"Contratação de Conceição? O presidente tem um feeling especial, foi brilhante"
ENTREVISTA - Numa década que ficou marcada pelo regresso de Sérgio Conceição ao clube, também há muito mérito do presidente, vinca o ex-presidente da MAG Matos Fernandes, que lembra o não ao penta do Benfica e o sucesso na formação.
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Ao tricampeonato (2011-2013) seguiu-se uma espécie de travessia do deserto. Por isso, o regresso aos títulos, em 2018, deixou Pinto da Costa "radiante". José Manuel Matos Fernandes, que liderou a Mesa da Assembleia Geral (MAG) do FC Porto entre 2016 e 2020 e foi distinguido com dois Dragões de Ouro, fez um raio-X à quarta década de presidência do atual líder e até lembra um episódio curioso das últimas eleições...
Entre a Supertaça de 2013 e o título de campeão de 2018, o FC Porto atravessou uma seca de títulos. De que forma Pinto da Costa viveu esse período?
-O clube e o presidente estavam mal habituados, face à quantidade e qualidade dos títulos conquistados desde Viena [em 1987]. Foram umas pequenas tréguas, até porque os rivais se esforçaram e não se pode ganhar sempre [risos]! Não se pode dizer que o presidente vivesse momentos de particular felicidade nessa altura. Mas eu, que vi centenas de jogos ao seu lado, senti que ele metia a emotividade para dentro. Conseguia refrear as emoções, embora as manifestasse quando as coisas não corriam particularmente bem. A "neura" era terrível, mas, pelas funções que exerce, consegue manter a frieza. O que não queria dizer que, depois de uma derrota, passasse uma noite sossegada...
Já em 2017, Sérgio Conceição sucede a Nuno Espírito Santo ao leme da equipa principal. O que esteve na base da contratação do atual treinador?
-Foi uma contratação de risco. Para o Sérgio Conceição, vir para o FC Porto era um salto importante. Ele é portista e isso ajuda, não é indiferente um treinador ser apenas profissional ou ser um homem da casa... A grande capacidade técnica do Sérgio foi uma surpresa para mim, mas não para Pinto da Costa. A função que tem há de lhe custar muito suor, algumas lágrimas e só não digo sangue para não exagerar. Foi um achado. O presidente tem um feeling especial, que resulta na maior parte das vezes. Acompanhava a carreira e a vida de Sérgio e conhecia-lhe as características pessoais. Terá pensado que era a altura certa para lhe dar a grande oportunidade. Não quer dizer que os antecessores de Conceição não tivessem qualidade. Vítor Pereira venceu dois campeonatos, Paulo Fonseca, Lopetegui e Nuno Espírito Santo chegaram a patamares muito elevados...
Logo na primeira época, Conceição conduz o FC Porto ao título nacional e quebra o jejum. Qual o mérito de Pinto da Costa nesta conquista?
-Saber que o nosso rival de estimação se preparava para igualar o feito do Penta, obtido apenas pelo FC Porto, não era uma coisa que agradasse. Termos sido capazes de romper essa caminhada foi uma vitória muito grande e até uma maldade, que custou ao rival engolir... O presidente estava felicíssimo, radiante. [Contratar Sérgio] Foi uma decisão brilhante.
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A vitória na Youth League (2018/19) foi o pico do trabalho levado a cabo na formação. Era uma das metas traçadas para esta década?
-Pinto da Costa sempre teve esse objetivo. Mas uma colheita como a atual nunca se tinha visto e agora até brilham na equipa principal! Apesar de nunca me ter dito diretamente, não duvido que o objetivo de Pinto da Costa seja manter estes miúdos por muito tempo. Vai sempre optar por um grande atleta feito na casa, mas importa sublinhar: há qualquer coisa de mágico em se ter pertencido ao FC Porto. Há um poder de sedução, afetividade, interesse e bem-estar das pessoas que é característico do presidente.
Em junho de 2020, Pinto da Costa é reeleito em tempo de pandemia. Que memórias guarda da noite eleitoral?
-Tratou-se de uma demonstração de enorme qualidade do presidente e de toda a estrutura administrativa. Tudo o que fiz nessas eleições, fiz com o aval de Pinto da Costa. E não me esqueço de uma partida que me pregou nesse dia. Eu fazia 80 anos e, quando me preparava para ir jantar com a família, chamaram-me para uma sala à parte no Dragão Arena. Estava um grupo de dirigentes e funcionários prontos para abrirem umas garrafas de espumante e cortar um bolo. Com o presidente sempre em primeiro plano, sorridente, a chefiar essa pequena festa. Mais uma prova da pessoa que é.
O que motiva o presidente a continuar?
-Se fosse um homem calculista, teria aproveitado situações passadas para se retirar em grande. Viena era uma delas, Gelsenkirchen também... Optou por continuar, numa prova de coragem e de alguém que entende que está em condições de continuar a assegurar vitórias. A ter que sair, o presidente fá-lo-á sempre pela porta grande. E ninguém acredita que isso possa não acontecer, por estarmos a falar de quem mais fez pelo FC Porto. Seria uma tremenda injustiça. Está na plenitude das suas capacidades intelectuais e eu não pensaria em conhecer outro presidente.
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