Gonçalo Álvaro, preparador físico do Sporting, defendeu as cautelas que devem ser tidas com a gestão dos atletas, como o treino de processa e a ansiedade que estes revelam como "cidadãos normais". Ao canal do clube garantiu: "Ainda não desligámos o chip da competição"
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Em isolamento social, este período representa um grande desafio para o preparador-físico?
Sim, ninguém estava à espera. É um situação única na nossa história. Apanhou a todos desprevenidos e então realizámos rápidas medidas. Não saber quando regressamos à competição deixam-nos um pouco aquém de estabelecer objetivos concretos. Prescrevemos exercício para que mantenham a forma (cardio) e quando forem chamados apresentem indicies físicos razoáveis"
Quais as suas principais preocupações?
Quando começaram a aparecer estas situações de saúde pública, reunimos a Unidade de Performance e o médico João Pedro Araújo deu-nos as guidelines, após isto, em equipa, construímos e organizamos um treino em que tentássemos diminuir os efeitos negativos desta paragem aos atletas.
Minimizar riscos de lesões é a principal preocupação também?
Sim, a questão de minimizar as lesões tem a ver com a expectativa. Ao nível de lesões e do treino temos de considerar questões de metodologia do treino. O que nos preocupa é existir um pouco de sobrecarga se formos chamados rapidamente a jogar, não teremos uma periodização necessária para regressar à competição. Vamos trabalhar estas questões para termos menos possibilidades de lesão.
Quais os riscos de treinos em casa?
Temos de ter isso em consideração. Temos o micro ciclo organizado de segunda a sábado e a partir daqui fazemos treinos online na presença de todos onde aplicamos treino a todos. Temos também o trabalho de compensação. Damos treino por videoconferência, tem um período social em que os jogadores falam, depois o treino começa, existe organização e disciplina. Vamos assim até ao fim da sessão. Falam no final do treino, para manter o espírito de grupo. Há um espírito de querer conquistar vitórias, um trabalho muito sério para não perder o foco. A qualquer momento podemos ser chamados ao terreno.
Sem a componente técnica do treino, o seu trabalho é mais importante?
Sim, porque trabalhamos a capacidade força, aeróbia, velocidade, flexibilidade, temos de manter essas capacidades físicas gerais e especificas para quando voltarmos ao terreno não percam nada em termos de condição física. Não treinamos a componente de grupos, estratégias táticas e essas situações. A nossa principal preocupação é manter o sistema central apto.
Controlo do peso e alimentação é feito ao pormenor?
Sim, temos esses dados connosco. É forma de os jogadores sentirem-se responsáveis e nós acompanharmos o processo.
Como lidar com os condicionalismos dos guarda-redes no treino ou de aqueles atletas que moram em apartamentos?
Temos essa preocupação, queremos também continuar a desenvolver os mais jovens. Temos trabalho especifico com os mais jovens para continuarem o percurso de alta competição e não estagnarem.
Uma segunda pré-época é necessária?
Sim, temos de evitar a sobrecarga física. Imaginemos uma semana no terreno antes de competir duas vezes por semana, é um grande risco. As estruturas físicas de cada atleta podem não aguentar. Ideal é ter uma segunda pré-época para que as equipas apareçam ao melhor nível.
Sente ansiedade dos jogadores?
Em termos gerais a população perante este episódio tem ansiedade normal, não sabemos quando é o fim ou o pico da pandemia, quando podem ter ações sociais. A população vive constrangida. Os jogadores são pessoas normais, mas quando estamos a trabalhar o foco é permanecer ligado. Ainda não desligámos o modo competitivo para esta época. Pensamos no treino de forma metodológica. Não podemos falhar no período de competição. Estamos a treinar à espera de ser chamados a qualquer momento. Não desligamos o chip da competição.