ENTREVISTA, PARTE VI - Fernando Gomes responde a Rui Costa a propósito da centralização dos direitos audiovisuais e diz que a promessa da Liga é ninguém ficar a perder; Administrador assume que um valor justo seria receber mais do que o atual contrato, mas sem entrar em pormenores. Empréstimos obrigacionistas, sublinha, são excelente forma de financiamento.
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Fernando Gomes confia que Pedro Proença vai conseguir um acordo para a centralização dos direitos de televisão que beneficie os clubes e garante que não haverá qualquer incumprimento por parte do FC Porto.
A respeito da centralização dos direitos televisivos, Rui Costa afirmou que o Benfica não cumpriria nenhuma lei se se sentir prejudicado. Qual é a posição do FC Porto nesta matéria?
-O FC Porto cumpre a Lei, sempre. Se a Lei definir um determinado caminho é esse que seguiremos. A centralização de direitos, o que está em cima da mesa, e o que a Liga assegurou aos seus sócios foi que nenhum clube ficará em condições piores do que as atuais. Ou seja, todos os clubes ficarão em circunstâncias, pelo menos, iguais. Isto só é importante para os grandes, porque os pequenos vão todos ganhar. A Liga garantiu aos clubes que têm os melhores contratos, como é o caso do FC Porto, que se a centralização acontecer, nenhum ficará com menos receitas e proveitos. Foi nessa perspetiva que aceitámos este desafio.
O que seria um valor justo para o FC Porto?
-Maior do que aquilo que recebe agora.
E acredita ser possível?
-Acho que vai ser muito difícil. 2028 vem longe, mas se fosse agora diria que era uma tarefa muito complicada para a Liga. Mas até lá muito vai mudar.
Considera fundamental haver essa centralização para elevar o nível do futebol português?
-Não vejo que seja necessário. A centralização dos direitos só faz sentido para globalmente se ganhar mais, senão não faz sentido nenhum. Ou é um valor acrescentado, e é disso que estamos convencidos, senão é melhor cada um por si. A centralização aconteceu noutras ligas, mas com uma dimensão bem diferente da nossa. Temos a mania de comparar a nossa liga com a espanhola e não tem comparação, falamos de mercados nacionais e internacionais muito maiores. Quero confiar que a Liga, o seu presidente e a equipa que está a tratar disso, o fez com ponderação, deu os passos necessários e vai encontrar o caminho de mais receitas para todos.
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A sucessão de empréstimos obrigacionistas com juros recorde, são uma fuga para frente sem retorno?
-De nenhuma forma. Fazem os clubes e as grandes empresas. No caso dos clubes há uma vantagem em relação às grandes empresas porque, nestas, são grandes instituições que compram as obrigações, enquanto nos clubes são os pequenos investidores. Ou seja, são poupanças que de outra forma não seriam mobilizadas para investimento. Já vamos em 12 empréstimos. É uma forma de financiamento muito interessante e que tem regras definidas e fiscalizadas pela CMVM. Há uma segurança e a prova disso é que a resposta é cada vez melhor.
Mas os juros que pagam também vão subindo...
-Não. Pagamos os juros mais altos ou mais baixos consoante o mercado. Neste momento, o que está a acontecer às pessoas que têm de pagar a prestação da casa? Estão a vê-la aumentar de três em três meses. E vai aumentar outra vez, já foi anunciado pelo BCE. Os juros estão mais caros, mas os que nós pagamos - e isto é relevante por causa de alguns disparates que já li - pelos empréstimos obrigacionistas são mais baixos do que os cobrados pela banca. Que não haja ilusões. Estou a financiar-me mais barato do que se recorresse à banca.