"Centralização dos direitos televisivos? Sem saber as regras do jogo, é um risco"
Declarações de André Varela, Diretor Financeiro do Sporting, um dos participantes do "Webinar Thinking Football: Impacto Económico do Futebol Profissional"
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André Varela, Diretor Financeiro do Sporting, foi um dos participantes do "Webinar Thinking Football: Impacto Económico do Futebol Profissional", que decorreu na tarde desta quarta-feira, abordando uma variedade de assuntos, com destaque óbvio para os efeitos da pandemia de covid-19 no futebol português, mas deixando também a sua opinião sobre a centralização dos direitos televisivos e a importãncia que a presença na Liga dos Campeões continua a representar.
O impacto da pandemia: "É muito relevante, de facto. Quando falamos em futebol estamos a falar de uma modalidade feita para os adeptos, pelo que é estranho ter estádios sem público. No que toca ao Sporting, a venda de Gameboxes, questões publicitárias e patrocínios sofreram fortes constrangimentos com claro impacto nas receitas operacionais. Tivemos de tomar medidas e procurar caminhos alternativos, como foi o caso da nossa loja online que, por outro lado, sofreu um aumento de procura e isso permitiu-nos aumentar as receitas. Mas, basicamente, os clubes tiveram de vender ativos e perderam alguma competitividade com este contexto pandémico, uma vez que, sem ter de recorrer a financiamentos, esta é a outra maneira de procurar capital para fazer face a este período. E a verdade é que vender jogadores é normal, até porque esse é um passo essencial para manter as finanças em dia, bem como a competitividade dos próprios clubes, com este processo a dever ser aliado a uma forte aposta na formação, algo que temos conseguido fazer com êxito no Sporting."
Pandemia e a formação: "No caso do futebol de formação, é difícil contabilizar o impacto a médio prazo. Temos tentado mitigar esse efeito, mas, de facto, o parar de competições em idades tão novas envolve a necessidade de queimar algumas etapas. Penso que aí o reforçar do investimento nestes escalões mais jovens pode ser importante e vamos fazer de tudo para mitigar estes efeitos. Nesta época temos conseguido lançar bastantes jovens ao mais alto nível, o que prova que estamos a fazer um bom trabalho nesse sentido."
Redução de custos: "É um desafio. É difícil fazer esse ajuste e tomar essa decisão, especialmente pela opinião pública e adeptos. Mas depois há aqui um duelo entre o racional e o emocional. Temos conseguido pôr o racional à frente do emocional, muitas vezes, e assim têm-se conseguido resultados, o que é muito gratificante. E é claro que esses ajustamentos têm de ser feitos, de uma forma algo cíclica. Nós fizemo-lo. Somos um país formador e temos dos melhores jogadores do mundo, e a prova é que ontem três portugueses se apuraram para a final da Champions League. O Sporting tem esse know how, e procura sempre formar jogadores e alimentar as nossas seleções. E, nesse processo de formação, é muito importante os jogadores sentirem que a componente de crescimento e exibicional supera a classificação."
Títulos ou dinheiro: "Olhando para o negócio do futebol, fica claro que queremos ter lucros e receitas, mas o objetivo principal não é gerar dinheiro, mas sim conquistar títulos. O desporto é bom para Portugal e leva Portugal para o panorama internacional, algo que o poder político gosta. Mas depois acho que faltam apoios, e isso ficou mais claro neste contexto de pandemia. Não queremos arranjar um regime de exceção, mas também não queremos ser a exceção, tal como acontece no caso do IVA. Depois de quase ano e meio com os estádios fechados seria uma boa medida para a retoma e para não perdermos a qualidade do nosso produto."
A importância da Champions League: "É de facto um game changer. Não só para o Sporting, em particular, mas também para todos os clubes. Se o futebol português quer ser competitivo tem de estar presente nas competições da UEFA e, em particular, na Champions League. E para isso é preciso competitividade."
Acesso direto à fase de grupos: "O mundo do Futebol mudou há cerca de seis/sete anos, altura em que o valor dos direitos televisivos dispararam. E aqui incluo as receitas da UEFA, cujo valor dos prémios aumentou significativamente. Neste sentido, era muito importante para o futebol português conseguir entrar nos chamados Big 5 e conseguir ganhar o lugar que nesta altura é ocupado pela França, tendo sido muito importante, a meio da época passada, Portugal ter garantido dois lugares diretos na Champions e um no play-off de acesso, até porque aumenta a própria competitividade interna."
Centralização dos direitos televisivos: "Sem saber as regras do jogo, é claramente um risco. Mas também vemos isto como uma oportunidade de conseguir um bolo maior. Olhamos para o caso de Espanha, que foi um sucesso, uma vez que todos os clubes conseguiram aumentar as suas receitas, bem como a competitividade da própria competição. Mas vai ser um grande desafio, até porque os operadores também se centralizaram e acabaram por se tornar todos em acionistas da Sport TV. O nosso grande upside é no Internacional e, para tal, temos de ser competitivos, porque essa é a única maneira de o Futebol Internacional olhar para nós com outros olhos."