Carlos Carvalhal, treinador do Braga, fez a antevisão ao jogo em Arouca (domingo, 18h00), referente à 10.ª jornada da I Liga
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Que jogo espera frente a um Arouca que terá novo timoneiro? "O objetivo é vencer o jogo, enfrentando aqui a nuance da mudança de treinador, que desperta sempre algo psicológico nos jogadores. É algo que pode trazer incerteza na preparação de um jogo, mas também conhecemos bem o Vasco Seabra, que tem um estilo muito próprio. Nesse aspeto conseguimos antecipar muitas coisas e vamos preparar bem o jogo, embora antevendo que seja difícil pelas circunstâncias, pela qualidade dos jogadores e do treinador. Desejo desde já as maiores felicidades ao Vasco, retirando os jogos com o Braga. Vamos com tudo, temos de criar hábitos de vitória. Essa é, por vezes, a maior dificuldade que um treinador tem. Podemos lidar com alguma imaturidade aqui e ali, alguns aspetos técnicos, mas uma grande diferença é teres jogadores que estavam habituados a vencer de vez em quando para passarem a jogar de três em três dias e terem de vencer sempre. Parece coisa fácil, mas não é. São registos diferentes e cabe-nos cultivar essa habituação. Estou muito satisfeito pela evolução forte que temos conseguido nos últimos tempos."
Neste espaço curto de preparação, em que incidiram os cuidados com este Arouca? "A análise feita foi mais por vídeo, juntando aquilo que o treinador anterior fazia e que se pode assemelhar à visão do novo treinador. Fomos atrás de alguns indicadores, somados às ideias do Vasco. Diria que a probabilidade de sermos surpreendidos é muito pequena mas uma chicotada mexe sempre com o psicológico dos jogadores. Também posso garantir que o Braga não será o melhor adversário para o Arouca nesta mudança, estamos sólidos, a crescer e queremos muito vencer o jogo, respeitando o adversário."
Como sentiu animicamente o grupo após vitória sobre o grande rival? "O impacto foi oposto ao que acontecera no último jogo entre Braga e Vitória. Sentimos muito essa derrota, eu senti-a particularmente. Geralmente costumo dormir bem e acordar revigorado mas, desta vez, não foi tanto, demorou-me três dias a fazer o luto e, por dentro, mais ainda. Portanto, esta vitória foi tudo ao contrário, não serviu para andarmos aqui aos saltos, os festejos foram os normais, mas com a consciência que temos um passo em frente num objetivo da época. Era importante assinalar presença na final four. Tenho noção que o meu trabalho é tudo menos fácil, temos de continuar a ir à luta com espírito de vitória."
Já antecipa uma pausa positiva após o jogo com o Sporting? "As pausas são bem-vindas para quem está numa densidade competitiva alta como nós. É bom termos mais oportunidades para treinar, temos o Bambu e o Mbi à porta, estão quase a meter o pé. Estamos satisfeitos por ganharmos opções, ficamos mais fortes com Zalazar e Moutinho e agora também vamos ficar mais fortes. São mais duas opções de grande qualidade e estamos a sentirmo-nos mais fortes."
Agora o Arouca com novo treinador, depois o Sporting com Amorim de despedida. Estão aqui nuances que agravam dificuldades? "Um jogo de cada vez, nunca olho para o adversário que vem a seguir. Apenas focado no Arouca, não quero saber nada de quinta-feira, e, muito menos, do que vem a seguir. Tenho muitas coisas que me fazem olhar para o Arouca, do potencial onze às bolas paradas, o foco está todo aqui."
O treinador e a equipa sentem mais fôlego depois do acesso à final four? "Vamos ser claros. Quando esta equipa técnica entrou jogávamos jogos de vida ou morte, primeiro para continuar nas competições europeias, depois para entrar na Liga Europa. Conseguimos superar, tal como esta possibilidade de entrarmos na final four da Taça da Liga. Olhando à importância do resultado para o campeonato, é importante no sentido que se tivéssemos perdido estaríamos aqui a falar de outras coisas. O Braga vai jogar para vencer todos os jogos que participa. Estamos num registo pontual muito idêntico às últimas cinco épocas, muito bom a nível de golos sofridos, mas sem tanta eficácia ofensiva. Estamos a tentar melhorá-la, a passar confiança aos nossos jogadores. Que isto seja como o ketchup, quando as bolas comecem a entrar não parem. O Roberto a marcar, o Amine também e o Ricardo Horta. Quando isso acontecer vamos fazer mais golos e conseguir mais pontos."
Sente este Braga mais forte nos jogos que algo decidem? "Estamos a um nível competitivo muito alto, num processo de ganhar sempre. Por vezes há detalhes que não são visíveis mas que nos fazem perder pontos. Dou o exemplo de um canto, de um posicionamento num canto, de um hipotético jogador que vai entrar que é obrigado a transmitir instruções de novos posicionamentos. Se ele se esquecer de o fazer, há um momento de caos, que pode custar um golo. Isso acontece menos com jogadores maduros. Nos jogos a decidir, o Braga respondeu sempre e vamos vendo que as circunstâncias e os pormenores vão diminuindo, porque vamos ganhando maturidade. Quando a malta mais velha incorpora os mais novos, a equipa melhora, ganha solidez e os erros manifestam-se menos. Estávamos a jogar a dada altura com muita gente que tinha chegado de processos completamente diferentes. Com o tempo vamos evoluir, ser cada vez melhores. Como já disse, chegaram desconhecidos mas acredito que, no final da época, vão ser bem conhecidos. O processo podia ter sido ao contrário, ter mais gente experiente a acoplar os mais novos, mas não foi possível. Com isso sentimos oscilações e vieram derrotas ditadas por pormenores. Estamos num ponto de evolução, mais maduros mas vamos ter no Arouca um osso duro de roer."
Rendimento de Paulo Oliveira em momento de problemas na defesa? "A exigência para um central no meu tempo era anular um ponta-de-lança, hoje a um central pede-se muita coisa, é o jogador a quem são pedidos mais requisitos. Tem de jogar de cabeça, passar longo, passar curto, posicionar-se, é um conjunto de argumentos que existem que fazem um central de topo. O Paulo Oliveira é um excelente defesa, a nível defensivo tem uma qualidade altíssima, em situações de construção não é de tanta qualidade, é suficiente e satisfaz no que se pede. Mas precisámos de defesas para nos defender, no futebol moderno é tudo muito bonito mas se não tens quem te defenda o castelo, vais sofrer, de certeza! A nível de concentração, o Paulo é muito forte, só não atingiu nível mais alta por outras partes que não domina tanto como outros."