TEMA - Foco de grande polémica desde há décadas, as situações de bola na mão ou de mão na bola voltaram a merecer (mais um) ajuste por parte do IFAB, agora com os golos a serem considerados legais caso o autor do remate receba involuntariamente o esférico da mão ou braço de um colega. O JOGO reuniu um painel de jogadores e técnicos que, maioritariamente, se mostram baralhados com tantas mexidas no coração da lei do seu trabalho.
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O diabo está nos detalhes", aponta um ditado popular e ele bem se poderia aplicar ao momento vivido pelas regras do futebol moderno, sucessivamente ajustadas, revistas e corrigidas, em particular no último par de anos.
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Não foi só a introdução do VAR e da tecnologia de baliza que mudaram o futebol atual mas também as múltiplas mexidas do International Board (IFAB), entidade responsável por traçar os limites da legalidade do desporto mais visto em todo o mundo. A mais recente "sacudidela" aconteceu no início deste mês e promete voltar a mudar o prisma com que jogadores, treinadores, adeptos e árbitros irão olhar, a partir de 1 de julho próximo, para alguns lances, entre eles as sempre polémicas mãos na bola ou bolas na mão nas grandes áreas. Foi revertida para a próxima época, por exemplo, a anterior lei: agora, se um jogador receber uma bola vinda de forma involuntária da mão/braço de um colega e marcar golo, este passará a ser legal.
O JOGO pegou em vários dos ajustes nas leis do futebol, os mais recentes sintetizados em cima, para ouvir um vasto painel de intervenientes - jogadores, treinadores e representante da arbitragem - que se têm de adaptar às múltiplas mudanças nas leis de jogo e a maioria entende que ajustes a um ritmo anual e, por vezes, mais frequente, geram complicação e baralhação. "É um processo um pouco confuso, porque os jogadores tentam protestar decisões para as quais não estão muito bem informados. Estas constantes alterações confundem atletas e treinadores, retirando naturalidade ao futebol", aponta Beto, campeão da Europa e que agora assinou pelo Farense. O guardião assume que "há jogadores que acabam por se informar das novas regras por outros colegas".
Ainda com a época em curso, o International Board já anunciou nova sacudidela nas regras para 2021/21. Intervenientes diretos admitem confusão com tantas mexidas
Na perspetiva dos defesas, os duelos nas áreas passaram a ser dramáticos. "Neste momento, nem sei qual o critério, se é bola na mão, mão na bola, se é penálti ou não. Isso afeta-nos pois vemos critérios diferentes. Quando vamos à bola, pensamos nas mãos e tentamos nem tocar no adversário pois o VAR não analisa força ou intensidade. Antes, ia de uma maneira mais impetuosa, agora já salto a pensar em mãos e cotovelos", assume o central João Meira, jogador do Cova da Piedade que passou duas épocas na MLS: "Lá sentia-me muito menos condicionado, até porque a decisão é muito mais rápida."
Mãos escondidas para prevenir os "acidentes"
Também com experiência nos Estados Unidos, Pedro Santos, do Columbus Crew, explica que lá é habitual haver "uma reunião de pré-temporada entre as equipas e Howard Webb [ex-árbitro inglês que se tornou manager da associação de árbitros norte-americanos]", onde "todos ficam com uma noção perfeita do que vão encontrar". "Quando tenho a bola não penso se a posso tocar ou não com a mão, porque o objetivo é jogá-la com o pé [risos]. A defender é que tive sempre a preocupação de colocar as mãos atrás das costas", conta o extremo. Uma cautela que Bruno Sousa, lateral do Casa Pia, também tornou um hábito: "Há avançados que procuram aproveitar a volumetria, tentando acertar-nos com a bola nos braços."
Se os defesas estão em alerta, também os avançados não descansam "A questão da mão na bola é um pouco dúbia. Quando um defesa está próximo, sinto-me penalizado por ter de me defender de uma bola ir ao braço. Com mudanças de meses a meses, andamos mais preocupados com as limitações do que com o momento do jogo", lamenta Edinho, avançado do Cova da Piedade.
