Bruno Varela foi o convidado do primeiro episódio do podcast "DEZANOVE22", o novo programa do Vitória de Guimarães publicado nas páginas das redes sociais do clube.
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Churrasco para comemorar no final da época
"Não bebo álcool, sou o exemplo do grupo. Estou a brincar. Foi um bom ambiente, estes convívios são sempre importantes, não é só dentro do campo que os grupos se fazem. Fora de campo também é muito importante. Estes momentos são bons e nós acabamos por fazer, o que é normal, todos os grupos fazem, e nós também fazemos, com moderação, como é óbvio, alguns [risos]. E não estou de ressaca."
Convívio é importante
"É essencial. Não acredito que os grupos funcionem apenas no dia-a-dia, só no campo. O criar relações fora do campo é importante, vamos jantar de vez em quando com toda a gente que faz parte do staff. Estarmos com o pessoal todo fora do contexto profissional faz-nos conhecer melhor e o ambiente fica muito saudável. Principalmente para os que chegam aio clube."
Exemplo de Ryoya Ogawa
"Veio de uma cultura completamente diferente. Não falava português, nem inglês, no início tínhamos um tradutor e nos convívios que fazíamos, principalmente na pré-época, fazíamos jantares e ele ambientou-se bem."
Os mais forretas do plantel?
"Não vou dizer nomes, mas há pessoas que têm crocodilos nos bolsos. Querem meter ao bolso, mas não conseguem porque têm lá crocodilos. Mas nesse aspecto é tranquilo, porque dividíamos a conta sempre por todos. Não há nenhum escandalosamente agarrado."
Dois Vitórias
"É a minha terceira época aqui em Guimarães, renovei contrato recentemente, é o clube onde estou a passar mais tempo, tirando toda a formação no Benfica. Aqui é onde estou a sentir-me melhor, é onde estou a conhecer melhor o clube, mas em Setúbal fui super feliz, vivi uma época muito boa em Setúbal, foi a minha primeira época na I Liga, será sempre um clube a quem estou muito grato, obviamente que tem coisas menos boas, mas também tem coisas boas, fiquei muito triste quando o Setúbal desceu ao Campeonato de Portugal. É um clube histórico e quando falo do Vitória de Setúbal falo sempre com muito orgulho, muito respeito, porque fui super feliz. As coisas correram muito bem e foi por fazer uma época muito boa no Setúbal que voltei ao Benfica. Fui muito feliz"
Clube especial
"Aqui as coisas têm corrido bem, a massa adepta é especial, diferenciada, não é por acaso que renovei contrato, sinto-me muito bem aqui, sinto-me em casa e a minha família também está muito bem."
Demorou muito a decidir-se pela renovação? Pensou muito nisso?
"Pensa-se sempre, mas quando se consegue aliar a felicidade de estar num sítio em que sentimos estamos em casa é muito fácil. E foi o que me aconteceu. As coisas a correrem-me bem, sabia que tinha mais um ano de contrato, a minha família estava bem, o meu filho sente-se um vitoriano, um vimaranense, o Diego já tem expressões do Norte, nota-se que ele já está enraizado com a cultura daqui, tem amigos na escola. Quando se alia tudo isso acabamos por não pensar muito. Obviamente que todos os jogadores querem melhorar as suas condições, isso faz parte, mas a felicidade de estar aqui e o esforço feito pelas pessoas responsáveis, chegámos facilmente a um acordo. Foi tudo muito rápido, acordámos e acabámos por assinar. Eu fiquei feliz, o clube ficou feliz e isso é o mais importante. Os adeptos também ficaram felizes, qualquer jogador gosta de sentir acarinhado e sentir-se importante e valorizado no clube onde está. Qualquer pessoa gosta de se sentir valorizado no trabalho em que está e isso no futebol é muito importante."
Celton Biai disse que Bruno Varela era uma referência. Sente pressão?
"Não vejo isso como pressão, vejo isso como responsabilidade. Isso tem muito a ver com as nossas atitudes e comportamentos. Nunca deixei de ser quem sou para ser uma referência. Em relação ao Celton tive algumas experiências com ele quando estávamos no Benfica, eu estava na equipa principal e ele na formação. Fui chamado duas ou três vezes para, entre aspas, puxar-lhe as orelhas para tentar falar sobre alguns comportamentos, que fazem parte de quem é jovem. Isso marcou-lhe na altura, mas foi algo que eu fiz com naturalidade. Falei com ele para o ajudar, na boa, por isso vejo isso com naturalidade. Tenho de continuar a ser quem tenho sido, porque isso é que me levou a ser uma referência, um exemplo, e eu tento sempre passar a minha experiência para o Celton, para o Rafa, para o Gui, que tem treinador connosco. Tento ser eu o mais possível porque isso faz com que seja uma referência."
Em Portugal os jogadores são vistos como robôs, não se podem divertir...
