ENTREVISTA, PARTE II - Sobre as últimas notícias e escutas, sem especificar, Emanuel Medeiros, presidente da SIGA, admite que provocam danos.
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A divulgação de escutas do processo Cartão Vermelho voltou a colocar o futebol nas notícias por maus motivos, seja por suspeitas de irregularidades, seja por comportamentos pouco escrupuloso. Factos que Emanuel Medeiros lamenta.
Considerando que é toda a indústria que sai prejudicada com mais suspeitas, o presidente do SIGA pede coragem para legislar no sentido correto e confia uma nova geração pode mudar o estado das coisas
Como vê as últimas notícias sobre o Cartão Vermelho e as escutas que têm sido publicadas que dão a entender, no mínimo, alguns comportamentos pouco éticos?
-Não sou psicólogo ou sociólogo, não tenho um divã onde possa sentar o futebol e seus protagonistas. Mas isto causa uma lesão profundíssima às pessoas que estão sob fogo, aos clubes e a toda a indústria. Muitas marcas e patrocinadores já desabafaram comigo sobre os danos que estas notícias causam na reputação. Espero e desejo uma tomada de consciência para a realidade. Queremos um desporto livre de batoteiros, oportunistas.
O que lhe parece ser mais danoso? As suspeitas, a ausência de condenações?
-Não condeno a Comunicação Social por dar as notícias, esta é o garante da salvaguarda do interesse público. O problema está na ausência de liderança global e ordenamentos jurídicos, nacionais e internacionais. Estão desatualizados e em muitos casos há falta de coragem para legislar no sentido correto. As soluções existem.
Como olha para a transparência dos clubes, das suas finanças e sociedades?
-Não basta a Liga ter no seu site a dizer que o capital social de determinada sociedade desportiva pertence à empresa x em determinada percentagem. E quem é essa sociedade? Onde está domiciliada? Quem está por trás? Não quero um futebol feito de testas de ferro ao serviço de interesses inconfessados, não quero ver investimentos especulativos e selvagens como aqueles que tenho visto proliferar por aí, em que se servem da agonia financeira em que os clubes foram mergulhados para penetrar e, depois de se banquetearem, saírem e atirarem os clubes para um fosso ainda mais fundo do que aquele que estavam. É preciso dar exemplos? Acontece em Portugal, em várias divisões, mas também, em outros países, nomeadamente em Itália onde se espera um tsunami nos próximos tempos. As autoridades policiais têm a missão ingrata porque não têm adeptos, mas que não se ignore o papel fundamental que têm. Até no sentido preventivo. Mas estou convencido que as coisas estão a mudar e que renovação geracional nos clubes, nas ligas e federações também está a trazer novas maneiras de pensar e agir.