Treinadores já viram condicionamentos
As preocupações dos jogadores têm eco nos treinadores, ainda que de formas diferentes e, segundo os que O JOGO abordou, com menos dramatismo. Jorge Silas, ex-técnico de Belenenses, Sporting e Famalicão, entende ser injusto limitar a liberdade dos defensores e mostra-se satisfeito por ver que serão despenalizadas as mãos acidentais, não escondendo haver "alguma inibição na maneira como os jogadores abordam os lances". "Se uma bola bater acidentalmente numa mão, isso não deve ser penalizado. Os defesas que levam as mãos atrás das costas têm mais dificuldades em defender e isso é injusto porque os condiciona. Eu não digo aos meus jogadores para o fazerem e, se a bola bater na mão, azar", alega o treinador que se mostra favorável às mudanças: "Os ajustes são feitos para melhorar e acho-os normais na evolução no jogo." Já sobre a marcação excessiva de faltas, Silas luta contra isso. "Nos treinos temos um critério muito mais alargado do que os árbitros nos jogos. Não apito faltas e faltinhas", frisa.
"Os defesas que levam as mãos atrás das costas têm mais dificuldades em defender e isso é injusto porque os condiciona. Eu não digo aos meus jogadores para o fazerem e, se a bola bater na mão, azar"
Também Pedro Caixinha que trabalhou no México, Arábia, Escócia e Catar, já viu equipas suas sofrer com as mudanças nas leis do jogo. "Em particular nas bolas paradas na grande área já vi baixar a agressividade nalguns lances de um contra um e já aconteceu um par de vezes sofrermos golos por isso", recorda o treinador que, apesar disso, defende a maior definição das regras. "Isso tem melhorado o jogo porque favorece quem tem mais qualidade. As alterações obrigam-nos a uma melhor preparação", justifica. Já António Pereira, atualmente no Alverca mas com longa carreira no futebol nacional, desvaloriza o peso dos sucessivos avanços e recuos nas leis do jogo: "As questões relacionadas com mãos na bola continuam a depender da interpretação dos árbitros, por isso para mim, fica tudo igual. Por isso, não faz sentido ligar em demasia a essas alterações."
ALTERAÇÕES E CLARIFICAÇÕES MAIS RECENTES ÀS LEIS DO JOGO
A PARTIR DE 1 DE JULHO DE 2021:
Caso o jogador introduza a bola na baliza adversária com a mão ou na sequência imediata de um toque com a mão, ainda que acidentalmente, o golo será anulado. A infração deixa de existir se um colega de equipa tocar acidentalmente na bola com a mão numa situação que conduza a um golo ou a uma oportunidade de golo..
ANTES:
Caso o jogador introduza a bola na baliza adversária com a mão ou na sequência imediata de um toque com a mão, ainda que acidentalmente, o golo será anulado. O mesmo equivale se um colega toque involuntariamente com a mão na bola na jogada que conduza a golo ou a oportunidade.
A PARTIR DE 1 DE JULHO DE 2021:
No caso de uma ação defensiva só é considerada uma mão deliberada quando há um gesto ostensivo do braço em direção à bola. Relativamente à volumetria nem todas as mãos na bola serão punidas: só serão consideradas as volumetrias anormais ou injustificadas.
ANTES:
Numa ação defensiva mantém-se a penalização para os futebolistas que jogarem deliberadamente a bola com a mão ou quando o movimento das mãos provocar uma volumetria.
JUNHO DE 2020:
Toque na bola com a parte superior do braço, junto à axila, deixa de ser considerado infração.
ANTES:
Toque na bola com a parte superior do braço, junto à axila, é considerado uma infração.
JUNHO DE 2019:
O jogador substituído deve abandonar o relvado no ponto mais próximo da linha delimitadora.
ANTES:
O jogador que vai substituído deve abandonar o relvado pela linha de meio-campo.
JUNHO DE 2019:
O árbitro deve tomar medidas contra elementos do banco que não tenham um comportamento responsável, podendo avisá-los ou mostrar um cartão amarelo ou vermelho.
ANTES:
O árbitro deve tomar medidas contra elementos do banco que não tenham um comportamento responsável, podendo expulsá-los.
JUNHO DE 2019:
O árbitro executa a bola ao solo para um jogador da equipa que tenha tocado na bola pela última vez no local onde esta foi tocada. Os restantes jogadores têm que estar a 4 metros da bola.
ANTES:
Qualquer número de jogadores pode disputar uma bola lançada ao solo e o árbitro não tem poderes para decidir quem pode disputar uma bola lançada ao solo ou o seu resultado.
JUNHO DE 2019:
Quando uma barreira é formada por três ou mais defesas, todos os atacantes adversários devem permanecer a, pelo menos, 1 metro de distância da barreira.
ANTES:
Quando uma barreira é formada, os atacantes adversários podem estar a qualquer distância dela.
JUNHO DE 2019:
No pontapé de baliza, a bola está em jogo quando for pontapeada e claramente se mova.
ANTES:
No pontapé de baliza, a bola está em jogo logo que saia da área de penálti.