Velázquez, decisivo contra o Marítimo, foi o primeiro guerreiro do Minho distinguido no balneário por Jorge Simão, um especialista em truques motivacionais. Um mundo de surpresas.
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O epíteto "guerreiros do Minho" está a ser levado muito a sério por Jorge Simão. O treinador vê na marca adotada pelo Braga uma importante fonte de inspiração para os jogadores e deu-lhe ênfase ao oferecer uma espada e um escudo, em metal e tamanho reais, ao central Emiliano Velázquez, autor do golo (aos 94 minutos) que ditou a vitória do Braga na Madeira, frente ao Marítimo. A oferenda surgiu no balneário, antes do arranque de mais uma semana de trabalho na Pedreira, e foi apresentada de forma solene, com Simão a declarar que o uruguaio havia sido um guerreiro exemplar. Pouco depois, o Braga entraria numa espiral negativa, agudizada por uma série de quatro jogos sem vencer, incluindo o dérbi com o V. Guimarães e a final da Taça da Liga, pelo que uma nova distinção, na ressaca do embate com o Benfica, será um excelente sinal.
É um flagrante estratagema motivacional e pode mesmo dizer-se que Jorge Simão é uma caixinha de surpresas nessa matéria, inspirado em livros que não pára de devorar e ainda em conselhos transmitidos por Jorge Araújo, antigo treinador de basquetebol e atual presidente da Team Work, uma empresa de consultoria e treino comportamental. Há duas épocas, quando preparava um jogo com o Benfica ao serviço do Belenenses, Simão mostrou à equipa excertos do filme "300", cujo enredo gira em torno do rei Leónidas, que lidera 300 espartanos na batalha contra o "deus-rei" Xerxes, da Pérsia, e o seu exército invasor, com mais de 300 mil soldados. Já nesta época, ainda como treinador do Chaves, surpreendeu na antevisão do jogo com o FC Porto, para a Taça de Portugal, ao falar de uma passagem do filme "Match Point", de Woody Allen: "Alguém diz que prefere ter sorte a ser bom. Não chego a esse limite, mas as pessoas têm muito medo de encarar o fator sorte nas suas vidas, embora a sorte faça parte." Resultado: o Chaves ganhou nos penáltis e seguiu em frente na competição.
Uma boa parte do que Jorge Simão diz à Imprensa destina-se aos profissionais que treina, mas é nos bastidores, longe dos holofotes, que mais vezes os estimula. A propósito da Taça, por exemplo, gravou e mostrou aos jogadores do Chaves os festejos emotivos de Ricardo, ajoelhado perante os adeptos, no triunfo alcançado pela Académica frente ao Sporting no Jamor, em 2011/12, pedindo inclusivamente um depoimento ao guarda-redes, depois de lhe perguntar: "O que sentiste naquela ocasião?" Filmes, mensagens, prendas, tudo é possível com o técnico. Em dezembro, antes da visita do Moreirense, mostrou um cachecol com o número 19 estampado e prometeu que iria oferecer um exemplar a todos os jogadores, desde que vencessem a partida. O Chaves somava 16 pontos e a equipa levou à letra aquela nova mensagem, somando mais três pontos num jogo que se revelou uma verdadeira batalha de trincheiras e em que o pragmatismo dos flavienses levou a melhor.
