Antigo médio holandês, adjunto dos sub-19 do Ajax, considera que as formações se equiparam e há parecenças na aposta em jovens, mas garante que ninguém ficou feliz por ter os encarnados em sorte
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Ronald de Boer tinha talento puro e trata as palavras como tocava na bola: direto ao objetivo. A O JOGO reporta as dificuldades que o Benfica poderá sentir e deixa a dica: mal o sinal de partida para a corrida seja dado, há que arrancar com personalidade para a batalha de Amesterdão de terça-feira. "Não consigo identificar reais fraquezas no Ajax. Há oito ou nove jogadores que estão sempre no onze, a equipa foi ganhando automatismos e talvez haja pouca ligação com o avançado [ver coluna]. É uma equipa equilibrada. O maior problema tem sido acordar. A equipa perde algum foco e não entra tão bem em campo. Lembro-me do jogo com o Bayern, PSV e AEK."
Pois bem, feito o trabalho de casa, o Ajax só perdeu uma vez (PSV por 3-0), em tudo semelhante ao rival português. Apesar de 12 dos 45 golos terem sido marcados até aos 20 minutos, o dado mais relevante é que a turma de Amesterdão tem dificuldade nas entradas em jogos de maior calibre. Sofreu primeiro com o Bayern e só desbloqueou na segunda parte com o AEK, além da referida derrota com o PSV. Mais, nos três jogos que começou a perder, nunca ganhou.
Balança sem favorito, portanto. "O Benfica é tão bom quanto o Ajax. Será um jogo muito interessante e ainda por cima o registo contra equipas portuguesas é mau [em 15 duelos, ganharam seis e perderam sete]. É difícil dizer quem é o favorito. O Benfica é sempre complicado, tem jogadores técnicos", afiança o analista de futebol e assistente de Heitinga, outro ex-internacional, no comando dos sub-19 do clube.
Ronald jogou dez épocas e meia no Ajax (e duas no Barcelona) e esteve com o irmão Frank de 2010 a 2016 no comando técnico da equipa sénior. Foi a primeira vez que um técnico foi tetracampeão (2011 a 2014). As pérolas foram saindo e a equipa perdeu qualidade. Sem serem campeões há quatro anos, Ten Hag, novo técnico, promoveu alterações na filosofia. E há parecenças com o Benfica. "O Ajax fez uma transição. Foram vendendo e agora foram buscar jogadores mais experientes, como Blind [Man. United] e Tadic [Southampton]. Têm uma equipa muito equilibrada, com talento, e sabem que podem sempre contar com a academia. Os jovens estão a ficar mais tempo no clube e desenvolvem aqui a maturidade. O Benfica também está a apostar mais na formação, veja-se o central [Rúben Dias] e o novo médio [Gedson]", explica o holandês, perdendo-se em elogios a vários talentos da formação: "O Blind dá muita estabilidade, seja a central ou a médio, o Tagliafico tem muita qualidade como defesa-esquerdo. Na frente, o Tadic, o Ziyech... Há aqui muitos jogadores que podem ir para o Barcelona. O De Ligt, principalmente. Tem 19 anos, já joga desde os 17 na equipa A e é capitão. É incrível o padrão que já apresenta com a idade que tem. Há muita pressão nele, mas nada o afeta. Parece que tem trinta anos. E na baliza, o Onana parece o Neuer, não faz defesas para a fotografia. Fartou-se de errar há dois anos, mas cresceu muito."
Em Amesterdão, só o Heracles travou o Ajax. De Boer não vê grandes diferenças entre as exibições em casa e fora, dizendo que no reduto tem "mais iniciativa", mas que "o modelo de jogo e a intenção de controlar são as mesmas". O Ajax partilha a liderança com o Bayern, arrancado o empate em Munique. Surpreendente, sim, mas reflexo de qualidade, finaliza o antigo médio, vincando a crença do mais titulado da Holanda: "Foi um resultado inesperado. O 1-1 até poderia ser bom resultado, mas foi injusto. Jogámos melhor. A equipa subiu de nível e acredita cada vez mais no que faz."
Aviso: De Jong é "excitante pelo drible que apresenta"
Frenkie de Jong tem 21 anos e, tal como De Ligt, estreou-se há duas épocas no Ajax e é seguido pelo Barcelona. O diretor Marc Overmars negou a saída imediata do promissor médio, que até era central. "De Jong tem de ser mais influente com golos e assistências, mas todos vão ao estádio para o ver jogar. É o mais excitante médio na Europa pelo drible que apresenta", explica Ronald de Boer, passando à comparação direta: "Temos em comum não ter medo de ter a bola, mas ele é mais rápido do que eu. Tem controlo e ataca logo o espaço interior."