"Em Portugal, acho que isso é um bocado cultural. Os jogadores só podem estar no campo, nos treinos, mais nada. Não. Os jogadores têm uma vida: vão ao shopping, vão ao parque com os filhos, vão ao cinema, vão jantar fora, dez vez em quando podem beber um copo, os jogadores fazem coisas normais como as outras fazem. É normal que um jogador se reserve mais um bocadinho quando está num clube de uma grande dimensão, como um Manchester ou um Real Madrid ou mesmo até num dos grandes aqui em Portugal. É normal que não queiram aparecer tanto, porque as pessoas estranham em vê-lo e não dão privacidade aos jogadores. Há países que não é tanto assim. Eu, por exemplo, estive na Holanda e as pessoas não nos passavam muito cartão. Tinha uma grande relação com o Neres, com o Hakim Ziyech, o Tagliafico...eram jogadores com moral, que as pessoas gostavam muito, relacionei-me muito bem com eles, e íamos jantar fora, e sendo importantes, as pessoas não falavam para nós, não nos passavam cartão e aqui em Portugal já não se vê tanto, porque as pessoas estranham mais. Quando era adepto delirava quando via um jogador profissional. Mas os jogadores levam isso na boa e eu não deixo de fazer as coisas normais da vida por isso. Há tempo para tudo, sabemos quando temos estar na linha e quando podemos sair um bocadinho da linha, desde que seja com moderação e profissionalismo."
Música no balneário
"Para que as pessoas saibam e os meus colegas confirmam. Eu só só o DJ do balneário. O pessoal adere muito às minhas músicas. A play-list é sempre a mesma, mas cai bem. Durante a semana ouvem as músicas deles, mas ao fim de semana é a minha play-list. Eu vario muito, reggaeton, Burna boy, kizombas não meto, de vez em quando afro música Julinho, também hip-hop, gosto muito do rap americano. Quando estive de fora foi uma das coisas que eles me disseram: "temos saudades das tuas músicas". Tinham mesmo saudades ou então quem metia as músicas era muito mau. Queixaram-se muito das músicas do Mikey Johnston. É muito bom campo, mas para DJ não. Uma ou outra do Anderson também. Felizmente, voltei."
Jogador que fica mais "aziado"
"Sou um bocado 'aziado' no treino, eu achava que era, mas há colegas que me superam. A pessoa que é mais 'aziada', que dizes bom dia e está chateado de manhã é o Afonso [Freitas]. Gostamos muito dele, é espectacular, mas é aquela pessoa que aparece de vez em quando chateado de manhã. Às vezes chamamos-lhe "O guru mal disposto". Temos o senhor André André, é de uma azia. O André André é mais no treino, desde o meiinho, exercícios posse de bola, joguinhos, se aquilo não está a dar, é de uma azia que dura, mas dura até chegar ao balneário. É competitivo e muito 'aziado'. Esses dois estão no topo, mas também temos o Tiago Silva que também é 'aziado' no treino. Se aquilo não começa a correr bem... Esses três destacam-se."
Pior e melhor jogador com quem jogou
"Quando tinha 16 anos, quando comecei a treinar na equipa principal do Benfica, eu cheguei a apanhar o Aimar, o Saviola. Mas na altura só treinava com eles. Quando estava a competir apanhei um no Ajax, o Frenkie de Jong, que era uma coisa incrível. Fazia tudo e não é por acaso que hoje está onde está [Barcelona]. Os jogadores com quem estou agora são os melhores do mundo. No Benfica apanhei jogadores incríveis, mas dos jogadores com quem jogou o Frenkie está bem lá em cima. Pior nunca tive, há menos bons, mas desse nível como é que é possível estar aqui nunca tive nenhum companheiro assim."
Seleção é um objetivo, adorava voltar?
"Não é uma obsessão, mas é um objetivo e acho que é legítimo. Quando estamos a jogar num clube como o Vitória, com a dimensão que tem, ainda para mais tendo corrido bem o final de época a nível individual e coletivo é normal esperar voltar. Já lá estive, mas isso passa pelo rendimento no clube. A partir do momento em que estamos bem no clube é legitimo pensar que passa chegar lá. Não é uma obsessão, não penso muito nisso. O jogador tem que pensar no clube, no dia-a-dia, e se estiver bem no clube tem a possibilidade de ser chamado à Seleção."
Algum ídolo ou referência?
"Quando era era mais novo sempre gostei muito do Petr Cech, gostava muito do Chelsea, e via como um guarda-redes referência. Hoje vejo o Ronaldo como um exemplo, a vida profissional que ele leva, a resiliência, a força interior e exterior que tem, é um exemplo para todos os atletas. Na parte específica de guarda-redes não há nenhum que veja como sendo o meu favorito. Gosto muito das características do Ederson, gosto muito do Ter Stegen, do Neuer, do Courtois, do Oblak, do De Gea, ou seja, olho para eles e gosto das características de um e de outro, aprecio as qualidades de cada um, mas não tenho nenhum como referência."