REPORTAGEM - Miguel Pedro idealiza final com potente moldura sonora, tipo a Cavalgada das Valquírias de Wagner a cobrir um triunfo. Entrega-se ao repertório dos Mão Morta para ilustrar uma conquista da Liga.
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Fundador dos Mão Morta em 1984, ano em que o Braga fazia 4º lugar no Campeonato com Dito, Artur Correia, João Cardoso, Carvalhal ou Nelito, uma equipa treinada por Quinito, Miguel Pedro tem a sua vida dividida entre a música e o direito, nunca esquecendo a paixão pelo Braga. Multi-instrumentista com apego maior à sua bateria, Miguel Pedro conhece na perfeição os caminhos de qualquer composição, estuda ambientes sonoros e arranjos adequados ao contexto.
Para ele este Benfica-Braga merece mesmo todas as metáforas musicais ou subtis parábolas, que envolvam o artista ou a orquestra. Dar música é uma expressão com fácil transposição para o mundo da bola, insinuando domínio conjugado com troça, uma consciência de superioridade, uma aura de artista e arte em palco: "Eu acho que o Braga pode não só dar música como trocar as notas ao Benfica. Tem tudo para isso, a pressão está toda do outro lado", apressa-se a justificar, antecipando o conteúdo do espetáculo em cartaz.
"O futebol não é tanto de solistas, por muito que se faça a propaganda do melhor em campo. É, sim, uma orquestra e tem um maestro. A orquestra do Braga tem, nesta altura, as peças muito melhor ensaiadas, cada um dos músicos sabe o que fazer e quando fazer", realça, reclamando o seu herói: "Para nota 10 escolho o Matheus. Tem dado muitos pontos, será o elemento chave. Basta-lhe um dia à Matheus. Se ele desequilibra e o resto da orquestra cumpre as tarefas, vamos sair a sorrir", confessa, desenhando uma harmoniosa paisagem sonora em redor dos minhotos, bem contrastante com o vislumbre do caos.
"A orquestra do Benfica tem tido desafinações que podem custar lugar em palco. E se a orquestra se desafina perante o seu público, a reação pode ser cáustica ou agressiva. O Braga pode desenvolver uma performance mais interessante, afinada e até alternativa", sustenta, aceitando o repto de caracterizar uma saída vitoriosa dos guerreiros de Lisboa.
"Que saia ao som da banda sonora do Apocalypse Now. Era perfeito, sintomático de algo épico", invoca, não negando um salto ao repertório dos Mão Morta, pegando forte na bateria para tocar "E Se Depois" numa hipotética conquista da Liga, por todo o efeito catártico adjacente. Para já, Miguel Pedro, acredita que a equipa de Artur Jorge tem rock"n"roll nas veias e garras para atacar o rival.
"Temos bons agitadores ou agentes subversivos como o Iuri, Horta e o Ruiz. Temos esse equilíbrio com a pacatez do Al Musrati. É por isso que o Braga é a única orquestra capaz de tocar , hoje, música contemporânea."
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O que ouvirá Al Musrati?
Miguel Pedro falou do pacato Al Musrati (cuja utilização hoje não é garantida) e teve de entrar na especulação sobre o tipo de músicas que podem caber na lista predileta e inspirar o médio líbio, de diálogos curtos e habitualmente munido de auscultadores, na sua brutal influência no jogo da equipa: "Provavelmente escuta música árabe. Não sou muito entendido, mas é variada. Pode ser de festa ou remeter para maior religiosidade. Eu olho para o Al Musrati e vejo um tipo calmo, mais introspetivo. Acho que andará por esta última versão", admite.