Ciclo dourado do FC Porto arrancou há 20 anos: "Até fico com a lágrima no olho"
Dragões levantaram a Taça UEFA há precisamente duas décadas, o primeiro de três troféus internacionais seguidos. Derlei e Maniche puxam a fita atrás para recordar a louca final.
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Os termómetros de Sevilha marcavam quase 40 graus no final da tarde de 21 de maio de 2003, servindo de prenúncio ao calor da festa que se faria em tons de azul e branco. Só ao cabo de 120 minutos de jogo é que o FC Porto pôde celebrar a vitória na Taça UEFA, no Estádio Olímpico La Cartuja, batendo o Celtic por 3-2, numa final que deu o pontapé de saída para um ciclo dourado na história portista.
Vinte anos depois dessa conquista, O JOGO desafiou Derlei e Maniche, dois dos protagonistas dessa epopeia e das que se seguiriam, a puxarem atrás a fita do tempo e ficou comprovado que duas décadas não foram suficientes para enublar a memória.
"Marcar dois golos numa final europeia é um privilégio enorme e, além do cenário individual, foi muito importante para o desporto português, porque ninguém tinha vencido a competição", recorda Derlei, MVP da final com os escoceses, depois de marcar o primeiro e terceiro golos do FC Porto, e melhor marcador da prova. O segundo foi de Alenichev e, do outro lado, estava um endiabrado Henrik Larsson, que também bisou. O "Ninja", porém, rejeita o rótulo de herói. "Todos sabiam que o jogador diferenciado era o Deco. Fui apenas o escolhido por Deus para marcar dois golos na final", sustenta.
Ao leme estava José Mourinho, que, mais do que treinador, era o líder espiritual dos dragões. "Tínhamos de explorar muito o campo emocional e isso foi conseguido através dele", explica Maniche, que sentiu a força transmitida pela nação portista através da televisão. "Estava no quarto com o Nuno Valente, ligámos a TV e vimos os adeptos a falarem da final, cheios de sentimento. Até fico com a lágrima no olho. Foi crucial vê-los para dar uma resposta cabal em campo", acrescenta o ex-jogador, que elege a final de Sevilha como a que mais gostou de ganhar.
Esse foi também o dia em que nasceu uma frase eternizada nos livros. "Mourinho disse-nos: as finais não são para se jogar, são para ganhar. Palavras que marcam", atira Derlei. Uma máxima levada à letra no ano e meio que se seguiu, ainda com o "Ninja" e Maniche: à Taça UEFA, o FC Porto juntaria, já em 2004, a Liga dos Campeões, ainda com o "Special One" no banco, e a Taça Intercontinental, já com Víctor Fernández. Uma era escrita em tons de dourado na história do clube e do futebol nacional.
Curiosidades
Azar com Costinha e Jorge Costa
A história de superação do FC Porto na final de Sevilha começou bem cedo, ainda com o resultado no 0-0. Aos 9 minutos, a primeira baixa: Costinha, âncora do miolo portista, cedeu, lesionado, o lugar a Ricardo Costa. Já aos 71", marcava o placar 2-2, foi a vez de Jorge Costa sair com problemas físicos. O "Bicho", capitão dos dragões, foi rendido por Pedro Emanuel. Duas pedras basilares da equipa de José Mourinho que não acabaram o jogo decisivo.
Matadores nem na final "descolaram"
Figuras centrais do duelo entre FC Porto e Celtic, Derlei e Henrik Larsson terminaram a Taça UEFA 2002/03 "colados" no topo da lista de melhores marcadores da prova. O brasileiro e o sueco fecharam as respetivas campanhas com 11 golos cada, dois deles na final. É que tanto o "Ninja" como o rival bisaram em Sevilha, num verdadeiro cara a cara de matadores.
Prémio de consolação para os "bhoys"
Se no relvado sorriu o FC Porto, nas bancadas do Estádio Olímpico de La Cartuja, em Sevilha, o domínio foi escocês. A final ficou marcada pelo clima de festa promovido pelos adeptos do Celtic, carinhosamente apelidados de "bhoys", que estiveram em larga maioria. Tanto assim foi que, meses após a final, receberam o prémio de fair-play atribuído pela UEFA, em virtude do ambiente salutar criado na cidade espanhola, sem incidentes.
Pinto da Costa de "coração aos saltos"
A incerteza no resultado fez da final de Sevilha um jogo a transbordar de emoção e Pinto da Costa não escondeu algumas dificuldades. "Foi a final mais emocionante. Aos 90" já não aguentava mais e vim para trás, para uma sala. Estava com o coração aos saltos", recordou o líder portista, em 2020, na FC Porto TV. Pinto da Costa, aliás, só se apercebeu vários anos após a conquista que o lateral-esquerdo Nuno Valente fora expulso já para lá dos 120 minutos.