Atividade económica da sociedade durante o segundo semestre de 2023/24 resultou na apresentação de contas negativas pela segunda temporada consecutiva. Capitais próprios melhoraram em relação ao período homólogo, mas mantêm-se negativos, até porque a CMVM reviu em baixa a avaliação feita em dezembro ao estádio.
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Os últimos dois exercícios contabilísticos da FC Porto SAD encerraram com prejuízos acumulados de 68,69 M€. Ao resultado negativo de 47,627 milhões de euros (M€) de 2022/23, a sociedade azul e branca acrescentou outro de 21,063 M€ em 2023/24. A conclusão da atividade económica dos dragões na temporada anterior foi divulgada ontem, através da publicação do relatório e contas na CMVM, e será explicada esta manhã, numa conferência de Imprensa a realizar no Estádio do Dragão.
Os receios manifestados por José Pereira da Costa sobre o desempenho da SAD, manifestados em meados de março, quando ainda era aspirante a CFO da sociedade, foram confirmados. Depois de a anterior administração, que permaneceu em funções até 27 de maio, ter anunciado resultados positivos de 35 M€ a 31 de dezembro, as atividades que se seguiram fizeram descambar a contabilidade. Os capitais próprios continuam, afinal, bem distantes de terreno positivo, embora tenham melhorado significativamente em relação a 30 de junho de 2023. O valor cifra-se agora nos 113,761 M€ - menos 62,219 do que no período homólogo anterior (175,980) -, à boleia de um crescimento do Ativo para os 407,113 M€, motivado pela reavaliação realizada ao Estádio do Dragão. Contudo, a quantia apontada ao recinto em dezembro (279 M€) suscitou dúvidas ao regulador, pelo que em março foi iniciado um processo de discussão que resultou na revisão da quantia apurada para os 213 M€ - ainda assim superior ao seu registo, que é de 167 M€.
O Passivo registou um pequena diminuição, passando dos 532,272 M€ no exercício precedente para os 520,875 M€ no atual. Apesar do acréscimo das dívidas a pagar a fornecedores, o valor global dos empréstimos baixou 56,012 M€, o que representa um corte de 18% do passivo remunerado do grupo em relação ao período anterior. Do lado da despesa, porém, verificou-se um aumento dos custos operacionais excluindo passes de jogadores em 10,419 M€, ainda que os custos com o pessoal tenham baixado para os 89,419 M€ (menos 5,995 M€) do que a 30 de junho de 2023. A subida explica-se com a multa (1,5 M€) aplicada pela UEFA, devido ao incumprimento do Fair Play Financeiro, mas também com o crescimento do valor despendido pelas mercadorias vendidas, provocado plo aumento das receitas obtidas com merchandising, que teve impacto nos proveitos operacionais (subiram de 166,007 M€ para os 174,499 M€).
Ithaka já avançou com 50 M€
O acordo com a Ithaka no âmbito da exploração comercial do Estádio do Dragão por um período de 25 anos foi concluído no final de outubro. A empresa com sede em Espanha já entrou com 50 M€ para ficar com 30% da Porto Stadco, empresa do grupo FC Porto criada no dia 11 do mês passado através da cisão da Porto Comercial. A verba permitiu aliviar a pressão de tesouraria dos azuis e brancos, que a 23 de setembro criaram também a sociedade Dragon Notes, cujo objetivo é a prestação de serviços de consultoria, gestão, planeamento estratégico e investimento em sociedades comerciais.
Villas-Boas vinca “encerrar de um ciclo”
Os resultados negativos apresentados ontem pelo FC Porto correspondem, segundo André Villas-Boas, “ao encerrar de um ciclo, da responsabilidade da anterior administração”, liderada por Pinto da Costa, que “terminou o mandato em 27 de maio deste ano”. Na mensagem que acompanha o documento onde foram dissecados os movimentos da SAD de 1 de julho de 2023 a 30 de junho de 2024, o novo presidente portista promete “um renovado ciclo” para a sociedade azul e branca, “em que a sua sustentabilidade financeira, aliada ao sucesso desportivo, serão uma prioridade”.
Villas-Boas explica que depois da tomada de posse na SAD, que aconteceu apenas a 28 de maio, foi “imediatamente iniciado um aprofundado levantamento da realidade do FC Porto no seu todo, o que permitirá preparar o clube, dos pontos de vista estratégico e tático, para a alteração do seu paradigma de governança e gestão”. O líder máximo dos dragões acrescenta ainda que essas alterações “permitirão, quer aos seguidores do clube, nomeadamente os seus associados, quer os restantes stakeholders, vir a reencontrar, num futuro próximo, um FC Porto liderante, para além do sucesso desportivo, também nos seus resultados económicos, sociais e financeiros”.
FACTOS
EBITDA triplicou no espaço de um ano
Não obstante o resultado líquido negativo, o EBITDA (ganhos antes de impostos) atingiu os 60,283 M€. No exercício anterior, ficou-se pelos 23,108 M€.
AVB fez empréstimo e não cobrou juros
Na rubrica “Papel Comercial e outros” consta um empréstimo de 500 mil euros realizado por André Villas-Boas em... maio. O reembolso ocorrerá até janeiro de 2025 e não contempla juros.
Factoring supera os 90 M€
Entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2024, a SAD portista realizou dois contratos de factoring: um em fevereiro, ainda com Pinto da Costa na liderança, de 93,3 M€ e outro em junho, já com Villas-Boas, de 7,5 M€.
Valores de Otávio e Chico revelados
Francisco Conceição e Otávio foram as únicas contratações do FC Porto no segundo semestre. A aquisição do central ao Famalicão teve um custo total de 13 M€, incluindo 1,2 M€ de encargos adicionais, e a do extremo ao Ajax 9,3 M€.
Resultado operacional negativo
Os resultados operacionais excluindo resultados com passes de jogadores, foram negativos em 1,966 M€, verificando-se um ligeiro agravamento face ao exercício homólogo, em que foram praticamente nulos.
Bilheteira e sócios deram um salto
Os dragões registaram um crescimento ao nível das receitas de bilheteira, passando dos 10,801 M€ no exercício de 2022/23 para os 11,855 M€ no de 2023/24. O número de sócios aumentou 4,6% entre 1 de junho de 2023 e 30 de junho de 2024.
Indemnização no “Bilhete Dourado”
Depois de ter pedido uma indemnização de 5 M€ no âmbito da operação “Pretoriano”, o FC Porto quer ser ressarcido pelas perdas que entende ter acumulado pelos factos que levaram ao aparecimento do processo “Bilhete Dourado”.