Da fuga de Sarajevo a herói e craque de Famalicão e Vitória: "O primeiro jogo foi dececionante"

Dane Kupresanin, nome mítico do futebol portuguẽs entre 1991 e 1996
"O primeiro jogo foi dececionante, uma goleada em casa sofrida pelo Famalicão, diante do Vitória", diz Dane Kupresanin
Dane Kupresanin, nome mítico do futebol português entre 1991 e 1996, fazendo uma época em Famalicão e quatro no Vitória. Médio jugoslavo, sangue bósnio, de talento estonteante, de pauta na mão, coordenadas imaculadas e precisas, guiando jogadas e desferindo remates apoiados por gps. Dane formou a dupla bósnia do Famalicão com Barnjak, antes de conhecer uma constelação de craques em Guimarães. Com Famalicão e Vitória a cruzarem-se, amanhã, Dane Kupresanin, hoje com 56 anos e taxista em Londres, respondeu ao JOGO, desenvolvendo as suas memórias entrelaçadas com uma nostalgia difícil de interromper.
"Gostei muito do meu tempo em Portugal. Tudo foi muito positivo, a única parte negativa foi a gravidade das lesões que sofri enquanto jogava. Quando cheguei, comecei em Famalicão, o meu primeiro clube fora da Jugoslávia, e um clube que me relançou. Foi uma época muito especial para mim, gostei de jogar com todos os jogadores e os dirigentes foram muito simpáticos e sempre me trataram com respeito. O melhor de tudo foram os fãs, sempre positivos, encorajaram-me e fizeram-me realizar os sonhos futebolísticos", documenta Dane, que se estreou precisamente contra o Vitória num embate de má memória com futuros companheiros a arrasarem.
"O primeiro jogo que fiz foi contra o Guimarães, fomos derrotados em casa por 1:4.. Foi um começo muito dececionante mas motivou a nossa equipa. Depois de alguns jogos tudo começou a melhorar, comecei a sentir-me mais confortável e confiante no futebol e a acreditar em mim", confessa o antigo médio, que também fez o gosto ao pé em variadíssimas ocasiões, vendo os 9 golos pelo Famalicão premiados com saída para uma equipa de dimensão europeia.
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"O Famalicão sempre terá um lugar especial no meu coração, desde o meu início tive um apoio inacreditável de todos. Avancei para Guimarães onde estive quatro anos e também conheci momentos especiais. Nasceu aí um filho, então tudo o que envolveu esses anos foi marcante", afere, enfatizando a classe que se apoderava da equipa vimaranense nessa altura. Havia Dimas, Paulo Bento, N'Dinga, Basaúla, Pedro Barbosa ou Ziad. Marinho Peres treinava.
"Fiquei muito impressionado com a forma como o Vitória jogava. Era uma verdadeira equipa, todos os jogadores davam tudo de si com muita liberdade e diversão. O futebol era ofensivo e atraente. Lembro a rivalidade evidente com o Braga e também com o Famalicão. Era uma equipa inspirada para esses jogos também, adorava sentir essa paixão extra dos adeptos", recorda Dane Kupresanin, herói de um 3-0 à Real Sociedad, jogo em que bisou.
Afastado de Portugal há longa data, o antigo médio mantém os seus antigos clubes no radar.
"Acompanho todos os clubes em que joguei, gosto de vê-los vencer, mas, honestamente, não acompanho tão proximamente. Mas eu adoro Portugal, ocupa um lugar muito especial no meu coração e volto muitas vezes para passar férias no Algarve com a minha família", conta. Juntando as duas passagens pelos clubes minhotos, o bósnio percorre alguns dos amigos.
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"Lembro-me de quase todos, os mais marcantes em Famalicão foram o Porfírio Amorim, Lula, Menad, Barnjak, Lito e Secretário. No Vitória Dimas, Basílio, Pedro Barbosa, Basaúla, Tanta, Pedro Martins e José Carlos. Mas envio saudações para todos, sem exceção, e também para técnicos e diretores", exprime Dane, rebobinando, por fim, as circunstâncias que o fizeram chegar a Portugal em 1991 num período em que se desmoronava a velha Jugoslávia.
"Antes de vir para Portugal, jogava no FC Sarajevo, da cidade onde levava tempo a residir. Éramos, então, uma das melhores equipas da Jugoslávia, jogadores excelentes, o espírito estava muito alto e eu era o capitão. Não tinha como pensar em sair. Porém, devido ao início da guerra e à conturbada situação do país, decidi que o melhor seria mudar-me e seguir a minha carreira em outro lugar. Recebi um convite de Josip Skoblar, treinador do Famalicão, para assinar um contrato de dois anos. Ponderei e decidi ir em frente e aceitar a oferta. Fiquei só um ano, seguiu-se o interesse do Vitória entre outras ofertas de Portugal. Aceitei por causa do estilo de jogo, agradava-me muito e os adeptos também eram inspiradores no seu apoio. Não me enganei!", recorta.
