Totalista desde a estreia, tem em Alvalade registo que suplanta média na carreira. Eficácia melhorada no passe, no drible e na pressão alta. Jogou sempre à esquerda... que é onde não joga no Sporting.
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Bolasie é até ao momento o reforço mais efetivo que a estrutura liderada por Frederico Varandas assegurou para a campanha de 2019/20.
Totalista desde que se estreou de leão ao peito na visita ao Bessa, a 15 de setembro - somaria 450 minutos nos jogos com Boavista, PSV, Famalicão, Aves e LASK Linz -, o dono da camisola 89 verde e branca tem sido opção "indiscutível" para a frente de ataque nas opções de Leonel Pontes, primeiro, e de Silas, depois.
Entre os novos leões, o avançado é aquele que mais tem jogado - mesmo em posições que não são o seu habitat
E mesmo não sendo chamado para a posição onde, preferencialmente, evoluiu ao longo de toda a carreira - a extrema esquerda do ataque, de onde partia para o centro, fosse ao serviço de Hillingdon Borough, Floriana, Rushden, Barnet, Plymouth Argyle, Bristol City, Crystal Palace, Everton, Aston Villa ou Anderlecht -, Bolasie tem apresentado pelo emblema de Alvalade um rendimento superior ao registo médio verificado ao longo dos anos. O extremo tem sido utilizado como avançado, no corredor central, ou na direita, mas como se pode constatar na informação nestas páginas, tem sido mais interventivo e mais eficaz nessas ações; tem passado menos mas com maior acerto; tem driblado mais e com mais sucesso; e tem sido mais efetivo na pressão alta, conseguindo mais recuperações no meio campo do adversário.
Em suma, é o melhor Bolasie, em novas zonas do terreno. Um jogador reinventado à medida das necessidades da equipa e que está a concretizar o desiderato a que se propôs ao rumar a Alvalade: recuperar a carreira, aos 30 anos.
Pai era o seu maior crítico, afiança ser imune ao luxo
Bolasie nasceu a 24 de maio de 1989 em Lyon, mas aos sete meses mudou-se para a zona noroeste de Londres. Em gosto de 2015, perdeu o seu pai, Gaby Bolasie, antigo internacional sub-21 pelo Congo, vítima de ataque cardíaco. Era a sua grande referência e, como revelou numa entrevista ao "Daily Mail" poucos meses depois, em novembro do mesmo ano, o seu maior crítico. "Ele costumava ver os meus jogos e ligava-me sempre no final de cada partida. Se eu não estivesse estado tão bem, ele dizia-me que eu deveria ter dado um pouco mais, se eu tivesse estado mal, não tinha problema em dizer-me: "Não, não estiveste bem." Era ele o único que o fazia, mas também era o único a dizer-me que tinha de ter liberdade para jogar", referiu Bolasie.
A outro nível, numa outra ocasião e numa outra entrevista, em outubro de 2014, ao "Guardian", o atual dono da camisola 89 dos leões fez mais revelações. Acabara de renovar com o Crystal Palace e vira o contrato substancialmente melhorado. "Não vou tentar viver como Eden Hazard, por exemplo. Tenho um modo de vida completamente diferente. Ele terá sempre a melhor casa, o melhor carro... É fácil ficar deslumbrado por esse lado, mas eu vou continuar a viver com o salário anterior, não vou mudar em nada. Não vou gastar mais por ganhar mais, simplesmente vou pôr o dinheiro no banco. Muitas pessoas começam a ter um estilo de vida diferente quando passam a ganhar mais dinheiro e perdem-se um pouco com isso. Julgo que isso não faz sentido", referiu então Bolasie, que passaria a ser um dos mais bem pagos do Everton em 2016, auferindo 4,2 milhões de euros limpos anuais.
Sem marcar até já deu uma vitória
Primeira escolha desde que chegou a Alvalade, Bolasie deu o seu contributo do princípio ao fim em cinco jogos, mas ainda lhe falta o golo. Ainda assim, já foi determinante num triunfo dos leões: aos 83" da visita ao Aves, isolou-se após combinar com Acuña e acabou derrubado na área pelo guarda-redes dos da casa, Beunardeau. Bruno Fernandes não perdoou, converteu o castigo máximo e o Sporting voltou às vitórias, na estreia de Silas no comando técnico dos leões. Já antes, em Eindhoven, ante o PSV, Bolasie contribuíra para o 3-2 com que o Sporting arrancara na Liga Europa: aos 38", e também após combinação com Acuña, foi derrubado por Hendrix, dando oportunidade ao capitão leonino de reduzir para 2-1. Afinal, agora só falta mesmo... marcar.
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Seleção sempre foi "abre-olhos"
Com nove golos nos 35 jogos pela seleção do Congo, Bolasie, que nunca tinha ido ao país africano antes de ser chamado a representar a equipa nacional, a 24 de março de 2013, reconhece que cada ida ao antigo Zaire é um "abre-olhos". "É uma experiência diferente. Conhece-se pessoas muito humildes, a lutar pela vida. Uma vez fomos visitar uma escola de raparigas. Tinha sido construída devido aos sucessivos casos de violação de mulheres jovens, pelo que foi decidido instruí-las, dar-lhes educação, para não se exporem a determinadas situações", referiu Bolasie, numa entrevista concedida ao jornal "The Guardian" em outubro de 2014.
"Decididamente é mais fácil sair à rua em Londres do que em Kinshasa", referia o jogador, que é um ídolo dos adeptos, ao "Daily Mail" em novembro de 2015, antes de prosseguir: "A atmosfera é absolutamente fantástica, incrível. É óbvio que nunca joguei perante cem mil pessoas em Inglaterra, mas é algo absolutamente incrível." Bolasie fez ainda referência a um jogo que acabara de disputar e em que marcara no triunfo do Congo (3-2) no Burundi, num relvado completamente empapado: "Em Inglaterra, o jogo seria cancelado, mas em África tens de esperar o inesperado."
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O filho fez o pedido
Kelsey é a companheira de uma vida para Yannick. O casal conhece-se desde a infância, mas só em junho de 2016 o agora 89 do Sporting se declarou à sua esposa. Tinha ao colo o filho de ambos, Kaidy, com um letreiro: "Mamã, casas com o papá?" O casamento deu-se seis meses depois, já após o nascimento de Olivia, a filha mais nova. Em 2018, Kasie recusou mudar-se para a Turquia, para o Fenerbahçe.
Sem esquecer as origens
A chegada a patamares altos na Premier League não fez Bolasie esquecer as origens. Ainda em novembro de 2017 voltou ao Hilingdon Borough FC, onde tudo começou no futebol para o agora 89 dos leões. O jogador criou um torneio de três para três que denominou YB3 Kicks Cup e contou com a participação de diversos emblemas da Premier League, além dos miúdos locais.
Rapper virou futebolista
Futebol e música: eis as paixões de Bolasie - para além, claro está, da esposa, Kelsey, e dos filhos Kaidy e Olivia. Paixões que vêm "dos tempos da escola". "Era grime [género de hip-hop] ou jogar à bola na rua", lembra o jogador, que surge aqui ao lado num vídeo no YouTube a rappar no "Lord of the Mics 6" para o avançado do New York Red Bulls Bradley Wright-Phillips, seu colega no Plymouth.
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