intermediação a uma sociedade de um outro agente, a qual veio a repartir esse valor com a PP Sports de Pedro Pinho que, nesse negócio, faturou 200 mil euros."
Felipe
"Pagou o FC Porto uma comissão de intermediação de 1,96 M€ a uma sociedade de um outro agente intermediário, a qual veio a ser repartida com a PP Sports em 980 mil euros."
Óliver Torres
"Vendido ao Sevilha por 11 M€, o suspeito José Pedro Pinho, apesar de não ter qualquer intervenção na concretização daquela venda, faturou através da sua sociedade PP Sports, o valor de 500 mil euros, correspondente a 50% do valor total faturado por outro agente, diretamente à SAD do FC Porto."
Fábio Silva
"[...] acrescem encargos com serviços adicionais de intermediação no valor de 10 M€ a repartir por duas sociedades. Porém, [...] José Pedro Pinho emitiu através das suas sociedades PP Sports e N1, três faturas, com o valor global de 3,275 M€. Indicia-se, deste modo, um incremento fictício do valor global das comissões [...]"
Danilo Pereira
"Verifica-se que apesar de José Pedro Pinho não ter tido intervenção na intermediação [...] veio a emitir , através da N1, duas faturas ao agente intermediário [..] no valor de 1,23 M€."
Zé Luís
"Relativamente aos montantes recebidos pela SOCAS [de José Fouto Galvan] [...] foi identificado um montante de 1 M€ pago pelo FC Porto. [...] Após esse recebimento, José Fouto Galvan determinou a SOCAS a fazer pagamentos a terceiros, designadamente à PP Sports, que se afiguram ter, na realidade, finalidades ilícitas. [...] Realizou um pagamento de 333,333 euros a favor da PP Sports, sem que se indicie que tenha tido intervenção no negócio."
Idrisa Sambu
"[...] Havendo evidência do pagamento pelo FC Porto de uma comissão de 24 mil euros, equivalente a 10% do montante da operação, a favor de uma sociedade espanhola de José Fouto, a Leser Soccer, que se afigura não ter sido a interveniente no negócio."
Saravia, Marchesín e Marcano
"Indicia-se que a MUPANG [de Carlos Padrão] faturou ao FC Porto 1,07 M€ referentes ao negócio de intermediação dos atletas Saravia, Marchesín e Marcano, sendo que 60% desse valor veio posteriormente a ser dividido com Alexandre Pinto da Costa, através de faturação emitida pela Serial Sports à MUPANG, no valor de 647.253 euros, sendo que nalguns casos, como o de Marcano, não se verificou qualquer prestação de serviços de intermediação por parte de Carlos Padrão ou Alexandre Pinto da Costa [...] indicando-se pois que este negócio foi utilizado como uma forma de desviar verbas dos cofres da SAD portista por Pinto da Costa, em concertação com o seu filho Alexandre Pinto da Costa."