Benfiquistas explicam mau momento com "teimosia" de Schmidt e "quebra mental e física"

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AFP
Benfiquistas veem desaire com o FC Porto como motivo para uma "quebra mental e física" na equipa. Gaspar Ramos e Bruno Costa Carvalho, antigos dirigente e candidato à presidência do clube, visam "alguma teimosia" de Roger Schmidt nas apostas. Rui Costa foi ao balneário falar ao grupo.
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"Em oito dias perdemos mais jogos do que em três meses." A constatação é de Bruno Costa Carvalho, antigo candidato à presidência do Benfica, que pede uma "reação" ao grupo liderado por Roger Schmidt. Isto depois de três desaires consecutivos, que os benfiquistas ouvidos por O JOGO, apesar de falarem numa "combinação de vários fatores", explicam sobretudo por uma "quebra mental e física". E com uma origem clara: o desaire caseiro a 7 de abril com o FC Porto.
"Penso que o momento da quebra foi a derrota com o FC Porto. Até aí a equipa estava bem animicamente. Perder em casa contra um adversário direto é sempre mau animicamente. A quebra dá-se com essa derrota", atira João Carvalho, ex-presidente do Conselho Fiscal das águias, numa visão partilhada por Sérgio Nunes, antigo central das águias, que destaca precisamente o lado "mental" da crise encarnada. "Todos pensámos que a primeira derrota, com o FC Porto, não ia afetar, mas a verdade é que se calhar afetou. E depois veio outra com o Inter e agora outro jogo menos conseguido", salienta o ex-jogador.
"Roger Schmidt tem utilizado quase sempre os mesmos jogadores e percebe-se que já há jogadores com mais desgaste do que outros, mas a questão principal é o lado mental", atira Sérgio Nunes sobre a utilização do plantel e Bruno Costa Carvalho e Gaspar Ramos (ex-vice-presidente benfiquista) apontam o cansaço, visando até Roger Schmidt pelas suas opções, que terão acentuado o desgaste. "Há um grupo base no qual o treinador tem insistido e há alguns jogadores cansados e nota-se a quebra de forma", defende Costa Carvalho, enquanto Gaspar Ramos sublinha: "A equipa tem feito um esforço muito grande. Tem um plantel curto e o treinador não tem feito a rotação se calhar necessária face às provas e objetivos em disputa."
A dupla fala até de "alguma teimosia" do técnico alemão quer na utilização das peças quer até no modelo. "Quando algo corre menos bem há alguma inflexibilidade", diz o antigo candidato, enquanto o ex-dirigente, frisa que Schmidt, "muito rígido no modelo", deve "adaptar-se à realidade da equipa que defronta". E dá o exemplo da visita a Trás-os-Montes: "Com o Chaves a baixar linhas era necessário flanquear, penso que devia ter colocado mais um ponta-de-lança e colocar Rafa e Neres nas alas."
Rui Costa no balneário após desaire de Chaves
Presente no Municipal de Chaves, Rui Costa fez questão de dirigir-se de imediato à equipa após o desaire por 1-0 com a formação transmontana. Tal como tinha feito na sequência do percalço caseiro ante o FC Porto, o presidente encarnado falou com os jogadores, renovando a confiança na conquista do título.
Os encarnados permitiram a aproximação dos dragões, que encurtaram o atraso de dez para quatro pontos, mas os benfiquistas ouvidos pelo nosso jornal confiam na celebração no final da época. Bruno Costa Carvalho e João Carvalho assumem-se "preocupados" pela redução da vantagem, mas todos destacam que "o Benfica depende apenas de si". Gaspar Ramos, por exemplo, aposta também em mais quedas dos portistas: "Mesmo que o Benfica perca pontos, o FC Porto também os vai perder."
INQUÉRITO
1 - Encontra explicação para o mau momento da equipa?
2 - Mantém a confiança no título, apesar da menor vantagem?
João Carvalho, ex-presidente do C. Fiscal do Benfica
1 Há dois tipos de quebra: anímica e física, uma liga-se à outra. O momento da quebra foi a derrota com o FC Porto. Até aí a equipa estava bem animicamente. Mas em Chaves, nem o VAR nem o árbitro estiveram bem. É muito estranho, até tendo em conta as pressões indiretas e sibilinas do FC Porto. Foi um jogo em que o Benfica poderia ganhar três pontos, mas não houve arbitragem honesta.
2 Tínhamos dez pontos de vantagem e agora temos quatro. Fico preocupado, mas os jogadores e treinadores têm de pensar que somos nós que estamos à frente. Era muito pior se estivéssemos quatro pontos atrás. Acredito no título. Tenho o meu lugar marcado no Marquês de Pombal.
Gaspar Ramos, ex-vice-presidente do Benfica
1 Há uma quebra física e mental porque a equipa tem feito um esforço muito grande. Tem um plantel curto e o treinador não tem feito a rotação se calhar necessária. A equipa não está bem. O treinador é muito rígido neste modelo, dá a sensação por vezes até de alguma teimosia. Mas acredito no treinador.
2 Confio que a equipa vai mudar e que o treinador será inteligente para mudar o sistema. Mas o FC Porto, com o Santa Clara, jogou pior do que o Benfica, não sei se devido ao cansaço do jogo que fizeram na Luz. Jogou muito mal e vai perder também pontos. Acredito que o Benfica vai voltar a ganhar, mas mesmo que perca pontos, o FC Porto também os vai perder.
Sérgio Nunes, ex-jogador do Benfica
1 É sobretudo uma questão psicológica. Se calhar todos pensámos que a derrota com o FC Porto não ia afetar, mas a verdade é que se calhar afetou. E depois houve mais uma com o Inter. A qualidade está lá, os jogadores são os mesmos. Há que trabalhar a parte mental e fazer com que a equipa volte ao normal. Penso que o jogo com o Inter pode ser muito importante, passando ou não.
2 O Benfica ainda corre o risco de perder o título. Alguns jogadores podem ficar com essa dúvida, mas são profissionais e vários deles têm larga experiência. Há outros mais jovens, mas penso que não deve afetá-los. Não será fácil, até pelo calendário, mas acredito que o Benfica irá conseguir conquistar o título.
Bruno Costa Carvalho, entigo candidato à presidência
1 É uma combinação de vários fatores. Há um grupo base no qual o treinador tem insistido, há alguns jogadores cansados e nota-se a quebra de forma. E a derrota com o FC Porto deixou marcas a nível mental. Há também alguma teimosia do treinador em jogar sempre no mesmo sistema.
2 O Benfica tem quatro pontos de vantagem e é a única equipa que depende de si própria. Estamos numa posição confortável, ainda que com um calendário muito complicado. É preciso reagir. Claro que acredito no título, o clube tem a faca e o queijo na mão. Temos um trauma passado e isso é que nos tira o sono. Estou preocupado, mas não há campeões sem dor. Este campeonato estava muito fácil.

