Bruno de Carvalho e outros 43 respondem hoje pelo ataque à Academia do Sporting
São 44 os arguidos e hoje realiza-se a primeira audição sobre as agressões a jogadores, staff e equipa técnica do Sporting na Academia de Alcochete
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Arranca hoje aquele que promete ser um dos processos mais mediáticos dos próximos meses - provavelmente anos. O Tribunal de Monsanto, por limitações logísticas do Tribunal de Almada, vai começar a julgar os 44 arguidos do ataque à Academia Sporting, em Alcochete, entre os quais o ex-presidente dos leões Bruno de Carvalho, acusado de quase 100 crimes, com o foco para os 40 de ameaça agravada, 38 crimes de sequestro, 19 de ofensas à integridade física qualificada e ainda de terrorismo.
Ponto de situação: há ainda dois detidos um dos quais o ex-líder da Juve Leo, Mustafá
Este é, aliás, um processo que vai à barra nos exatos termos da acusação proposta pelo Ministério Público, de acordo com a concordância do juiz que liderou a instrução, Carlos Delca. Hoje, em Monsanto, o coletivo de três juízes, presidido por Sílvia Pires, iniciar-se-ão as primeiras audições aos acusados, neste caso aos que entenderem falar perante as altas instâncias antes de os factos serem colocados em cima da mesa e escrutinados pelas respetivas defesas.
Dos 44 arguidos, apenas o antigo líder da Juventude Leonina, Nuno Mendes (vulgo Mustafá), e um outro arguido continuam em prisão preventiva; Bruno de Carvalho está sujeito à medida de termo de identidade e residência, existindo ainda 36 pessoas com pulseira eletrónica. Segundo o Ministério Público, os 41 adeptos, a maioria da Juve Leo, mas também dos Casuals, deslocaram-se ao centro de treinos do Sporting num plano "previamente traçado" e conhecido, argumenta-se, não só por Bruno de Carvalho e Mustafá, mas também por Bruno Jacinto, antigo oficial de ligação aos adeptos.
"Quiseram criar um ambiente de pânico e sofrimento físico e psicológico nos ofendidos (...) e impedir os jogadores da equipa principal de futebol de participar noutras competições, designadamente no jogo da final da Taça de Portugal", sublinha-se na acusação, proposta pela procuradora Cândida Vilar. O processo pode durar dois anos e meio.
Processo chegou à barra nos exatos termos em que o Ministério Público se pronunciou. Antigo líder leonino vai responder por quase 100 crimes, até de terrorismo.
Testemunhas ainda por notificar
Como explicou fonte do Tribunal de Monsanto à Lusa, nenhuma das testemunhas arroladas pelas defesas foi ainda notificada para marcar presença no julgamento, uma vez que primeiro é tempo de saber se algum dos arguidos quer prestar declarações iniciais.
Recorde-se que Bruno de Carvalho apresentou 22 testemunhas, entre as quais Frederico Varandas, presidente dos leões, assim como o líder portista Pinto da Costa. Apresentou, também, recurso para poder colocar questões a Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa.
CRONOLOGIA: DA ACADEMIA AO BANCO DOS RÉUS
15 de maio de 2018
Cerca de 40 adeptos, encapuzados e a maioria membros da Juventude Leonina, cruzam os portões da Academia Sporting e agridem jogadores, staff e até Jorge Jesus. Bas Dost, com um golpe na cabeça, é um dos principais rostos da tragédia.
5 de junho de 2018
A turbulência estava no auge, e após nomeações de vários órgãos sociais transitórios, Jaime Marta Soares, então presidente da Mesa da AG, marca para dia 23 uma assembleia extraordinária para votar a destituição de Bruno de Carvalho e respetiva Direção.
6 de junho de 2018
Após pedidos de demissão de Bruno de Carvalho, rescisões de jogadores, entre os quais o capitão Rui Patrício e a saída de Jesus por mútuo acordo, são detidos mais quatro suspeitos, entre os quais Fernando Mendes, um dos líderes da Juve Leo.
23 de junho de 2018
O fim da era Bruno de Carvalho, que, no Altice Arena, vê votada em larga escala (71,36%) a sua destituição de presidente do Sporting.
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11 de novembro de 2018
Bruno de Carvalho e Nuno Mendes, vulgo Mustafá, são detidos por suspeitas de terem tido conhecimento do ataque à Academia antes deste ter acontecido. Depois de quatro dias de prisão, é-lhes aplicado o termo de identidade e residência e ainda uma fiança de 70 mil euros. No dia 16, o Ministério Público acusa formalmente Bruno de Carvalho de autoria moral.
27 de maio de 2019
Pontapé de saída no processo de instrução, uma espécie de pré-julgamento liderado pelo juiz Carlos Delca, após ter sido adiado em duas ocasiões.
1 de agosto de 2019
O Tribunal de Instrução Criminal do Barreiro decide levar a julgamento 44 arguidos, entre os quais Bruno de Carvalho, indiciado por quase 100 crimes, entre os quais o de terrorismo.
18 de novembro de 2019
Começa o julgamento.