"A minha vontade de treinar o FC Porto era grande, como também era a do presidente"
A história de Jesualdo Ferreira como treinador do FC Porto cruza-se também com uma parte da história de sucesso de Pinto da Costa. Uma boa relação de respeito e amizade que dura até hoje.
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Jesualdo Ferreira tem uma história de sucesso e de recordes no FC Porto - que marcou a terceira década da presidência de Pinto da Costa - que não é para todos.
Jesualdo Ferreira era uma ideia antiga e o convite em 2006 deu início a uma ligação repleta de êxitos
Ganhou por três vezes o campeonato e tinha as suas equipas a jogar, como ainda hoje, agora no Zamalek, do Egito, com muito encanto e uma acentuada vocação ofensiva. Foi o primeiro treinador a ficar quatro anos seguidos no banco dos dragões numa ligação que começou m 2006. Mas não foi fácil... O professor recorda.
"Tinha assinado contrato com o Boavista havia um mês. Já lá estava a trabalhar. Ia numa viagem de carro e o telefone tocou. Era o presidente. "Professor, quer vir treinar o Porto?" E eu perguntei-lhe: "Quando?" Ele respondeu: "Já!"".
Jesualdo Ferreira explicou a Pinto da Costa que no imediato era muito difícil, porque estava a trabalhar com o Boavista. "O presidente insistiu e disse que as coisas se resolveriam dentro da legalidade e no bom entendimento, sem problemas. O segundo de hesitação que tive estava relacionado obviamente com o compromisso que tinha acabado de assumir, mas a minha vontade de treinar o FC Porto era grande, como também era grande a vontade do presidente em ter-me a treinar a equipa."
Foi o professor quem acabou por falar com o Boavista. "Esse foi o primeiro sinal de que Pinto da Costa é um grande líder. Acho que me fez uma espécie de teste, deixou que fosse eu a tratar do assunto, a assumir junto do Boavista a minha vontade. O resto resolveu-se dentro do que era desejável e sem problemas, tal como ele tinha dito que aconteceria", explica.
Começou aí uma ligação que duraria até 2010, com poucas visitas ao balneário. "Em quatro anos, raramente o sr. Pinto da Costa foi ao balneário da equipa. Admito que tenha ido uma vez ou outra porque às vezes é necessário e importante. O que ele fazia imensas vezes era ir ao meu gabinete conversar antes dos treinos. Às vezes entrava lá e punha-se a abanar os braços de forma exagerada e com piada, ao seu estilo, para afastar o fumo do cigarro, mas nunca abdiquei de fumar no meu gabinete, porque era a minha casa e em minha casa sempre fumei. Mas nunca teve intervenção na área técnica. Tinha confiança em mim e um grande respeito, isso também faz dele um grande líder", assinala.
Aliás, o professor recorda o que considera um dos grandes méritos de Pinto da Costa. "No FC Porto, o presidente escolhe o treinador e depois, com o treinador, escolhe o adjunto. E os três, depois, escolhem a restante estrutura técnica. Esta é a base do sucesso, sempre resultou dessa forma e foi sempre assim que fez. É realmente um grande líder".
Conta-se que ter Jesualdo a trabalhar no FC Porto era um desejo antigo de Pinto da Costa. Jesualdo faz uma revelação: "Quando eu estava à frente das seleções jovens, no início dos anos 80, tinha um jogador que jogava no Oliveira do Douro e que era conhecido como Silva Pinto. Mais tarde, passou a ser o João Pinto, que se tornou um grande capitão do FC Porto. Ia acompanhar os jogos dos juniores do FC Porto e conheci Pinto da Costa nas Antas, convivi várias vezes com ele. Em 1984, houve a possibilidade de ir para o FC Porto, como adjunto do Artur Jorge, mas por essa altura recebi um convite para treinar a Académica e optei por abraçar esse projeto, longe de sabe que um dia iria parar ao FC Porto."
Ainda tirou dez cigarros por dia ao professor, mas não o vício
Fumar foi um vício que acompanhou o professor, até 2011, quando estava ao serviço do Panathinaikos, na Grécia, e enfrentou um grave problema de saúde. Pinto da Costa tentou que Jesualdo deixasse o tabaco.
"Logo nos primeiros tempos no FC Porto, ele disse-me: "Professor, você tem de deixar esse vício, se não não vai durar muitos anos." E insistiu comigo várias vezes. Até que um dia lhe prometi deixar de fumar durante os jogos".
Naquela altura ainda era permitido fumar no banco durante os jogos - a UEFA acabaria com isso pouco depois - e o professor "queimava" muito... "Disse-lhe que ia ser muito difícil, mas tentei corresponder a essa promessa e deixei de fumar durante os jogos. Passei a fumar antes, depois e nos intervalos. De outra forma, era complicado. O presidente tirou-me dez cigarros por dia"... [que era o que fumava, em média, por jogo].