Cissokho fala num FC Porto "mais técnico" e um Lyon "mais poderoso": "O meu coração está dividido"
Lateral-esquerdo francês é dos poucos que representou os dois clubes e garante, em entrevista a O JOGO, que está de coração dividido. Os detalhes, sustenta, determinarão o vencedor
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Mais de uma década depois, ainda são muitos os adeptos que se recordam da ascensão meteórica de Cissokho no FC Porto. O lateral-esquerdo, que os dragões contrataram em janeiro em 2009 e sete meses depois venderam ao Lyon, conversou com O JOGO desde a Tailândia, tendo como referência a eliminatória que os dois clubes estão a disputar na Liga Europa.
O agora atleta do Lamphun Warriors entende que as equipas estiveram ao mesmo nível no jogo da primeira mão e que este terminou com o golo dos franceses. Hoje espera um FC Porto diferente.
No entanto, Aly, agora com 34 anos, abordou ainda o salto do V. Setúbal para o Dragão, a saída para França, a importância de Jesualdo Ferreira e Daúto Faquirá no seu percurso e o portista que mais o impressionou na primeira mão do despique entre portugueses e franceses.
Que memórias guarda do período no FC Porto?
-A melhor foi mesmo do dia em que assinei, porque, para mim, foi uma grande conquista ter a oportunidade de jogar numa das maiores equipas da Europa e do Mundo. Foi um dos melhores dias que já tive.
Trocou o V. Setúbal pelo FC Porto a meio da época de 2008/09. Esperava uma explosão assim tão rápida?
-Sinceramente, não. Ter assinado pelo V. Setúbal já tinha sido uma grande conquista, porque era a primeira vez que tinha a possibilidade de me mostrar numa primeira divisão. Lembro-me que o treinador, Daúto Faquirá, estava sempre a incentivar-me e disse-me que, se o ouvisse e mantivesse um rendimento alto, teria a oportunidade de jogar numa grande equipa. Ele apoiou-me muito e, por isso, quero aproveitar esta entrevista para lhe agradecer a ele e ao meu empresário, Mohamed Afzal. Depois, no FC Porto, não posso esquecer a importância de Jesualdo [Ferreira], porque me deu a hipótese de ser titular e de jogar a Liga dos Campeões. Por isso, terei sempre respeito por estas equipas.
Foi, a par de Lisandro López, um dos dois únicos jogadores da história que se transferiram do FC Porto para o Lyon. Como foi esse processo?
- Lembro-me de que o Lisandro assinou com o clube, talvez, três semanas antes de mim. Por isso, falei com ele para lhe pedir uma opinião e ele disse-me muitas coisas boas. Percebi que poderia ter sucesso ali e acabou por ser muito bom.
Viu o primeiro jogo entre as duas equipas nestes oitavos de final da Liga Europa?
-Sim, claro.
Com que impressão ficou de ambas?
-Acho que estiveram ao mesmo nível. Foi um jogo equilibrado, em que o FC Porto fez uma boa circulação de bola e jogou um futebol mais técnico, enquanto que o Lyon optou por um estilo mais poderoso e físico. Foi um jogo de 50-50. O Lyon marcou primeiro e, depois disso, acabou.
Como perspetiva a segunda mão?
-Acho que será definida nos detalhes. A equipa que cometer menos erros terá mais hipóteses de passar.
Que estratégia vê o FC Porto utilizar desta vez para tentar vencer o Lyon?
-Pelo que vi na primeira mão, o FC Porto tentou jogar muito pelos flancos à procura do Taremi na área durante a maior parte do tempo. Mas a linha defensiva do Lyon é bastante física, muito agressiva e, por isso, acredito que desta vez possamos ver um pouco mais de circulação e combinações. Talvez seja melhor. Mas vamos ver.
Consegue escolher um lado nesta eliminatória?
-Claro que não. O meu coração está dividido. É muito difícil escolher. Por isso, só quero que este segundo jogo seja tão bom ou melhor do que o primeiro e que vença o melhor.
"Jesualdo ensinou-me a defender"
Contratado em janeiro de 2009 ao V. Setúbal, Cissokho esteve apenas seis meses no clube durante a primeira passagem pelo FC Porto. A evolução que registou com Jesualdo Ferreira valeu-lhe uma transferência para o Lyon, a troco de 15 milhões de euros, em julho do mesmo ano, pelo que não esconde a gratidão ao treinador pelo contributo para a sua evolução. "Ensinou-me a defender e algumas questões táticas que precisava de aprender. Ele e o seu assistente [n.d.r. José Gomes] passaram algum tempo comigo a explicar-me tudo sobre a forma de jogar da equipa, a defender, a atacar... Foi um dos treinadores mais importantes que tive na minha carreira", garante.
"Gostei bastante do Otávio"
Inteligência de Otávio deliciou o lateral-esquerdo de 34 anos, que deteta algumas semelhanças com Zaidu.
Que jogador do FC Porto mais lhe captou a atenção no primeiro jogo?
-Gostei bastante da exibição do Otávio. É um jogador com bastante técnica e é muito bom para uma equipa ter alguém como ele, que só precisa de uma nesga de terreno para meter a bola, que abre espaços para outros jogadores e que tanto consegue fazer a diferença na frente como aparece a correr muito atrás. Impressionou-me bastante. Penso que é um jogador muito bom que o FC Porto tem.
Vê alguma semelhança entre si e o Zaidu, que jogou frente ao Lyon?
-O lateral-esquerdo? [risos] É um bom jogador, muito físico e poderoso, como eu. Por isso, sim, existem algumas semelhanças entre nós, porque também gostava de correr com a bola controlada.
"Fucile era um pouco maluco"
Da amizade que fez com Sektioui às brincadeiras de Fucile e Raul Meireles, Cissokho explica que balneário encontrou no FC Porto.
Com quem estabeleceu a maior relação no clube?
-O Sektioui foi com quem tive maior ligação. Era mais velho, mas ensinou-me muito. Como falamos a mesma língua, ajudou-me bastante na adaptação à equipa.
E o que guarda do balneário de que fez parte?
-As brincadeiras do Fucile e também do Raul Meireles. O Fucile era o mais engraçado de todos. Era um bocadinho maluco. Mas o Raul também fazia muitas brincadeiras.