André Silva reencontra o Arouca, onde marcou 20 golos em duas épocas e O JOGO seguiu pistas para conhecer o endiabrado avançado. Saco de pancada virou paixão diária. Aos 25 anos, André Silva deu um grande salto de Arouca para Guimarães, mas no íntimo e nas suas confidências com gente próxima estão a Champions, um Mundial e, mais tarde, o Brasileirão.
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André Silva volta a reinar no ataque do Vitória, recuperando o potencial desmedido para fazer a diferença no castelo. Arrancou otimamente a temporada, definiu os dois primeiros triunfos da equipa na Liga, mas ainda no início de agosto seria travado por lesão, enfrentando um calvário de quase três meses sem competir. Entre muitos jogos falhados, perdeu a partida contra o Arouca, onde ganhou dimensão para ser reforço dos conquistadores, faturando 20 golos em duas campanhas.
Agora, sim, poderá reencontrar a antiga equipa, vivendo um momento transcendente, explicado pelas exibições e por um grande golo, bombardeado de fora da área, que contribuiu para o triunfo nos Açores, por 1-3. Para ele, são cinco triunfos em série, sempre a titular, apenas se desencontrou do Casa Pia, no único jogo que o Vitória não venceu neste ciclo.
Não é só um momento de excelência de André Silva, é um esforço concentrado para que esta seja uma época que o projete além-fronteiras. A aposta pelo Vitória baseou-se muito nessa visibilidade, relativamente a propostas rejeitadas do estrangeiro.
O calor que embala...
O móvel dianteiro, formado no Atlético Diadema, de São Paulo, habituou-se a Portugal, onde joga desde os 21 anos, passando estranhamente sem sucesso pelo Rio Ave, mesmo indicado por Miguel Cardoso, que o treinara na academia do Shakhtar, onde arriscou a aposta europeia, vingando à terceira tentativa, após ter sido visto por olheiros ucranianos na Taça São Paulo.
André resistiu às temperaturas negativas da Ucrânia, "frio e chuva deixaram de incomodar", confidencia aos mais próximos, e não se ressentiu do isolamento de Arouca, capitalizando imensas afinidades na terra. Marcado por Miguel Cardoso e, ainda, Armando Evangelista, seu conselheiro na partida para Guimarães, abrindo-lhe o apetite.
André encontrou já em Arouca a ocupação perfeita para regenerar forças e libertar a mente. É no boxe, atividade que mantém em Guimarães, além de um curso de inglês que frequenta com a mulher, que encontra equilíbrio. Treina de tarde apoiado por um "personal-trainer", dispensando adversário, lá está, acertando apenas as suas direitas e esquerdas num saco. O brasileiro resumiu à sua equipa de comunicação a experiência que já decorre há oito meses: "Foi algo que encontrei de um momento para o outro. Adaptei-me e gostei muito. Não imaginava tão positivo, ao nível dos reflexos, da preparação física como atleta e, sobretudo, pelo ganhos cognitivos."
Entre grandes golos e algumas pancadas, sem tiques de Mike Tyson, André Silva respira uma sensação de ter chegado em Guimarães a um grande pelas atmosferas arrepiantes e picantes do D. Afonso Henriques, potenciadoras de adrenalina extra. "A meio da semana sentimos a falta do jogo no estádio", reconheceu ao seu staff. De Moreno já garantiu no passado ter recebido todas as bases de fervor vitoriano, mas não deixa de querer mais, ambiciona fechar a época com dez a 15 golos , e chegar mais longe, sonhando jogar a Champions, atuar num Mundial e experimentar um dia o Brasileirão.
André André, a quem chama de baixinho, é o modelo em Portugal
Como avançado que se transformou ao longo dos anos, da liberdade e mobilidade a um jogo mais encostado aos flancos, André Silva já partilhou com os amigos ter grandes jogadores que ajudam na busca do detalhe e da utopia de uma perfeição. Neymar, Cristiano Ronaldo e Lewandowski formam esse pódio de influências. Mas ainda há André André, que admite ser junto do seu staff, o jogador predileto na Liga e uma espécie de modelo, até porque são muito próximos. O avançado do Vitória também conta os dias para reencontrar amigos de Arouca, como Tiago Esgaio, Basso, Pedro Moreira, David Simão, Ruiz ou Dabbagh, aplaudindo o sucesso do palestiniano.