<strong>ENTREVISTA (Parte 1) - </strong>O líder do Rio Ave analisa e antecipa o que poderá ser a próxima época, contudo lança um alerta ao Conselho de Arbitragem, exigindo ao VAR que utilize as ferramentas de que dispõe para assegurar a verdade.
Corpo do artigo
António da Silva Campos comanda desde 2008 um projeto ambicioso. Fez do clube vila-condense um emblema apetecível para jogadores e treinadores, sobretudo por proporcionar oportunidades para ambos alcançarem outros patamares.
Qual o balanço que faz da última temporada?
-Foi uma época atípica devido a vários fatores. Houve uma mudança de ciclo no início da época, em que vários jogadores terminaram contrato, e ainda uma onda de lesões que nos obrigou, em cima do fecho do mercado e depois em janeiro, a encontrar alternativas. Tivemos sempre uma média de sete jogadores lesionados. Em último lugar, temos de falar nas arbitragens e nalgumas situações que não deveriam ter acontecido. No momento certo e no local próprio, tentei demonstrar a minha insatisfação, mas alguns casos foram muito prejudiciais para o Rio Ave e até para a boa imagem do futebol nacional. Alguns jogos foram muito graves e deveremos estar nos primeiros lugares do ranking das equipas mais prejudicadas, com a certeza de que alguns jogos foram um escândalo nacional, como noticiou a comunicação social.
Qual a razão para que isso tivesse acontecido? Foi coincidência, ou havia uma estratégia montada?
-Não quero acreditar nisso. Acredito que os erros que aconteceram não foram propositados, mas às vezes fico na dúvida, uma vez que há lances tão evidentes e, numa altura em que existe uma ferramenta como o VAR, foram erros que não se entendem. O VAR tem de corrigir o árbitro e, nesta época, muitas vezes isso não aconteceu. Um bom árbitro não pode atirar a responsabilidade para o VAR e tem de assumi-la.
O presidente do Rio Ave elogia o VAR como ferramenta para assegurar a verdade desportiva, mas não pactua com quem sistematicamente erra e exige mão de ferro ao CA
Mas o que falta no VAR para que isso se resolva? Competência, seriedade?
-O VAR tem ferramentas para assegurar a verdade desportiva. Sei que o Conselho de Arbitragem [CA] está atento e tem feito um bom trabalho, e aproveito para dar os parabéns ao presidente do CA pelo esforço que tem feito para que a arbitragem tenha dignidade e seja mais eficaz, mas as pessoas têm de ser mais responsabilizadas pelos erros que cometem. As pessoas têm de sentir na pele quando cometem erros graves e têm de ser punidas, e não é apenas com um ou dois jogos. Quando se cometem erros muito graves, que alteram os resultados, e isso acontece de forma sistemática, essas pessoas não podem continuar.
Quando pediu as punições, qual o "feedback" do CA?
-Quando um árbitro ou um VAR são punidos, isso já mostra que o CA está atento, mas às vezes essas punições não são suficientes e têm de ir mais além. Quando o VAR erra uma primeira vez, aceitamos, mas quando erra duas e três vezes, começamos a pensar de maneira diferente. Sei que esta é uma ferramenta nova e que estão a tentar corrigir os erros, mas espero que na próxima época não aconteçam muitos dos erros que aconteceram nesta. Mesmo tendo sido muito prejudicados em várias jornadas, como balanço da época podemos dizer que o sétimo lugar foi muito positivo. Os nossos sócios devem ficar orgulhosos, até porque o Rio Ave pratica bom futebol, é um clube de I Liga e é respeitado no futebol português.
Com tantos acontecimentos, chegou a temer que o Rio Ave descesse?
-Não temi, porque sempre acreditei neste grupo de trabalho, mas não vou ser hipócrita, porque quando faltavam sete jornadas e tínhamos pela frente um calendário muito complicado, se as coisas não se alterassem e nos aproximássemos da linha descida, iria ser muito difícil. Pelo trabalho que fizemos, iria ser inglório, até porque o Rio Ave já não luta pela permanência e isso nunca nos passou pela cabeça. Mas tivemos um período difícil.
BENFICA LEVOU MAIS TRÊS ESPERANÇAS
A nova equipa de sub-23 lutou pelo título até à última jornada, mas o objetivo passa por fornecer novos talentos ao plantel profissional, situação algo complexa face à gula, leia-se condições financeiras, dos tubarões.
Tem agora uma equipa de sub-23. Vai recorrer a esses jogadores para reforçar a equipa ou apostar em empréstimos dos grandes?
-Claro que não gostava de ter jogadores emprestados, porque estamos a valorizar ativos de outros, mas temos de ver a parte desportiva, e os atletas que chegam nessas condições têm de acrescentar. Este foi o primeiro ano dos sub-23 e recuperámos jogadores que já tinham passado no Rio Ave. O Costinha e o Vitó jogaram pelos sub-23 e vão fazer parte do plantel, além de que já tínhamos o Carlos, o que prova que já havia um trabalho de base. Mas a maioria dos jogadores vão continuar nos sub-23 para ganhar maturidade, para depois chegaram ao plantel principal.
"Este ano vão sair três jogadores do Rio Ave para o Benfica e não temos capacidade de os segurar"
O caso do Benfica neste ano prova ser possível conciliar a aposta nos jovens e o sucesso desportivo?
-Penso que é um exemplo a nível nacional e internacional o que se passa com a formação do Benfica. O Benfica tem uma academia que faz uma procura de talentos em idade muito jovem e qualquer jogador que desponte, o Benfica chega lá. Este ano vão sair três jogadores do Rio Ave para o Benfica e não temos capacidade de os segurar, até porque o nome do Benfica, por si só, cativa os jovens e, com exemplos como o João Félix, todos querem fazer o mesmo percurso. As condições financeiras que oferecem a jogadores menores criam cada vez mais dificuldades a clubes como o Rio Ave.