ENTREVISTA, PARTE I >> Candidato à presidência do Benfica explica como quer transformar o clube, apresenta um projeto a 12 anos e está convicto de que levará as águias à conquista do título europeu
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Cristóvão Carvalho é candidato à presidência do Benfica. O desejo não surgiu por impulso, foi amadurecido durante anos, reunião após reunião, até ao dia em que decidiu alargar a influência e não restringir a sua ação à presença nas Assembleias Gerais e aos jogos do seu clube do coração. Em entrevista a O JOGO, garante que está dentro da corrida à cadeira do poder da Luz, embora seja um “outsider”, “com muita honra”, sublinha.
O advogado, 52 anos, aposta num projeto a 12 anos, sustentado na vertente financeira e desportiva, e pensa num Benfica “campeão europeu”.
O advogado de 52 anos assenta o seu projeto na sustentabilidade financeira e impacto desportivo. Quer um treinador de topo e entende que Bruno Lage não é o homem certo para conduzir a equipa.
Estava confortavelmente sentado num dos gabinetes do seu escritório e decidiu concorrer às eleições do Benfica. Podemos fazer esta afirmação?
— Não, claro que não. O Benfica é uma paixão antiga, é uma paixão desde menino. Jogava na rua pelo Benfica, com as cores do Benfica. Desde Trancoso, passando por Alcobaça até chegar a Lisboa, aos 19 anos... Não tive oportunidade efetivamente de em criança ir ao Estádio da Luz ver os jogos do Benfica. Mas tive sempre a paixão pelo clube, pelos seus jogadores...
E que jogadores eram esses?
— Olhe, mais concretamente pelo João Alves, o luvas pretas. Não me perguntem porquê... Tinha o equipamento do João Alves e tinha umas luvas pretas, com as quais jogava aos domingos na aldeia. Portanto, todos me conhecem lá pelo menino das luvas pretas.
E quando é que começa a ir ao Estádio da Luz, matar o tal bichinho?
— Nasci em França, depois fui viver para Trancoso. Não tinha televisão, nem tinha luz elétrica. Depois, fui para Alcobaça. Aí, sim, começo a ver algum futebol na televisão. E só aos 19 anos, quando vou estudar Direito, em Lisboa, é que começo a ir ao Estádio da Luz, mas a paixão já estava lá.
Nessa altura tinha dinheiro para ir ao Estádio da Luz?
— Não. Foram os meus colegas, muitos deles de Lisboa, que me levaram ao Estádio da Luz. Mesmo não tendo dinheiro na altura para comprar um bilhete, eles diziam: “Não te preocupes com isso. Vais connosco. Em princípio, a gente conhece a porteira e as coisas vão correr bem... Senão, entramos ao intervalo. Eles abrem as portas.”
O passo seguinte foi filiar-se no clube...?
— Faço a minha licenciatura, inicio o meu estágio em advocacia e, na altura, uma pessoa que trabalhava na empresa onde eu estava, um senhor reformado, era o paquete da empresa, um grande benfiquista, disse-me que estava na altura de eu ser sócio. No dia seguinte, tinha a proposta em cima da minha mesa e foi só assinar.
Mais tarde, começa então a participar nas assembleias gerais do clube, no fundo, a ter uma ligação mais direta ao interior do clube. Certo?
— Depois, além dos jogos, comecei a ir às assembleias gerais, a perceber melhor como tudo funcionava. Quando Rui Gomes da Silva foi candidato, convidou-me para ser seu vice-presidente.
Rui Gomes da Silva não venceu as eleições e acabou por não entrar no clube como vice-presidente... É aí que sente o impulso de ser presidente do Benfica?
— Só falávamos por fora. Dizíamos que não valia a pena irmos falar dentro do Benfica porque para nós o Benfica era cadastro. O Benfica, não era currículo. Pensámos que o melhor era dar oportunidade ao Rui Costa porque tinha estado no clube como administrador e conhecia bem a realidade. Passado um ano e meio percebemos que não era o caminho para o Benfica. Quando percebemos que as contas do Benfica começam a derrapar a uma velocidade muito grande e a dívida bancária a duplicar, decidimos avançar.
Acredita que pode ganhar as eleições?
— Estou aqui claramente para ganhar, tenho o melhor projeto.
Já tem a sua equipa constituída?
— Fui buscar os melhores profissionais nas melhores áreas para liderar o Benfica, e para potenciar a sua imagem.
Sente-se um “outsider” nesta corrida?
— Ainda bem que sou completamente um “outsider”, e faço honra disso. Ninguém aqui está contaminado pela bolha Benfica.
É bom haver tantos candidatos e presumivelmente uma segunda volta em perspetiva?
— O Benfica está são, vivo, forte. Trata-se de um momento histórico e é mais um exemplo de que o Benfica está entre os cinco maiores clubes da Europa.
Que projeto vai oferecer aos benfiquistas?
— O meu projeto assenta em dois pilares fundamentais: a sustentabilidade financeira e o projeto desportivo. Não há um grande projeto desportivo se não tivermos a sustentabilidade financeira definida. Sem a questão financeira será impossível chegarmos às outras valências. O Benfica precisa de um treinador que ganhe a Champions, um treinador de topo europeu.
Mas os principais treinadores do universo futebolístico estarão disponíveis para trabalhar no campeonato português? Acredita convictamente nessa possibilidade?
— Devolvo-lhe a pergunta desta forma. Que clubes maiores do que o Benfica existem na Europa? Se olharmos para o número de sócios... nenhum. Os sócios são a génese dos clubes. O Benfica, não é apenas um clube português, o maior clube português. Todos os treinadores sonham treinar o Benfica. Klopp já disse que adoraria treinar o Benfica. Os melhores treinadores já ganharam tudo noutros clubes. Que melhor currículo teriam se ganhassem a Champions pelo Benfica?
Apela então à universalidade do Benfica. É isso?
— Há espanhóis que são adeptos do Benfica, deslocam-se para assistirem aos jogos do Benfica. Temos tenistas mundiais que são do Benfica...
Em poucas palavras, o que pensa de cada um dos seus adversários na corrida à presidência?
—Vamos falar dos candidatos anunciados. Todos são enormes benfiquistas, sentem e amam o Benfica.
Sente-se próximo de algum deles?
— Eles acreditam todos num modelo que existe agora que é venda extraordinária de jogadores, ou então, se não há venda extraordinária de jogadores, há um atraso do projeto para o Benfica que leva a que ganhem, apenas daqui a muitos anos. O Benfica tem que ganhar já, não pode ganhar daqui a muitos anos. Temos de fazer uma revolução no Benfica.