ENTREVISTA (Parte 3) - "Radiante", o avançado lembra a cultura do clube azul e branco e até o seu passado na formação para pedir calma nos festejos, mas lembrou que ainda falta o último ponto...
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A qualidade de jogo, dos jogadores e do trabalho feito no Olival são, para André Silva, os segredos que permitiram ao FC Porto ultrapassar o Benfica e estar nesta altura a apenas um ponto de carimbar o título.
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O FC Porto ainda não foi campeão, mas falta um ponto. Já se pode dar o título como adquirido?
-Desde que estou a competir como profissional, ainda para mais sendo criado no FC Porto, sempre me habituei a não dar por ganho algo que não está concluído. O FC Porto é assim. Neste caso é o campeonato, quando jogava lá em miúdo nem os golos festejava antes de a bola entrar. Falta um ponto e às vezes isso pode parecer muito, mas acredito que o FC Porto tem todas as capacidades e irá ser campeão, pelo rumo que as coisas levaram e pelo momento de agora. Mas acho que não se deve festejar, assim ainda se guarda mais energia para o fazer no momento certo.
Pelo que foi assistindo, considera que o FC Porto será um justo campeão se assim acontecer?
-Sim, acho um justo campeão se assim for. Estiveram melhores no total do campeonato, o FC Porto conseguiu ser mais estável. Isso deixa-me feliz, radiante, porque é o clube onde cresci e as vitórias deixam-me felizes.
Em que aspetos o FC Porto foi melhor do que o Benfica?
-Se o FC Porto está em primeiro é porque, no geral, foi mais forte em todos os aspetos, a nível de qualidade de jogo, de jogadores, do trabalho do staff, do clube em si. A posição onde está é sinal de trabalho e se ganha é por alguma razão. Depois da quarentena, o mais importante foi a estabilidade. Dentro e fora de campo, foi a equipa que conseguiu garantir mais estabilidade. O Benfica não demonstrou tanta estabilidade. Pelo menos não me pareceu.
"Depois da quarentena, o mais importante foi a estabilidade e o FC Porto foi mais estável"
No jogo em Tondela aconteceu uma coisa estranha, que foi o Marega, um jogador experiente, ter amuado por ser um mais jovem a marcar o penálti. Já foi um jovem em afirmação. Sentiu em algum momento esse tipo de dificuldades?
-Não quero comentar. São coisas que acontecem em todo o mundo. Em relação aos jovens... Na minha opinião, no futebol não há idades, sempre pensei isso, já há muitas demonstrações disso. É o trabalho que dá frutos e não a idade. Há épocas em que a um jogador mais experiente pode correr mal e a vontade de um mais jovem pode fazer a diferença e ser importante. A minha forma de pensar é que, no futebol, não há idades e isso também é das coisas mais bonitas no futebol.
Se o FC Porto for campeão, a quem mandará primeiro uma mensagem?
-As pessoas com quem mantenho mais contacto são o Alex Telles e o Otávio. Mais na palhaçada até. Tenho muitos amigos e gente que conheço muito bem no FC Porto, daí o meu contentamento quando as coisas correm bem. Se correr bem, mandarei os parabéns.
"PORTA FECHADA? PIOR É TREINAR SEM OBJETIVOS"
A Bundesliga foi o primeiro campeonato a recomeçar e, também, a ser concluído. André conta-nos o que sentiu nesta experiência e marca a diferença deste período para as pré-épocas de verão.
Como foi jogar sem público?
-Foi uma experiência muito má, não é nada agradável. O que nós, jogadores, sonhamos quando somos pequenos é jogar em estádios cheios, com muita gente a ver o futebol de cada um, com os adeptos a puxar pelas equipas. Aliás, continua a ser assim. Jogar sem público não é nada bom, espero ser possível encher os estádios rapidamente, dentro das normas de segurança, claro. Mas pior do que jogar com o estádio vazio é treinar sem objetivos e quero frisar bem isso. Por exemplo, naquele momento a meio da quarentena... Isso não foi nada bom. Temos de nos acostumar, mas nós, jogadores, estamos habituados a adaptar-nos às coisas o mais rapidamente possível.
E o resto do ambiente, foi muito diferente? Habituou-se facilmente?
-Custou no início, havia muitas regras e limitações. Eu já joguei em quatro ligas diferentes, quatro clubes, estou mais apto para me adaptar às mudanças rapidamente. Creio que consegui. Claro que foram condições especiais, mas acho que os jogadores acabaram por tornar as coisas fáceis. Na Alemanha, são muito organizados, torna as coisas fáceis.
"Acredito que, na quarentena, as equipas grandes são quem mais condições teve para trabalhar e continuar com o mesmo nível ou até aumentar a diferença para os outros"
As equipas grandes em Portugal queixaram-se dos efeitos de uma paragem tão prolongada. Concorda? Também sentiu o peso?
-Nunca reparei que se queixassem. Sigo as notícias de Portugal, relativas ao futebol e às outras coisas do país, mas não notei. Acredito que, na quarentena, as equipas grandes são quem mais condições teve para trabalhar e continuar com o mesmo nível ou até aumentar a diferença para os outros. Acho que até podem tirar vantagem, mas não posso falar de algo que não vivi de perto.
Na ótica de um jogador, foi mais difícil este regresso ou os primeiros jogos que se seguem a uma pré-época?
-É mais difícil enfrentar algo novo, que ninguém conta. Nenhum jogador teve este tipo de paragem, isto foi novidade para toda a gente. Foi diferente. A pré-época já sabemos como é, isto foi tudo novo. Os desafios novos são os que puxam mais por nós e as coisas acabam por não ser tão organizadas como na pré-época. Mas fisicamente foram tão puxados estes meses como a pré-época.