Rúben Amorim aposta num esquema alternativo que não contempla a utilização de um "9" de referência no corredor central.
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Foi sem um "nove" de referência que, na terça-feira, o Sporting conseguiu superiorizar-se à Roma de José Mourinho.
Com Paulinho no banco, Pedro Gonçalves atuou na maior parte do tempo como "falso nove", formando um tridente ofensivo assente em constantes trocas de posições. Rúben Amorim sorria de satisfação: mais uma vez, dava bons resultados este plano B que não contempla a existência de um "nove fixo", tal como já acontecera na época passada, quando Tabata, Sarabia ou Pote também atuaram segundo estes pressupostos. E quem sabe se não pode transformar-se a curto prazo, ele próprio, no modelo prioritário dos verdes e brancos.
Segundo Hugo Martins, os leões têm o plantel ideal para a receita funcionar. A mutação está à vista. Uma nova vida no ataque leonino está em perspetiva. "Na ausência de um jogador referência de corredor central, a equipa tenta criar espaço através da mobilidade. A verticalidade e a capacidade de jogar em espaços reduzidos de alguns jogadores deste plantel permitem que esta dinâmica funcione", afirma o treinador que, em 2021/22, esteve à frente de Os Belenenses, numa temporada que acabou por conduzir os azuis a um patamar acima, mais concretamente à Liga 3.
"Quando há muita mobilidade na frente de ataque, surge sempre algum espaço entre a defesa adversária. E os jogadores no Sporting são capazes de acelerar, têm alguma verticalidade e são fortes no um contra um", acrescentou, defendendo a supremacia desta opção relativamente à anterior, com Paulinho no eixo.
No futebol mundial, a substituição de um ponta de lança de referência por um "falso nove" ganhou popularidade em 2008/09, quando Pep Guardiola percebeu que a criatividade de Messi poderia funcionar na qualidade de homem mais adiantado, dispensando um "nove" guardado a sete chaves pelos centrais. Pelo contrário. Sem ninguém para marcar, os defesas não sabiam o que fazer, ficando à mercê dos finalizadores, vindos de trás. O estilo ganhou seguidores. Amorim é um deles.
Foi sem "nove" fixo que a Espanha venceu Europeu
Vicente Del Bosque surpreendeu o mundo quando, à frente da Espanha, abordou a final do Europeu de 2012 sem nove fixo. Fàbregas foi o médio escolhido para a função, acabando a Itália destroçada por 4-0. Mais recentemente, o Liverpool recorreu também à mobilidade do trio da frente, sem um nove fixo. No Sporting, quando não há Paulinho, também não há problema. "É muito positivo e pode perfeitamente ser o plano A. Acrescenta valor à equipa", considera o treinador Pedro Bouças a propósito de uma nuance que deixa Rúben Amorim com razões para repetir a aposta.
Três questões a Pedro Bouças, treinador de futebol
"Pode perfeitamente vir a ser o Plano A"
1 A ausência de um nove de referência pode ser vantajosa para o Sporting?
-O facto de haver variabilidade, de tornar o jogo diferente daquilo que é habitual (por vezes rotinado e identificável), traz dificuldades aos adversários. Sobretudo porque são jogadores com elevada qualidade técnica e muita qualidade de definição no ultimo terço. Isto faz muita diferença. Se juntarmos Trincão, Edwards e Pote, há condições para se fazer mais do que aquilo que faz o Paulinho, mesmo sendo um avançado de raiz. É muito positivo e pode perfeitamente ser o "plano A". Acrescenta valor à equipa.
2 A utilização deste modelo não é mais difícil de assimilar pelos jogadores?
-Parece-me fácil porque estamos a falar de jogadores inteligentes e de um treinador que potencia, mais do que ninguém, estes movimentos. Não me parece que seja difícil acertar a dinâmica com estes jogadores de que estamos a falar. Eventualmente, o Sporting pode perder algo em jogos com adversários que defendam muito baixo, porque não são jogadores que respondam a cruzamentos. Mas ganha qualidade na criação curta, na entrada de jogo pelo corredor central e em ataque rápido fica com grande qualidade e difícil de parar. Pensando bem, não diria que terão mais dificuldades contra blocos baixos por uma razão: o Paulinho também não é aquele goleador que resolve problemas contra equipas de bloco baixo. Se o Sporting tivesse, por exemplo, um Mário Jardel, aí sim, ficaria a perder. O Paulinho é um jogador mais fixo e de área, mas a verdade é que, como também não tem o rendimento esperado no momento da finalização, o Sporting não perderá isso, porque já não o tinha à partida.
3 Do plantel, qual o jogador mais adequado para ser o "falso nove"?
-Talvez o Pote, porque recebe muito bem entrelinhas e alimenta bem os colegas. Depois, o Edwards e o Trincão são jogadores com maior capacidade de drible e com maior capacidade para cair nos corredores laterais do que o Pote. São os três melhores atacantes do plantel e o Sporting fica mais forte juntando os três melhores jogadores de características ofensivas, mesmo não tendo um nove de raiz.