I LIGA >> As taças costumam ser as vias preferenciais de entrada nas equipas principais, mas esta edição do campeonato português tem um elevado número de estreantes com menos de 21 anos, nas equipas com maiores responsabilidades. A aposta nos miúdos tem ganho força e pode revestir-se de utilidade no pós-pandemia
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Apareceram em força e prometem ficar: a edição 2019/20 do campeonato português está marcada não apenas pela interrupção provocada pela pandemia de covid-19, mas também pela forte aposta em jovens. Até à conclusão da jornada 30, Fabiano Souza e Leandro Sanca, do Braga, foram os últimos jogadores sub-20 a somarem os primeiros minutos na I Liga e a reforçarem uma tendência que, não sendo inédita, tem uma expressão vincada esta temporada.
Entre as principais ligas, a portuguesa é a que tem mais jogadores até 20 anos lançados pelos quatro primeiros classificados. Reflexo de uma aposta cada vez mais forte
Como evidenciam os quadros publicados, Portugal tem, de forma destacada entre as seis principais ligas, o campeonato com mais estreias de jogadores até 20 anos promovidas pelos quatro primeiros classificados. Foi escolhido este critério por tratar-se de equipas que, em tese, têm outros argumentos financeiros e uma necessidade menor de, na principal prova e na qual têm maior exigência, recorrer de maneira sustentada a valores que ainda dão os primeiros passos na carreira. A I Liga sobressai não apenas pelos 18 jogadores que se estrearam no top-6 europeu, mas também, genericamente, pelos minutos de utilização, embora seja sempre necessário algum contexto e enquadramento. Por exemplo, há quatro jogadores do Sporting com menos de 50 minutos nas pernas, mas também são uma aposta recente do treinador Rúben Amorim, e que já se percebeu que terá continuidade.
Já o Bayern Munique, além da revelação Joshua Zirkzee, ofereceu uns minutos na Bundesliga a três miúdos para se sagrarem campeões, mas não é segredo que se trata de um clube descomplexado com os novatos - apostou em Renato Sanches em 2016. Por outro lado, há equipas sem amostra ou com presenças episódicas destes jogadores, e depois temos os fenómenos como Ansu Fati, do Barcelona, ou Erling Haaland, do Dortmund. E se as comparações com a elite europeia são normais, a referência à liga holandesa torna-se inevitável em função do tema. Os nove jogadores deste ano que aqui mostramos até podem parecer poucos, mas é consensual que a Eredivisie (não foi disputada até ao fim, portanto até poderiam ser mais...) tem a tradição e o hábito de ser um espaço privilegiado para os jovens e um mercado bem apetecível.
David Carmo, do Braga, é o jovem estreante da I Liga com mais minutos. Lá fora, só Dest (Ajax), Reece James (Chelsea) e Bradaric (Lille) têm maior utilização
De tal forma que há vários jogadores que encaixariam no critério da idade (não terem ainda completado 21 anos), mas que já se estrearam na primeira divisão em épocas anteriores. Também seria o caso de, por exemplo, Francisco Trincão, cujas exibições com a camisola do Braga já convenceram o Barcelona, tal como as de João Félix na passada temporada levaram o Atlético de Madrid a pagar 126 milhões de euros ao Benfica, no final de uma época na qual os encarnados lançaram outros nomes.
Portanto, apesar de estarmos perante um registo difícil de replicar (foram sete em 2018/19), e para o qual contribuiu a ascensão da geração vencedora da Youth League pelo FC Porto, também não promete ser uma total anormalidade. Não só porque a aposta na formação tem sido, nos últimos anos, cada vez mais assumida pelos clubes (academias, projetos, equipas B, equipas sub-23, etc...) e aproveitada pelas seleções jovens, mas ainda porque a conjuntura atual assim convida. A pandemia vai passar fatura e os mais poderosos começam a estar atentos a mercados que antes eram explorados por clubes portugueses, que, por seu turno, protegem desde cedo os jovens com cláusulas de rescisão altas.