A análise de quatro jogadores revela uma fraqueza: Vitória tem de castigar costas do Ajax
Qualidade individual e modelo de jogo baseado na posse são matrizes abordadas por Miguel Santos (guardião), Mica Pinto (defesa), Jordan van der Gaag (médio) e Bjorn Johnsen (avançado).
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Ájax foi um dos heróis de Troia na Grécia Antiga e dá nome ao adversário do Benfica na Liga dos Campeões. Juntemos à equação Aquiles, parceiro cuja única fraqueza estava no calcanhar. O JOGO reuniu especialistas para analisar as fraquezas do Ajax e o clube mais titulado na Holanda, forte com a bola nos pés, sofre com a profundidade defensiva. "Os guarda-redes holandeses saem pouco da baliza, é um fator a explorar. Têm uma organização defensiva muito forte, mas há muito espaço nas costas", diz Miguel Santos, guarda-redes do Astra, na Roménia, e que cumpriu oito épocas no Benfica antes de passar pelo Fortuna Sittard, da Holanda.
Sobram virtudes. Mica Pinto, lateral-esquerdo do Fortuna, viu de perto os lanceiros na derrota por 2-0 de setembro. "No campeonato, é de longe a melhor equipa. Pouparam-se para o Bayern. Não estivemos mal, mas têm muita qualidade individual. Jogámos em casa. Se fosse no campo deles, sentir-se-ia mais pressão, mas o Benfica está habituado", reflete, passando à descrição do modo de atuar: "O Ajax sai sempre a jogar. Tadic e Ziyech são extremos só no papel, aparecem no meio-campo, deixando subir os laterais. Vêm buscar atrás e rodam muito rápido o jogo. A defesa é muito boa, os centrais jovens jogam como se tivessem 30 anos, mas Tagliafico [lateral-esquerdo] é uma referência. Mas poderiam estar melhor na liga." A defesa subida reforça a ideia de espaço nas costas e Mazraoui, que ocupa o corredor direito, não é destacado.
Passando ao meio-campo, a bola é de Jordan van der Gaag, formado no Benfica. "Deve ser das melhores equipas de sempre do Ajax, mas o Benfica pode ir lá ganhar", confia o jovem cedido pelo NAC Breda ao Helmond Sport, antes das parecenças: "O Benfica e o Ajax são semelhantes na formação, de quererem que os jogadores cheguem lá acima." Miguel Santos concorda em parte: "Ainda não está ao nível do Ajax. Fico feliz pela mudança de política. Pena ter apanhado um treinador com ideias diferentes [Jorge Jesus]. A experiência pode ser determinante e o Benfica sai por cima."
Palavra ainda a Bjorn Johnsen, dianteiro norueguês do AZ Alkmaar e ex-atleta de Louletano e Atlético. "Perdemos 5-0 contra eles. Vieram motivados de Munique. Envolvem oito jogadores no processo ofensivo", referiu, destacando Ziyech, Huntelaar e Dolberg. Mas, sublinha, "o Benfica tem noção da importância de fazer um bom resultado".
Inquérito
Pelo conhecimento que tem do estilo de jogo e da qualidade individual da equipa do Ajax, como antevê o jogo de amanhã dos holandeses frente ao Benfica?
Miguel Santos, ex-guardião do Fortuna Sittard
"A experiência do Benfica pode ser determinante"
"Na Holanda, há uma diferença enorme entre as equipas grandes e as outras - tal como acontece em Portugal. O Ajax é o Benfica da Holanda, tem poder monetário e infraestruturas do melhor que pode haver. Para se perceber melhor, o orçamento da equipa B do Ajax anda entre dez e 15 milhões. O principal ponto de ligação é a aposta na juventude. Portugal e o Benfica estão a mudar, mas ainda não ao nível do Ajax. A experiência pode ser determinante para o Benfica frente a um Ajax que tem uma mistura de talentos interessante. Avaliando o seu guarda-redes, diria que o ponto mais forte de Onana é o jogo ofensivo. É quase um jogador de campo, ajuda na construção, de pé esquerdo ou direito, dá confiança a quem está com ele. É o guarda-redes titular há três anos e já sabe o que é jogar este tipo de partidas, está habituado."
Jordan van der Gaag, médio do NAC Breda
"Esta é a melhor equipa do Ajax em muitos anos"
"O Benfica e o Ajax são semelhantes na formação, de querer que os jogadores cheguem lá acima. Veja-se os casos de De Ligt, que tem a minha idade e é capitão, e De Jong, jogadores que até o Barcelona fala deles. Acredito que o Benfica pode ganhar, mas esta é a melhor equipa do Ajax em muitos anos e tem demonstrado isso na Liga dos Campeões. Blind joga a central ou a médio e não sai muito da posição. Tem bom passe e técnica, mas não é de ruturas. Admiro muito De Jong, tem muita técnica, já sabe o que vai fazer à bola quando a recebe, quando tem a bola, acelera e ninguém o apanha, deve ser o melhor jogador na Holanda; Van der Beek, a 8 ou 10, joga muito em rutura, faz muitos golos porque surge muito em zona de finalização. Schone funciona a 6 com duplo pivô e joga simples. Ziyech pode começar no lado direito, mas é ele a decidir cada lance do Ajax."
Mica Pinto, lateral-esquerdo do Fortuna Sittard
Equipa de classe mundial que sai sempre a jogar"
"O Ajax é uma equipa de classe mundial, que sai sempre a jogar. Tadic e Ziyech aparecem no meio-campo, deixam subir os laterais. Vêm buscar atrás e rodam muito rápido o jogo. O Ajax tem grandes individualidades. Tagliafico é melhor que Grimaldo, que considero um bom defesa, mas se tivesse de escolher em Portugal, diria que Alex Telles é o melhor lateral-esquerdo. Tagliafico é dinâmico, seguro, inteligente, agressivo, é uma referência para mim e vai chegar a palcos maiores. Têm centrais muito jovens, tal como o Benfica, mas o defesa-direito [Mazraoui] não tem o mesmo nível, apesar de ser rápido. Também destaco Tadic, que fez mais de 200 jogos na Premier League, e Ziyech. Os dois centrais jogam como se tivessem 30 anos. O guarda-redes é top, esteve no Barcelona, onde já tinha começado a jogar, e é forte entre os postes, sai bem a cruzamentos e a jogar."
Bjorn Johnsen, avançado do AZ Alkmaar
"É muito difícil jogar no Johan Cruyff Arena, um estádio fechado, o que torna o ambiente mais forte. O Ajax é uma equipa que desenha o seu jogo a partir de trás e, ao longo do processo ofensivo, envolve oito jogadores, com os dois laterais subidos. O guarda-redes é muito bom com os pés. De Jong e De Ligt são jogadores que o Barcelona quer, mas há mais: Tadic é craque, Ziyech tem um pé esquerdo tremendo, é um Talisca mais rápido, que já considero um jogador de outro mundo. É um daqueles jogadores que marcam quando quiser, seja à direita ou à esquerda. Huntelaar não corre muito, mas é muito inteligente, é um dos melhores do mundo a entrar na área e marcar. Dolberg é mais técnico, mas marca muitos golos. O brasileiro na esquerda, Neres, é muito rápido. Tadic é menos rápido, mas tem muita experiência e carácter - é o melhor jogador do Ajax."