Tiago Sá foi parar à baliza do Braga, em 2005, por mero acidente, mas transformou-se entretanto num guarda-redes de topo e é hoje uma das principais promessas portuguesas.<br/>
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Em 2002, quando começou a assistir aos jogos do Braga no Estádio 1.º de Maio na companhia da tia Sofia, Tiago Sá estava longe de imaginar que um dia chegaria a titular do clube do coração. Na altura, o futebol era apenas uma brincadeira de criança, jogado sem regras na rua, e com o pequeno Tiago transformado em avançado. Tinha a mania que era goleador - quem não tinha, naquela idade? - e gostava de festejar os golos que marcava como Ronaldo Fenómeno, o ídolo de então que brilhava no Real Madrid e na seleção brasileira.
E foi assim que chegou ao Braga, como avançado, uma posição que tinha começado por experimentar, mais a sério, uns meses antes no Grupo Desportivo de Prado, um pequeno clube da terra. Tinha 10 anos quando decidiu ir treinar pela primeira vez ao velhinho 1.º de Maio, à boleia do primo Calais, que se juntou a ele na equipa arsenalista. Foi no verão de 2004, poucas semanas depois de Portugal ter perdido, com a Grécia, a final de um campeonato da Europa que organizou.
Nas escolinhas, Tiago Sá começou por alimentar o sonho da carreira goleadora até ao dia em que o único guarda-redes da equipa deixou de aparecer. Na altura, ir à baliza era um castigo a partilhar por todos. "Como não havia guarda-redes, íamos à vez, até ao golo seguinte. E eu era o que me aguentava mais tempo e o que defendia melhor", recordou Tiago Sá.
E foi assim até ao dia em que chegou à rouparia do Estádio 1.º de Maio decidido a pedir um equipamento diferente; afinal, queria experimentar a sensação de ser guarda-redes a tempo inteiro. Corriam os primeiros meses de 2005 e, do nada, Tiago Sá encontrou a vocação que acabou por lhe dar tudo. Aos 15 anos, e ao mesmo tempo que o primo era dispensado do Braga, Tiago começava a ganhar consciência de que o futebol podia ser uma coisa séria. Por essa altura, já o guarda-redes tinha esquecido o desejo de marcar golos e até mudado de ídolo - trocou Ronaldo Fenómeno por... Iker Casillas. O guarda-redes passou a sonhar com o dia em que voaria para defender como o espanhol, que já multiplicava títulos no Real Madrid. Tiago também gostava - e continua a gostar, claro - de Buffon, mas era Casillas quem mais lhe enchia as medidas.
Este sábado, a vida proporcionou a Tiago Sá, sócio 4966 do Braga, a possibilidade de defrontar pela primeira vez na sua casa, a Pedreira, uma das suas principais referências futebolísticas de infância. Vai ser outro dia para nunca mais esquecer...
Campeão antes da longa espera
Internacional português nos escalões de sub-18, sub-19 e sub-20, Tiago Sá foi um dos principais responsáveis pelo título de juniores conquistado pelo Braga na época 2013/14 (na página ao lado, está a segurar o troféu com António Salvador). No ano seguinte foi promovido à equipa B, pela qual somou um total de 127 jogos na II Liga, boa parte deles sob orientação de Abel Ferreira, que fez dele o capitão. Esta época arrancou como terceiro guarda-redes do plantel principal, mas aproveitou a lesão de Matheus, sofrida no final de agosto, para agarrar a oportunidade de se consolidar como titular.
Champions antes dos 10
No próximo sábado vão estar frente a frente o guarda-redes mais velho de entre todos os habituais titulares da I Liga (Casillas, 37 anos, completa 38 em maio) e um dos mais novos (Tiago Sá, 24 anos). A curiosidade é que quando Tiago Sá começou a jogar no Braga, em 2004, Casillas já era uma das referências do futebol mundial. Na altura, o internacional espanhol tinha conquistado dez títulos, oito deles no Real Madrid, dos quais se destacam duas Ligas dos Campeões (1999/2000 e 2001/02), uma Taça Intercontinental (2002), uma Supertaça Europeia (2002) e ainda dois campeonatos espanhóis (2000/01 e 2002/03). No verão de 2004, quando Tiago Sá tinha apenas 10 anos, Casillas também já contabilizava 40 (!) internacionalizações pela seleção principal de Espanha, depois de ter conquistado o título mundial de sub-20 (1999) e o Europeu de sub-16 (1997).