O miúdo que era descoordenado em adolescente ultrapassava todos com a passada larga. Cresceu ainda mais e aprimorou a técnica para resolver em poucos toques os jogos difíceis.
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Youssef Chermiti decidiu o jogo em Vila do Conde e confirmou atributos importantes na posição de ponta-de-lança.
Possante, com 1,92 metros de altura, o miúdo de 18 anos já era alto quando chegou ao continente para os infantis do Sporting.
Pelo físico começou a fazer diferenças. "Chegou a meio da época [2016]. Era um miúdo que nunca tinha jogado futebol [vinha do futsal]. Já tinha uma grande capacidade física, devia ter 1,70 metros, mas percebemos que podia evoluir na capacidade técnica. Toda a relação com bola podia desenvolver-se. No primeiro torneio que fez, em Loures, mostrou logo dotes na finalização. Fazia diferença na passada, era explosivo e ganhava muitos duelos", explica a O JOGO André Lourenço, técnico-adjunto de Pedro Pontes nesse ano nos infantis.
O agora adjunto de Vasco Botelho da Costa nos seniores do Leiria encontraria o atleta dois anos depois, nos iniciados, já sub-15, sob o comando de Pedro Coelho, atual treinador de juniores do clube, e reconheceu um recorte técnico bem diferente: "Nem havia dúvidas. Esteve sempre como avançado. Manteve a capacidade de finalização. Mesmo não começando tão bem a época acabou bem a temporada, nos jogos mais difíceis. Vi logo que estava mais coordenado tecnicamente. Apareceu completamente diferente, na forma como recebia e rodava."
André Lourenço não tem dúvidas que, depois de se estrear a marcar em Vila do Conde, Chermiti vai voltar a faturar. "É fortíssimo a receber a bola na profundidade, a ganhar no espaço. Lembro-me de um lance no jogo contra o Benfica [que marcou a estreia do dianteiro na equipa principal] em que ele recebe a bola nas costas da defesa e remata ao lado. É um movimento dele. Dominar bem e executar bem", descreve ao nosso jornal o técnico, acrescentando que o jovem que cresceu na ilha de Santa Maria esteve sempre "ambientado", mesmo morando em Alcochete, longe dos pais e que vingou pelo trabalho. "Era um miúdo excelente. Estava sempre a querer aprender", conclui.
Em 2019/20, Leonel Pontes treinou a equipa principal do Sporting durante quatro jogos, mas militou, fundamentalmente, nos sub-23. E recorda um miúdo de 16 anos, "forte e alto", já no radar. "Já me falavam dele. O Sporting tinha noção do que ele podia dar", relembra Pontes, que tem gostado do que vai vendo: "Segura bem a bola, permite que a equipa suba. Faz uma grande ligação no jogo ofensivo e permite a circulação de bola. Movimenta-se bem dentro da área, é rápido e finaliza de cabeça. É forte nos duelos, tem entrega e sabe pressionar e posicionar-se a defender."
Inquérito
1 Amorim ganhou a aposta em Chermiti e a compreensão por não ter pedido a contratação de um avançado em janeiro?
2 O que deve ter um jovem avançado da formação, sabendo da cobrança dos fãs?
3 O Sporting só fez um remate enquadrado em Vila do Conde. Isso é preocupante?
"É preciso ter mais soluções no ataque"
1 É preciso ter mais soluções. O Chermiti é utilizado por falta de soluções e deu resposta. Ainda bem que houve oportunidade para ele. Mas o clube precisa de mais jogadores. É curto só ter um avançado de raiz.
2 Tem de ter uma personalidade forte. Não pode deixar que a pressão afete o rendimento. É preciso ter a maturidade para a realidade onde está. Sabe que tem de jogar sempre para ganhar.
3 O Rio Ave teve mérito, porque recuperou rápido após a perda de bola, mas faltou criatividade, que os jogadores progredissem com bola. Só houve uma situação de superioridade numérica e deu golo. Neste momento, faltam desequilibradores. Não há um jogador que garanta isso.
Leonel Pontes
Ex-treinador do Sporting
"As exibições deram força à aposta"
1 Sim, as últimas exibições deram força à aposta do Rúben no Chermiti. É preciso dar continuidade, saber esperar e não meter pressão. Tem qualidade, é mais uma solução que o Sporting ganhou. O adepto espera sempre novos valores. Muitas vezes o sucesso está em casa.
2 É preciso que haja tolerância e que a estrutura saiba levantar o jogador quando ele não estiver bem, retirando-lhe alguma pressão.
3 Não se pode analisar por um jogo. O Sporting tem vindo a fazer golos, marcou muitos após o Mundial. Só chutou uma vez, mas teve mais situações perto da área. Não vejo problemas na criação ou na finalização.
Carlos Saleiro Ex-avançado do Sporting