"Atendendo à profissão e à idade não são grupo de risco, mas têm receio em relação à família"
Jorge Silvério, primeiro mestre português em Psicologia do Desporto, falou esta segunda-feira do regresso do futebol e das regras impostas aos futebolistas no parecer técnico da DGS
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Jorge Silvério, primeiro mestre português em Psicologia do Desporto, esteve esta segunda-feira na RTP, tendo abordado as consequências da pandemia de covid-19 no futebol. "Em relação à pandemia, houve uma primeira reação de choque, de incredulidade em relação ao que era a pandemia, depois uma fase de habituação com alguma novidade: vamos ter de ficar fechados em casa, mas podemos fazer algum exercício, vamos ter de nos adaptar; depois, uma terceira fase de cansaço, em que isto já começava a saturar, já pediam para sair do ambiente, pediam contacto com a bola. e agora estamos numa de esperança, mas de algum receio, que é o que acontece com todos nós", disse o psicólogo que foi o primeiro Provedor do Adepto da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, ente 2009 e 2013.
O que pesa mais, lado desportivo ou emocional? "É uma mistura das duas coisas, por um lado o desportivo, querem voltar a desempenhar a profissão deles, e por outro lado a questão do receio, não só por eles, porque a grande maioria, atendendo à profissão e à idade, não são, claramente, grupo de risco, mas alguma receio em relação à família. De qualquer maneira, estas regras colocam acima de tudo o fator primordial que é a saúde. Se calhar, tirando os profissionais da saúde, serão dos profissionais mais acompanhados e testados, portanto, todas estas regras visam manter a saúde, que é o mais importante, permitindo aos jogadores alguma normalidade no regresso à competição", disse.
"Dadas estas normas, este respeito pela saúde, os jogadores têm perfeita consciência de que estão perfeitamente vigiados e de que está tudo a ser feito para que as coisas corram bem. É natural haver este receio, mas, desde que isto seja comunicado, desde que eles percebam exatamente o que estão a fazer, esta esperança do novo normal faz todo o sentido, porque eles gostam muito e estão novamente a praticar a profissão que escolheram. Isso é extremamente importante e temos de caminhar para uma normalidade, em todas as áreas da nossa vida", acrescentou Jorge Silvério.
Questionado sobre as regras de isolamento, referidas no parecer técnico da DGS, a que os jogadores estarão obrigados num período em que a prática geral aponta para o desconfinamento, Jorge Silvério compreende regras diferentes. "É normal que, em função da especificidade das profissões, haja regras diferentes. Aquilo que vai haver é, durante um curto período de tempo, enquanto se disputam os jogos que faltam para acabar a I Liga, que haja um conjunto de regras que os jogadores têm de respeitar, tal como outras profissões", concluiu.