Angelino Ferreira: "Estratégia da SAD é claramente de destruição de valor e não de produção de riqueza"
Declarações de Angelino Ferreira no anúncio de André Villas-Boas dos nomes para presidente da Mesa da Assembleia Geral e para a presidência do Conselho Fiscal e Disciplinar
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Convite de André Villas-Boas: “Aceitei o convite para servir o FC Porto com honra e orgulho como sempre o fiz e, em particular, neste projeto que se quer inovador, transformador e transparente e estou certo que assim será. Não podia deixar de responder a este chamamento responsabilizando-me com o serviço de missão de servir o FC Porto, para em conjunto com os órgãos sociais e os associados do FC porto revertermos a grave situação financeira que o grupo FC Porto atravessa. Tenho participado em projetos desafiantes, estimuladores, ganhadores, protagonizados por instituições com relevo e importância na cidade do Porto como a Bolsa de Valores do Porto, o FC Porto e a Associação Empresarial Portugal. Três instituições com uma marca forte na vida da cidade do Porto. Esta candidatura, além de fazer a defesa dos valores enunciados, assegura ainda a defesa de outros princípios como seriedade, modernidade, rigor, paixão competência.”
Percurso profissional: “A minha vida profissional está muito associada à cidade do Porto, na promoção e desenvolvimento de instituições marcantes desta cidade. Depois de ser professor universitário, ingressei no mercado financeiro, concretamente na abertura da Bolsa de Valores do Porto, em 1980, e na criação de sociedades de corretagem, com principal destaque para a primeira sociedade financeira de de corretagem no país. No setor empresarial tive a oportunidade de participar na consolidação da AEP, na reestruturação e nas diversas empresas que integravam o grupo AEP. No setor associativo registo a passagem pela direção da FPF, como responsável administrativo e financeiro e a minha entrada na vida do FC Porto, em 1992, no conselho fiscal e, na direção do clube, em 1996. No FC Porto as primeira iniciativas foram a profissionalização da gestão do clube, em 1996, com a contratação do primeiro diretor geral do clube e da empresacionalização do clube com a criação de todas as sociedades que ainda hoje integram o grupo FC Porto. Tive também participação como impulsionador do grupo FC Porto desde a criação da sociedade desportiva até todas as demais sociedades do grupo. Tive ainda uma participação muito ativa como impulsionador dos grandes projetos do FC porto, seja o Estádio do Dragão, o Centro de Treinos e o museu.”
Situação da SAD em termos financeiros: “À data de hoje, qual é a situação do grupo FC Porto? Farei uma apreciação sintética e factual, baseando-me nos números que estão nos documentos oficiais. A sociedade desportiva tem um papel predominante em todo o grupo, vamos centrar-nos sobre a esfera da sociedade desportiva, porque os números variam da sociedade desportiva para o FC Porto clube e outras empresas. Estamos a cingir-nos ao relatório e contas da sociedade desportiva. Os números evidenciam-nos um passivo de 516 milhões de euros e 210 milhões de euros de capitais próprios negativos. Fala-se muito nos capitais próprios negativos. Para termos noção do que estamos a falar. O património de uma sociedade é financiado por capitais próprios e capitais alheios. Os próprios constituem a parte do capital que os acionistas aportam, colocam na sociedade. No caso do FC Porto, o FC Porto aportou 112 milhões de euros nos capitais próprios no arranque da sociedade. Se eles são negativos em 210 milhões de euros, isto quer dizer que todo o património da sociedade é financiado pelos credores, os tais 516 milhões de euros, que é o conjunto das dívidas. São os credores que estão a financiar a sociedade desportiva. Enquanto esta situação não for revertida, a SAD pertence aos credores. Os credores são os fornecedores, financiadores e outros credores, todo esse conjunto, aqueles que têm os 516 milhões de empréstimos, financiamentos na sociedade desportiva. Os acionistas, em particular o FC Porto, acionista maioritário, confiou 112 milhões de euros a esta gestão. E o que esta gestão nos entregou? Entregou os tais 210 milhões de euros de capitais próprios. É claramente uma estratégia de destruição de valor e não de produção de riqueza para os acionistas. Esta situação deve-nos preocupar e fazer estar atentos, porque a situação realmente é preocupante.”
Sobre o Conselho Fiscal e Disciplinar: “Já foram ditas as funções, estão bem claras nos estatutos, mas queria deixar uma ou outra nota complementar. Face a uma situação destas, esta vulnerabilidade da SAD, que tem claramente impacto no FC Porto clube exige a apresentação de uma estratégia nas linhas mestras que já foram anunciadas na apresentação da candidatura, são elas que terão de informar. O programa eleitoral irá determinar a elaboração de um plano estratégico para o FC Porto, para sabermos os caminhos e apontando um rumo que teremos de percorrer num futuro próximo. Responder à questão para onde vamos. Os desafios e dificuldades que nos esperam são muitas, mas estamos prontos e preparados para os enfrentar e comunicar em sessões como esta para os associados numa linguagem de verdade. Vai exigir aos membros dos órgãos sociais uma atuação ponderada, rigorosa, zelosa, sempre na defesa dos valores do FC Porto. Sabemos que o Conselho Fiscal e Disciplinar, para além dos estatutos, temos de ter em conta outras disposições legais (regulamentos e lei geral, código das sociedades desportivas…). A atuação do Conselho Fiscal e Disciplinar deverá ser norteada pela responsabilidade da ética legal no cumprimento de todas as disposições legais e pela responsabilidade ética empresarial. Há que ter em conta, além dos estatutos, a outra envolvente a nível da responsabilidade empresarial, que é fundamental. A nossa preocupação está centrada no futuro. Sem esquecer o passado, temos de nos virar para o futuro. É inquestionável que o vetor estratégico de excelência no futuro é a sustentabilidade financeira do FC Porto no curto, médio e longo prazo. Esta sustentabilidade financeira também deve acolher a componente da sustentabilidade ambiental. Hoje em dia é muito determinante na vida das sociedades, quer nas políticas de gestão quer ao nível das infraestruturas desportivas.”
Agradecimento final: “Gostaria de agradecer o convite que o André Villas-Boas me fez para participar neste projeto, porque revejo-me completamente nas linhas do projeto e estou convicto de que vamos criar equipa coesa em sintonia sempre ao serviço dos interesses do FC Porto.”