"Conceição está pronto para um grande europeu, mas faz bem em ficar no FC Porto"
ENTREVISTA - O histórico guarda-redes Marchegiani defendeu a baliza da Lázio durante uma década (1993-2003) e coincidiu com o treinador do FC Porto na primeira passagem por Roma. Juntos conquistaram cinco troféus.
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Luca Marchegiani foi líder e capitão da Lázio da qual fizeram parte nomes como Mancini, Inzaghi, Sérgio Conceição, Fernando Couto, Nedved, Mihajlovic e Simeone. Era a Lázio dos anos de ouro, um grupo que o agora treinador do Atlético de Madrid já descreveu como "uma equipa de guerreiros". Atualmente, a maioria treina os principais clubes europeus.
Para Marchegiani, atual comentador televisivo da Sky Sport Itália, isso não aconteceu por acaso. A personalidade e a ambição que via naqueles treinos em Roma são os mesmos valores que hoje os seus antigos companheiros tentam transmitir às respetivas equipas.
Olá, Luca, como está?
-Bem, em Roma agora, por casa, mas para a semana já vou comentar dois jogos, entre eles o Benfica-Ajax.
Como vive esta carreira de comentador desportivo?
-Faço-o há 17 anos, posso dizer quase o mesmo tempo do que o período em que fui jogador. Não é um passatempo, é a minha segunda carreira e gosto muito.
A principal dificuldade é mesmo questionar os treinadores depois de uma derrota?
-Bem, todos têm de aceitar as críticas, não gosto de julgar, mas sim de contextualizar a critica a um determinado jogo ou momento. Não tive problemas com ninguém, mas há alguns treinadores com quem tens de ter mais cuidado e medir as palavras. Mourinho é um deles, Conte também. São dois treinadores de personalidade forte, mas com Conte joguei na seleção em 1994 e damo-nos muito bem.
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E que relação tinha com o Sérgio Conceição, com quem jogou na Lázio?
-Muito boa. Guardo recordações muito bonitas desse período e espero que ele também as guarde de mim. Estávamos um ao lado do outro no balneário e, por isso, tínhamos uma proximidade física também nos jogos e nas tantas finais e momentos maravilhosos que vivemos juntos. Éramos um grupo de vencedores.
Ganharam cinco títulos nessas duas épocas. Como era o Sérgio desses anos?
-O Sérgio era um exemplo, porque chegou já como um jogador importante. Não foi o reforço mais importante desse verão [também chegaram Mihajlovic, Fernando Couto, Vieri, Salas, entre outros], mas depois, com trabalho, suor e também grande humildade, transformou-se numa peça fundamental no ano em que ganhámos o campeonato [o último da Lázio]. O Sérgio era muitas vezes titular ou lutava pela titularidade com o Nedved e o Stankovic, se não me engano. Não estamos a falar de dois jogadores quaisquer. Nedved ganhou uma Bola de Ouro, mas lembro-me de que o Sérgio dava sempre tudo e tornou-se um jogador indispensável.
Já dava para notar que ele viria a ser treinador?
-Tenho a dizer que, dessa equipa, 80% são treinadores de sucesso hoje em dia: Mancini, Simeone, [Simone] Inzaghi, Conceição, Mihajlovic. Mas enquanto o "Cholo" e o Mancini já se percebia que seriam treinadores, o Sérgio eu não imaginava. Mas revelou-se um treinador fantástico.
Acha que está pronto para um clube de topo europeu?
-Não tenho dúvidas, está pronto, mas acho que faz muito bem em não deixar o FC Porto se não for por um clube de topo e ganhador. Ele está num clube onde luta por títulos todos os anos, tem um plantel competitivo e disputa a Liga dos Campeões - onde quase sempre supera a fase de grupos. Um treinador habituado a vencer e a lutar por títulos não é o mesmo quando os objetivos são diferentes, mesmo que seja num campeonato superior. Nós temos agora o exemplo do Mourinho, que está a passar por isso na Roma.
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"Conquistou-nos com a sua humildade"
Pedimos a Marchegiani que puxasse a fita atrás e nos revelasse um momento curioso de Sérgio Conceição na Lázio. "Espero que ele não se importe de eu contar isto", gracejou o ex-guarda-redes, antes de narrar a história. "Uma vez chegou ao estágio da pré-época com os joelhos todos magoados e confessou-nos que tinha feito um percurso religioso para agradecer a oportunidade que estava a ter de jogar no melhor campeonato do mundo. Naqueles anos, jogar na Serie A era o sonho de todos os jogadores. Esse gesto diz muito do Sérgio", elogia o agora comentador, garantindo que Conceição "conquistou toda a gente pela sua humildade".