Minhotos iniciam “oitavos” no Benito Villamarín, estádio “sem nome” durante anos e que recebeu as cinzas de adeptos
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A luta entre Bétis e Vitória pela presença nos quartos de final da Liga Conferência conhece esta quinta-feira o primeiro episódio. Nas bancadas do Estádio Benito Villamarín estarão dois grupos de adeptos que caminham juntos na paixão que, obviamente, também os afasta.
Conhecidos pela paixão sem limite dos seus adeptos, Bétis e Vitória têm outros pontos comuns: são centenários, foram fundados por estudantes e já choraram descidas de divisão.
As semelhanças entre os dois clubes são muitas e não se quedam pelo entusiasmo dos adeptos, o que até levou a UEFA a considerar o jogo de alto risco - da última vez que se encontraram houve confrontos -, tendo vários pontos comuns nas suas existências. Ambos têm mais de 100 anos e foram fundados por estudantes; conheceram altos e baixos, incluindo descidas de divisão, até estabilizarem. E os seus fãs são reconhecidos por serem dos mais fiéis que há, mesmo nos momentos mais complicados, com a paixão a passar de geração em geração.
Sevilha é conhecida pelo bom tempo, mas, a 24 horas do pontapé de saída do jogo entre Bétis e Vitória, S. Pedro brindou com chuva quem lá andava. O calor mantém-se na forma como os locais recebem os visitantes desta cidade culturalmente rica e que representa a cultura espanhola no seu todo. A energia sente-se e abraça, mesmo quando as condições meteorológicas não convidam a saídas. Faltam muitas horas para o desafio, mas já se sente o frenesim de quem visita o palco deste jogo de alto risco.
Há quem aproveite para comprar as primeiras roupas do clube para os “béticos” mais novos da família. Entrar na loja é sentir a energia do estádio - ou não tivesse cadeiras idênticas às das bancadas - e ver pais a ajudar os filhos a escolher o primeiro equipamento “verdiblanco”, a primeira camisola, a primeira personalização, que nunca esquecerão. Não é à toa que o emblema sevilhano tem como lema “Manquepierda” (mesmo que perca), a marca de quem é incondicionalmente do Bétis, palavra gravada num dos degraus das muitas escadas do estádio .
Nem a morte os afasta
E o amor pelo Bétis pode mesmo ir além da eternidade. O Benito Villamarín é a prova disso. Em junho de 2011, o Bétis decidiu que os seus adeptos poderiam ter as cinzas guardadas por um período de 99 anos no Memorial Real Betis Balompié quando a morte batesse à porta. Por três mil euros, os familiares podiam depositar os restos mortais dos entes queridos naquela que foi para muitos a “segunda casa”.
A decisão foi do polémico presidente Manuel Ruiz de Lopera depois de saber que um adepto foi impedido de levar as cinzas do pai a um jogo, tendo chegado a colocar os restos mortais num pacote de leite. A medida durou pouco e as cinzas que lá estavam depositadas foram trasladadas, numa cerimónia com as respetivas famílias, para o monólito que existe no estádio de homenagem a Miki Roqué, jogador do Bétis que morreu em 2012, e que em todos os jogos é homenageado pela claque ao minuto 26.
Estádio “sem nome” durante 12 anos
A casa do Bétis, o Benito Villamarín, é uma homenagem ao presidente responsável por ter levado o clube pela primeira vez à I Divisão, pela conquista de vários títulos e por um dos períodos de maior sucesso dos “verdiblancos”.
No entanto, durante 12 anos, o estádio ficou conhecido como “sem nome” já que depois da morte de Benito, o seu sucessor, Manuel Ruiz de Lopera, batizou-o com o próprio nome.
A decisão desagradou aos adeptos, que se recusavam chamar-lhe assim. O nome foi restituído ao estádio em votação dos sócios.