"Aursnes pode jogar em todo o lado, menos a guarda-redes, porque precisa de correr"

Indiscutível para Roger Schmidt, Aursnes prepara-se para cumprir esta sexta-feira diante do FC Porto uma marca especial na carreira: vai atingir os 400 jogos por clubes, 51 dos quais pelo Benfica. Contratado para reforçar o meio-campo em 2022/23, o camisola 8 destacou-se, contudo, pela sua versatilidade. Tem sido visível em jogos grandes e pode repetir-se no clássico da sétima jornada.

Isto porque frente aos rivais FC Porto e Sporting Aursnes já jogou como extremo esquerdo, lateral direito e... segundo avançado (na Supertaça) de início e ainda como médio ofensivo no decorrer das partidas. Pode agora, caso Bah recupere da lesão no pé esquerdo sofrida com o Portimonense, estrear-se numa nova função neste tipo de jogos: a lateral esquerdo, onde alinhou nos derradeiros sete encontros.

Lars Nilsen, técnico que o lançou ainda com 16 anos pelo Hodd, a 22 de abril de 2012, recorda um "miúdo muito especial". "Em tantos anos nunca vi alguém como ele. Era realmente especial, via-se logo com 15 anos quando começou a treinar connosco. Entrou na primeira equipa e aos 16 decidimos que tinha de jogar. Vimos que era ouro. Pode jogar a qualquer nível e em qualquer posição", atira a O JOGO, não se mostrando surpreendido com as opções de Roger Schmidt em rodar o camisola 8 pelo terreno. "Pode mesmo jogar em qualquer posição. É realmente completo e um maratonista, pode jogar quase em todo o lado, menos a guarda-redes, porque ele precisa de correr", atira, em jeito de brincadeira, e explicando: "Sabe fazer tudo e corre quilómetros. Tem essa capacidade de adaptar-se e de cumprir."

Garantindo que continua atento ao percurso do seu ex-pupilo recorda como o utilizava. "Jogávamos em 4x3x3 e utilizávamo-lo sobretudo no meio-campo, fosse como médio ou como extremo. É melhor numa posição onde possa correr para os dois lados do campo, no meio-campo ou no ataque. É muito rápido e pode correr muito tempo", descreve, comentando a opção recente de Schmidt: "Como lateral também cumpre, apesar de não ser a melhor posição."

"Tenho visto os jogos pela televisão. Mas como sou treinador também é difícil ter a oportunidade de ir a Lisboa vê-lo ao vivo. Sigo-o também porque o meu filho é amigo próximo dele", revela o atual técnico do 07 Vestur, das Ilhas Faroé, considerando que Aursnes "está muito bem no Benfica". "Ele gosta de estar no clube, das pessoas e da cidade. É bom para ele e para o Benfica. É uma combinação perfeita", sublinha, destacando o rendimento, que o pode atirar para outro patamar ainda: "Tem estado a alto nível. Aliás, é dentro do que é capaz. Está num grande clube, a jogar muito bem, e tem qualidade para jogar numa das cinco principais ligas da Europa."

Com a afirmação na Luz, Aursnes assumiu-se também na Noruega. "Já o queria ver há muito na seleção, já merecia há muito. Agora é um dos melhores e mais importantes da seleção", defende, recordando que "ao início não queria ir à seleção". "Queriam levá-lo, mas ele entendeu que não. Queria divertir-se e jogar por prazer, não queria ser pressionado. Nunca pensou em ser uma referência mundial, jogava futebol porque o fazia com os amigos. Nunca foi pressionado por ninguém."

Capacidade provada de imediato

Lars Nilsen recorda-se bem dos primeiros tempos em que trabalhou com Fredrik Aursnes. O técnico, que orientou o atleta no Hodd, recorda que no primeiro treino ficou de imediato marcado. "Para ver a sua capacidade coloquei-o num exercício a três toques numa área reduzida e com os melhores da equipa. Ele conseguiu sempre responder. Nunca tinha visto um miúdo fazer aquilo. Era algo natural", conta, lembrando que "era um rapaz descontraído e que jogava por prazer". "Nunca estava stressado nem ansioso", acrescenta.